Nova economia pode influenciar relações internacionais de Cuba
Segundo o jornalista coordenador do Comitê pela Libertação dos Cinco Patriotas Cubanos, Max Altman, as mudanças econômicas estabelecidas pelo Projeto de Linhas Gerais da Política Econômica e Social e discutidas entre os dias 16 e 19 de abril pelo 6º Congresso do Partido Comunista Cubano podem influenciar as relações internacionais da ilha. De acordo com Altman, as medidas demandarão “fortes investimentos externos” a fim de acelerar o processo de desenvolvimento do país.
Questionado se as mudanças na política econômica podem alterar as relações de Cuba com os Estados Unidos, o jornalista afirma que “vai depender de Washington”. “Se o bloqueio for levantado, as relações tenderão a se normalizar”, observa. “Se a proibição de cidadãos comuns norte-americanos de viajar a Cuba for suspensa, por exemplo, haverá um enorme fluxo turístico para a ilha”, sinaliza.
Acompanhe abaixo a íntegra da entrevista.
Vermelho: Em sua opinião, as mudanças econômicas que Cuba irá adotar influenciarão na política do país? De que maneira?
Max Altman: O presidente Raul Castro vem sustentando que nenhum cidadão que recebe do Estado gratuitamente ou altamente subsidiado serviços como saúde, educação, esporte, lazer, alimentação, transporte pode deixar de se dedicar a uma tarefa produtiva. Sem igualitarismo, ou seja, o trabalhador passará a receber segundo sua capacidade, em cada unidade empresarial. A par disso, há um plano em andamento de deslocar de 500 mil a um milhão de trabalhadores, de certa forma ociosos na folha de pagamento do Estado para uma das 179 ocupações elencadas de iniciativa privada. O impacto dessas medidas levará a um sistema de maior justiça social com desdobramentos na política interna de Cuba.
Vermelho: Caso o objetivo da mudança seja alcançado quais serão os desafios para manter esse novo modelo econômico?
Max Altman: Creio que o principal desafio é aumentar gradativa e firmemente o poder aquisitivo do peso cubano. Incrementada a produtividade e colocada à disposição da população uma maior diversidade de produtos e em quantidade suficiente, isto irá alimentar, por si só, o processo econômico. Porém, é preciso também modernizar todo o parque industrial e o sistema comercial de distribuição e o sistema de gestão. Creio que serão necessários nessa etapa fortes investimentos externos a fim de acelerar o processo e recuperar o tempo perdido.
Vermelho: Em sua opinião, em termos sociais e econômicos, Cuba está em vias de se tornar uma nova China?
Max Altman: Longe disso. O desenho do Projeto de Linhas Gerais da Política Econômica e Social colocada para apreciação da população cubana e a ser aprovado pelo 6º Congresso do Partido Comunista de Cuba é rigorosamente peculiar. De resto, como comparar um país com a extensão territorial, com os recursos naturais e população da China com a pequena Cuba?!
Vermelho: Como essa nova política econômica pretende trabalhar as relações bilaterais como os países parceiros?
Max Altman: Acredito que o mais importante é garantir a aplicação integral da política comercial, fiscal, creditícia, tributária, trabalhista e outras que assegurem bons resultados no comércio exterior cubano em matéria de desenvolvimento das exportações e a efetiva substituição de importações, no tempo o mais breve possível. Mas ao mesmo tempo é absolutamente necessário trabalhar com o máximo rigor para aumentar a credibilidade do país em suas relações econômicas internacionais, por meio do estrito cumprimento dos compromissos contraídos.
Vermelho: Como o país pretende lidar com a política externa norte-americana que segue estagnada em relação a Cuba e esse momento de significativas mudanças internas?
Max Altman: Insistir com a Casa Branca em negociações diretas em pé de igualdade, discutindo todos os temas, sem exceção, sem arranhar a soberania e a independência de Cuba nem a auto-determinação do povo cubano. É o que o governo cubano vem reiterando.
Vermelho: A relação Cuba-EUA pode ser influenciada a médio ou longo prazo?
Max Altman: Vai depender de Washington. As mudanças não são em direção ao sistema capitalista de livre mercado e sim destinam-se a reforçar, arejar e impulsionar o socialismo em Cuba. Contudo se o bloqueio de mais de meio século for levantado, as relações tenderão a se normalizar. Por exemplo, se a proibição de cidadãos comuns norte-americanos de viajar a Cuba for suspensa, haverá um enorme fluxo turístico para a Ilha.
