quarta-feira, 7 de outubro de 2009

AS OLIMPÍADAS E A RELAÇÃO DO ESTADO COM AS EMPRESAS DE TRANSPORTE DE PASSAGEIROS

Ou o Poder Público muda a relação atual, ou não se supera o principal entrave para a realização das Olimpíadas de 2016

Passada a euforia com a escolha da cidade do Rio de Janeiro, para sediar as Ollimpíadas de 2016, sem dúvida, mais que uma vitória do esporte brasileiro, uma vitória geo-política, uma nítida sinalização do sucesso da política externa do governo Lula, o número recorde de votos obtidos pelo Rio é uma revelação incontestável, há questões concretas que dizem respeito a infra-estrutura de transportes na região metropolitana do Estado do Rio de Janeiro a serem enfrentadas

Não me refiro as medidas necessárias como a ampliação das linhas do Metrô, da sua logística, mas sobretudo em relação da matriz de transporte, assentada na circulação de ônibus, em detrimento de opções muito mais eficazes em termos de consumo de combustível e de preservação ambiental, como o próprio Metrõ, ferrovias, mas principalmente o tranporte aquaviário, uma vez que a cidade é servida por um extenso litoral que tangencia regiões de alta densidade populacional como as baixadas fluminense e gonçalense.

Sempre que citados os principais gargalos para que o Rio sedie um evento de tal monta, a segurança e o tranporte são destacados. No primeiro caso, a experiência mostra não ser difícil a montagem de meios para controlá-la por um determinado período, sem os exageros dos tanques com canhões apontados para as favelas da Eco 92. A política de ocupação comunitária do governo estadual em experimentação em algumas comunidades, associada a política habitacional e dos programas sociais do governo Lula, até lá terão mostrado ou não a sua eficácia, para a redução da violência na cidade, mesmo que a questão social que está no cerne do problema não esteja equacionada como é provável.

Já a questão do transporte é mais complicada, pois envolve a relação do poder público con os empresários do setor de transporte coletivo rodoviário, que atuam com total autonomia respaldados no poder político de pressão que lhes é conferido. Graças a tal respaldo controlam a distribuição do Vale Transporte - função que deveria ser do poder público - definem a seu bel prazer os roteiros e linhas, jamais em função do interesse do usuário, e sim do aumento dos seus lucros. Além disso, o poder público não consegue controlar a sua arrecadação para efeito de cobrança de impostos, se vale do que as empresas declaram.

A proposta de implantação de catracas, para controle público concedente da circulação desses veículos, como não poderia deixar de ser rechaçada pelas empresas de transorte de passageiros, jamais foi levada a termo. Vire e mexe é anunciada, mas logo posta de lado.

É por isso que enquanto nas zonas sul e zona norte onde os trajetos são menores e circula a população de maior renda da cidade há uma oferta enorme de linhas, desnecessárias inclusive com o advento do Metrô que concorre com a maioria delas, enquanto nas zonas oeste e leopoldina não servidas a contento de alternativas modais, cujos trajetos mais longos exigem o maior consumo de combustível, a oferta de linhas é reduizda e a população é obrigada a longas esperas e se deslocar em ônibus lotados.

O poder desses empresários se revela ainda pelas suas participações acionárias, ou controle, das empresas concecionárias dos modais ferroviários, metroviários e aquaviários. Daí a precariedade desses serviços e as quebras de contrato das concecionárias são toleradas, e se assiste situações bizarras, como de duas empresas de õnibus que circulam na Ilha do Governador, num claro boicote a estação das barcas existente no bairro da Ribeira, não colocam linhas de interligação com a referida estação, e aquele transporte não é aproveitado em toda a sua potencialidade.

A alternativa criada para isso, culminou com a proliferação de "cooperativas" de transportes alternativos, feito por Vans e Kombis, que além de não oferecerem conforto e segurança, algumas delas passaram a ser controladas por grupos ligados a diferentes atividades criminosas: militcia, tráfico, entre outras, já que são atividades com controle e fiscalização precárias, além de lidarem com dinheiro vivo. E tal alternativa passou a cumprir os trajetos que os ônibus cumpriam de forma precária naquelas áreas mais distantes, tornando-a essencial para aqueles usuários, e também com as chamadas linhas bem providas e rentáveis das zonas sul e norte. Aumentando o caos no transporte metropolitano, desnudando e péssimo serviço prestado e reduzindo os lucros das empresas de ônibus.

Diante deste quadro, em particular pela pouca oferta de transporte metroviário, que além de servir a um trecho pequeno da cidade, também coloca ônibus circulando nas ruas nas chamadas linhas de integração, os cidadãos de melhor renda circulam com seus próprios veículos, coroando a confusão que é o sistema de transporte da região metropolitana do estado, e, por isso, se constitui no principal entrave para a realização de eventos do porte de uma Olimpíada na cidade.

A recente ofensiva dos governos estadual e da cidade do Rio de Janeiro sobre o transporte alternativo, feito de forma atabolhaada e repentina, que só prejudicou aquela população que precisa daquele serviço, já que são abandanadas pelas linhas das empresas de ônibus, - a despeito do correto combate ás organizações criminosas que controlavam parte da daquele serviço -, não revela uma preocupação de organizar e restringir a circulação de veículos da cidade, mas sim a força e o poder de pressão que aquele setor empresarial exerce sobre o poder público.

O poder publico estadual e municipal está numa encruzilhada, pelo menos para isso a realização das Olimpiadas em 2016 pode trazer uma grande colaboração: ou muda a relação que estabelece com as empresas de transportes de passageiros, a matriz de transporte da região metropolitana, aumentando a oferta de seviços aquaviários - Baixadas Fluminense e Gonçalence -, metroviários e ferroviários, deste modo reduzindo a circulação de ônibus, carros particulares e vans, principalmente no centro, zona norte e sul da cidade, invista em terminais para ônibus e para o transporte alternativo, construa uma estação rodoviária num local onde ela se interligue aos modais ferroviários e metroviários; ou então a realização das olímpidas, se forem realizadas em tais condições, ao invés de vender uma boa imagem da cidade, pode contribuir para expor para o mundo ainda mais as suas mazelas.

Comentário

Alexandre Porto disse...

A prioridade número 1 do governo do Estado DEVE ser o transporte ferroviária metropolitano. O que hoje é da SuperVia e a linha 3 do Metrô.

A Supervia privada não consegue sequer atender bem a demanda atual e não teria vocação para planejamento urbano.Um transporte metropolitano de qualidade teria o efeito de tirar a pressão sobre as áreas centrais da capital já sufocada.

Planejar para descentralizar.Prioridade ZERO deve ser o planejamento metropolitano que deve começar pelo transporte ferroviário. Mais do que o caro metrô para a Barra da Tijuca.
7 de Outubro de 2009 07:59

Um comentário:

Alexandre Porto disse...

A prioridade número 1 do governo do Estado DEVE ser o transporte ferroviária metropolitano. O que hoje é da SuperVia e a linha 3 do Metrô. A Supervia privada não consegue sequer atender bem a demanda atual e não teria vocação para planejamento urbano.

Um transporte metropolitano de qualidade teria o efeito de tirar a pressão sobre as áreas centrais da capital já sufocada. Planejar para descentralizar.

Prioridade ZERO deve ser o planejamento metropolitano que deve começar pelo transporte ferroviário.
Mais do que o caro metrô para a Barra da Tijuca.