Gilmar, Gaspari e Palocci, outro medalhão
A Folha (*) deste domingo cinzento de São Paulo traz artigos interessantes.
Nenhum deles, dessa vez, destaca a “singularidade” de São Paulo ou seu “destino manifesto”.
Na pág. 3, por exemplo, há hoje artigo do primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates, sobre o Lula: “O meu Brasil é com ‘S’ “, “S” de Silva: “quero ser claro”, diz o Sócrates, “Lula mostrou que a esquerda brasileira sabe governar”.
Assertiva com que não concordam o PiG (**) e a elite branca brasileira (e separatista, no caso da elite de São Paulo).
Para esses, o Lula demonstrou: 1) que não sabe governar; ou 2) se sabe, é porque fez o que o Fernando Henrique deixou de herança.
Outro artigo muito interessante nesta página 3 é do ex-Supremo Presidente do Supremo, Gilmar Dantas (***), que espinafra o colonista (****) Elio Gaspari.
Segundo o ex-Supremo Presidente Supremo, Gaspari é “admirador da ditadura brasileira e macaqueador dos americanos.”
Não se trata propriamente de uma novidade.
O colonista da Folha e do Globo – e isso não acontece impunemente – veste inúmeros chapéus, é o que já demonstrou este ordinário blogueiro.
Como aquela piada sobre os argentinos: o Gaspari é brasileiro, nasceu na Itália e pensa que é americano.
O ex-Presidente do Supremo revela aí, de novo, a fúria com que trata os jornalistas que não o elogiam.
Só que dessa vez, ele prefere enfrentar o colonista da Folha e do Globo com um suelto de pé de página.
Com outros, prefere ir à Justiça, com o peso de sua Suprema Autoridade.
Por isso, processa o Leandro Fortes e a Carta Capital, porque mostraram a óbvia incompatibilidade entre o exercício da Presidência (Suprema) do Supremo e os negócios particulares.
Leandro, de novo, na Carta Capital desta semana, fala do modo “imediatista, popularesco” e autoritário com que a família Mendes toca a democracia na cidade de Diamantino, Mato Grosso.
Este ordinário blogueiro – também chamado de “crápula” por Marcelo Lunus Itagiba (clique aqui para ler “Mino descobriu que o Serra fala pelo Itagiba”) – merece algumas ações judiciais do ex-Supremo Presidente Supremo.
Já perdeu uma.
Clique aqui para ler “Kloury leva PHA a derrotar Gilmar na Justiça” .
Talvez para não se expôr de novo a excepcional ridículo, o ex-Supremo Presidente Supremo tenha preferido agora terçar armas com o colonista da Folha e do Globo num artiguete.
Ou ele teme obrigar a Folha e o Globo a gastar dinheiro com uma ação judicial ?
Dúvida cruel.
Porém, o mais notável fenômeno de prestidigitação da Folha neste domingo é o artigo de Antonio Palocci Filho sobre a Economia Mundial.
A peça antológica está na página B11: “Blitzkrieg, tática e estratégia”.
Pretende ser uma análise profunda da Crise Mundial da Guerra Cambial e dos Desequilíbrios Comerciais.
Trata-se, na verdade, de um compêndio de acacianas inutilidades.
Os US$ 600 bilhões que o Banco Central americano despejou podem ter efeitos negativos sobre os países emergentes – diz o notável colonista da Folha.
A China mantém sua moeda ancorada no dólar, “valendo-se (esse gerúndio é letal – PHA) de seu robusto (os adjetivos são fatais – PHA) superávit externo”.
Pelo tamanho da economia americana, “a sua recuperação tem impacto sobre todas as outras nações”.
O Governo brasileiro tem feito grande esforço por “uma ação coordenada”.
E “não deveria deixar de fazê-lo”.
E a conclusão notável, inesquecível: “A guerra contra a crise econômica exige paciência, estratégia e coordenação”.
Notável.
Inacreditável !
A Terra parou de girar em torno do Sol para contemplar esse clarão !