Vermelho: Como foi a receptividade da população e das comunidades cubanas no momento anterior ao congresso?
Max Altman: As notícias são de que houve uma intensa participação dos trabalhadores, dos profissionais das mais diversas áreas, das organizações de mulheres, estudantis, juvenis. Raul Castro informou ao ex-presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter que cerca de dois terços dos parágrafos do projeto foram emendados pelas contribuições feitas pelo povo em geral e suas organizações sociais.
Vermelho: Esses setores estão preparados para essa transformação laboral?
Max Altman: É um processo que, em minha opinião, demandará tempo. O longo período especial que se seguiu ao colapso da União Soviética e dos países socialistas do Leste europeu criou raízes. As principais dificuldades foram vencidas, mas os vícios persistiram.
Vermelho: No momento em que se completam 50 anos da vitória na Batalha de Girón, como falar de capacidade de resistência do socialismo em meio a um período de mudanças?
Max Altman: Cinquenta e dois anos do Triunfo da Revolução. 50 anos da vitória em Praia Girón, meio século de ameaças, agressões, atos terroristas, assassinatos, tentativas de homicídio de dirigentes sofridos a partir do império do Norte, a par da dignidade e da história de um povo valente, falam por si só da capacidade de resistência do socialismo cubano.
Vermelho: Podemos considerar esse conjunto de mudanças como uma nova etapa do socialismo cubano? Quais as expectativas?
Max Altman: Sem dúvida. Os acontecimentos dos próximos anos trarão maior clareza a essa etapa que se inicia. Os progressistas do mundo inteiro – comunistas, socialistas, forças populares - torcem do fundo do coração e da mente para que os cubanos tenham pleno êxito nessa sua nova jornada.
Segundo o jornalista coordenador do Comitê pela Libertação dos Cinco Patriotas Cubanos, Max Altman, as mudanças econômicas estabelecidas pelo Projeto de Linhas Gerais da Política Econômica e Social e discutidas entre os dias 16 e 19 de abril pelo 6º Congresso do Partido Comunista Cubano podem influenciar as relações internacionais da ilha. De acordo com Altman, as medidas demandarão “fortes investimentos externos” a fim de acelerar o processo de desenvolvimento do país.
Por Fabíola Perez
Sobre o impacto nas relações de Cuba com outros países, o jornalista acredita que é “absolutamente necessário trabalhar com o máximo rigor para aumentar a credibilidade do país em suas relações econômicas internacionais”. Altman comenta ainda que após o colapso da União Soviética e dos países socialistas do Leste Europeu as principais dificuldades foram vencidas, porém alguns vícios persistem.
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- Raúl Castro propõe limite de dez anos para mandatos em Cuba
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Questionado se as mudanças na política econômica podem alterar as relações de Cuba com os Estados Unidos, o jornalista afirma que “vai depender de Washington”. “Se o bloqueio for levantado, as relações tenderão a se normalizar”, observa. “Se a proibição de cidadãos comuns norte-americanos de viajar a Cuba for suspensa, por exemplo, haverá um enorme fluxo turístico para a ilha”, sinaliza.
Acompanhe abaixo a íntegra da entrevista.
Vermelho: Em sua opinião, as mudanças econômicas que Cuba irá adotar influenciarão na política do país? De que maneira?
Max Altman: O presidente Raul Castro vem sustentando que nenhum cidadão que recebe do Estado gratuitamente ou altamente subsidiado serviços como saúde, educação, esporte, lazer, alimentação, transporte pode deixar de se dedicar a uma tarefa produtiva. Sem igualitarismo, ou seja, o trabalhador passará a receber segundo sua capacidade, em cada unidade empresarial. A par disso, há um plano em andamento de deslocar de 500 mil a um milhão de trabalhadores, de certa forma ociosos na folha de pagamento do Estado para uma das 179 ocupações elencadas de iniciativa privada. O impacto dessas medidas levará a um sistema de maior justiça social com desdobramentos na política interna de Cuba.
Vermelho: Caso o objetivo da mudança seja alcançado quais serão os desafios para manter esse novo modelo econômico?
Max Altman: Creio que o principal desafio é aumentar gradativa e firmemente o poder aquisitivo do peso cubano. Incrementada a produtividade e colocada à disposição da população uma maior diversidade de produtos e em quantidade suficiente, isto irá alimentar, por si só, o processo econômico. Porém, é preciso também modernizar todo o parque industrial e o sistema comercial de distribuição e o sistema de gestão. Creio que serão necessários nessa etapa fortes investimentos externos a fim de acelerar o processo e recuperar o tempo perdido.
Vermelho: Em sua opinião, em termos sociais e econômicos, Cuba está em vias de se tornar uma nova China?
Max Altman: Longe disso. O desenho do Projeto de Linhas Gerais da Política Econômica e Social colocada para apreciação da população cubana e a ser aprovado pelo 6º Congresso do Partido Comunista de Cuba é rigorosamente peculiar. De resto, como comparar um país com a extensão territorial, com os recursos naturais e população da China com a pequena Cuba?!
Vermelho: Como essa nova política econômica pretende trabalhar as relações bilaterais como os países parceiros?
Max Altman: Acredito que o mais importante é garantir a aplicação integral da política comercial, fiscal, creditícia, tributária, trabalhista e outras que assegurem bons resultados no comércio exterior cubano em matéria de desenvolvimento das exportações e a efetiva substituição de importações, no tempo o mais breve possível. Mas ao mesmo tempo é absolutamente necessário trabalhar com o máximo rigor para aumentar a credibilidade do país em suas relações econômicas internacionais, por meio do estrito cumprimento dos compromissos contraídos.
Vermelho: Como o país pretende lidar com a política externa norte-americana que segue estagnada em relação a Cuba e esse momento de significativas mudanças internas?
Max Altman: Insistir com a Casa Branca em negociações diretas em pé de igualdade, discutindo todos os temas, sem exceção, sem arranhar a soberania e a independência de Cuba nem a auto-determinação do povo cubano. É o que o governo cubano vem reiterando.
Vermelho: A relação Cuba-EUA pode ser influenciada a médio ou longo prazo?
Max Altman: Vai depender de Washington. As mudanças não são em direção ao sistema capitalista de livre mercado e sim destinam-se a reforçar, arejar e impulsionar o socialismo em Cuba. Contudo se o bloqueio de mais de meio século for levantado, as relações tenderão a se normalizar. Por exemplo, se a proibição de cidadãos comuns norte-americanos de viajar a Cuba for suspensa, haverá um enorme fluxo turístico para a Ilha.
Vermelho: Como foi a receptividade da população e das comunidades cubanas no momento anterior ao congresso?
Max Altman: As notícias são de que houve uma intensa participação dos trabalhadores, dos profissionais das mais diversas áreas, das organizações de mulheres, estudantis, juvenis. Raul Castro informou ao ex-presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter que cerca de dois terços dos parágrafos do projeto foram emendados pelas contribuições feitas pelo povo em geral e suas organizações sociais.
Vermelho: Esses setores estão preparados para essa transformação laboral?
Max Altman: É um processo que, em minha opinião, demandará tempo. O longo período especial que se seguiu ao colapso da União Soviética e dos países socialistas do Leste europeu criou raízes. As principais dificuldades foram vencidas, mas os vícios persistiram.
Vermelho: No momento em que se completam 50 anos da vitória na Batalha de Girón, como falar de capacidade de resistência do socialismo em meio a um período de mudanças?
Max Altman: Cinquenta e dois anos do Triunfo da Revolução. 50 anos da vitória em Praia Girón, meio século de ameaças, agressões, atos terroristas, assassinatos, tentativas de homicídio de dirigentes sofridos a partir do império do Norte, a par da dignidade e da história de um povo valente, falam por si só da capacidade de resistência do socialismo cubano.
Vermelho: Podemos considerar esse conjunto de mudanças como uma nova etapa do socialismo cubano? Quais as expectativas?
Max Altman: Sem dúvida. Os acontecimentos dos próximos anos trarão maior clareza a essa etapa que se inicia. Os progressistas do mundo inteiro – comunistas, socialistas, forças populares - torcem do fundo do coração e da mente para que os cubanos tenham pleno êxito nessa sua nova jornada.
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