É de provocar lágrimas a comparação deste artigo de primária sofisticação com o de Pedro Malan, na página 2 do Estadão.
Chamar o Palocci de “Malocci”, como se fez no início do Governo Lula, é uma ofensa ao Malan.
O artigo do Palocci não teria a mais longínqua importância não fosse ele o candidato da VEJA a ministro da Fazenda da Dilma.
Não teria menor relevância não estivesse ele em todas as listas do PiG (**) de ministros da Dilma.
O Conversa Afiada já se manifestou sobre essa possibilidade, ao analisar a “informação” de que “Lula não quer o Palocci. Mas, e o Cardozo, esse pode ?”
O Conversa Afiada pretende ser generoso com seus amigos navegantes nessa manhã sem Sol.
E sugere leitura, essa, sim, admirável, e suscitada pelo Palocci, esse verdadeiro “medalhão”.
São trechos do conto “Teoria do Medalhão”, do Machado:
Uma vez entrado na carreira, deves pôr todo o cuidado nas idéias que houveres de nutrir para uso alheio e próprio. O melhor será não as ter absolutamente; coisa que entenderás bem, imaginando, por exemplo, um ator defraudado do uso de um braço. Ele pode, por um milagre de artifício, dissimular o defeito aos olhos da platéia; mas era muito melhor dispor dos dois. O mesmo se dá com as idéias; pode-se, com violência, abafá-las, escondê-las até à morte; mas nem essa habilidade é comum, nem tão constante esforço conviria ao exercício da vida.
…
Toda a questão é não infringir as regras e obrigações capitais. Podes pertencer a qualquer partido, liberal ou conservador, republicano ou ultramontano, com a cláusula única de não ligar nenhuma idéia especial a esses vocábulos, e reconhecer-lhe somente a utilidade do scibboleth bíblico.
…
Quanto à matéria dos discursos, tens à escolha: – ou os negócios
miúdos, ou a metafísica política, mas prefere a metafísica. Os negócios miúdos, força é confessá-lo, não desdizem daquela
chateza de bom-tom, própria de um medalhão acabado; mas, se puderes, adota a metafísica; – é mais fácil e mais atraente.
Supõe que desejas saber por que motivo a 7ª companhia de infantaria foi transferida de Uruguaiana para Canguçu; serás ouvido tão-somente pelo ministro da guerra, que te explicará em dez minutos as razões desse ato. Não assim a metafísica. Um discurso de metafísica política apaixona naturalmente os partidos e o público, chama os apartes e as respostas. E depois não obriga a pensar e descobrir. Nesse ramo dos conhecimentos humanos tudo está achado, formulado, rotulado, encaixotado; é só prover os alforjes da memória. Em todo caso, não transcendas nunca os limites de uma invejável vulgaridade.
…
- Somente não deves empregar a ironia, esse movimento ao canto da boca, cheio de mistérios, inventado por algum grego da
decadência, contraído por Luciano, transmitido a Swift e Voltaire, feição própria dos cépticos e desabusados. Não. Usa antes a chalaça, a nossa boa chalaça amiga, gorducha, redonda, franca, sem biocos, nem véus, que se mete pela cara dos outros, estala como uma palmada, faz pular o sangue nas veias, e arrebentar de riso os suspensórios. Usa a chalaça. Que é isto?
- Meia-noite.
- Meia-noite? Entras nos teus vinte e dois anos, meu peralta; estás definitivamente maior. Vamos dormir, que é tarde. Rumina
bem o que te disse, meu filho. Guardadas as proporções, a conversa desta noite vale o Príncipe de Machiavelli. Vamos dormir.
(*) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que avacalha o Presidente Lula por causa de um comercial de TV; que publica artigo sórdido de ex-militante do PT; e que é o que é, porque o dono é o que é; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.
(**) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.
(***) Clique aqui para ver como um eminente colonista (****) do Globo se referiu a Ele. E aqui para ver como outra eminente colonista (****) da GloboNews e da CBN se refere a Ele.
(****) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG (**) que combatem na milícia para derrubar o presidente Lula. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse pessoal aí.
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