terça-feira, 7 de julho de 2009

MARINA DEFENDE AFASTAMENTO DE SARNEY

Marina Silva exige refundação do Senado: 'Parece que se criou um Estado paralelo'
Publicada em 06/07/2009 às 09h56m
Diana Fernandes



BRASÍLIA - Integrante do grupo de cinco senadores petistas que defendem abertamente o afastamento temporário do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), do cargo, a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (AC) reafirma sua posição, mesmo após os apelos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela governabilidade, alegando que a crise não é meramente política. Exige uma refundação do Senado, com mudanças na estrutura viciada que criou, segundo ela, uma espécie de "Estado paralelo" sem qualquer controle. Diz que ninguém quer demonizar o presidente Sarney e acredita que PT e PSDB são os partidos com maiores condições de promover essa reforma no Senado, para dar uma reposta à sociedade.

Em conversa com O GLOBO nO domingo, Marina Silva disse que Lula não enquadrou o PT e que o compromisso dos senadores é com a sociedade. E que manterá sua posição na nova reunião da bancada marcada para esta terça-feira. Além de Marina, defendem o afastamento de Sarney os petistas Tião Viana, Eduardo Suplicy, Paulo Paim (RS) e Flávio Arns (PR).

O GLOBO: A senhora mudou de posição em relação à crise do Senado após o apelo do presidente Lula pela governabilidade?
MARINA SILVA: Eu vou defender a posição do afastamento do presidente Sarney por acreditar que é o melhor para o Senado, é a melhor forma de o presidente Sarney contribuir. Trata-se de um afastamento temporário para investigar todas as denúncias de irregularidades, num primeiro momento, e, em seguida, fazer uma reforma profunda na estrutura do Senado.

O GLOBO: E como mudar uma estrutura tão consolidada?
MARINA: Seria uma espécie de Constituinte interna, para rever tudo e interditar a falta de limites no Senado. não basta apenas o viés da punição, mas é preciso uma refundação. Chegou a um ponto que parece que se criou um Estado Paralelo, sem controle algum.

O GLOBO: E ninguém sabia desse 'Estado paralelo'?
MARINA: No mínimo, houve omissão, ausência e corresponsabilidade dos 81 senadores. Portanto, a obrigação de solucionar é de todos os senadores. As instituições adoecem e devem ser tratadas. Ninguém está demonizando pessoalmente o presidente Sarney, o afastamento temporário é só para ajudar na solução da crise.

O GLOBO: O presidente Lula alega que a crise política poderá ser muito maior com a saída de Sarney do cargo...
MARINA: Expressei minha opinião ao presidente Sarney e ao presidente Lula. É claro que consideramos as condições de governabilidade, mas obviamente que as questões políticas, como a sucessão de 2010, não podem se afastar dos princípios da legalidade, da ética. Não entro no mérito (dos argumentos) do presidente Lula, mas a solução tem que ser composta em cima de uma política ética e legal.

O GLOBO: No Senado, parte do PT está afinado com PSDB, contra o maior aliado do governo Lula, que é o PMDB. Por que isso?
MARINA: Nesse momento, dois partidos foram chamados à responsabilidade, são dois partidos que ocupam os dois pratos da balança política, o PT e o PSDB. E esses partidos devem fazer jus à estrutura e à responsabilidade histórica que têm. Espero que possamos surpreender a Nação. Enquanto o PT achar que pode resolver tudo sozinho, não vai conseguir. Os partidos mais em condições de resolver isso são o PT e o PSDB.

O GLOBO: O PT deve se aproximar mais do PSDB e se afastar do PMDB?
MARINA: Sobre o PMDB é uma questão de ponto de vista. Nesse momento no Senado o PT tem uma opinião e o PMDB, outra.. Mas no PMDB tem outras pessoas que também defendem nossa posição. Existem pessoas de bem em todos os partidos e queremos reunir todos homens e mulheres de todos os partidos que queiram realmente reformar o Senado. Se (a crise) fosse uma questão meramente política, já estaria resolvida. É muito mais que isso, é uma crise estrutural profunda.

O GLOBO: Há um enfrentamento entre senadores do PT e o presidente Lula?
MARINA: Não, não é isso. Trata-se do amadurecimento das relações do partido que está no governo e o governo. Estamos fazendo a separação entre o olhar do partido e o olhar do governo. A diferença é quanto à forma de encaminhar essa solução.

O GLOBO: O presidente Lula conseguiu enquadrar a maioria da bancada do PT?
MARINA: A nossa reunião com o presidente foi de diálogo e não de enquadramento. Não houve isso. Há momentos em que os senadores se colocarão como representantes da sociedade. É o que somos.

Comentário do Blog

A senadora Marina Silva tem que resolver essa contradição. Ora sutenta uma posição aparentemente radical, o afastamento de Sarney, e o seu desdobramento óbvio, a entrega a Presidência do Senado para um tucano, o senador Marconi Perillo (PSDB-GO), ora outras conservadoras - fartamente destacadas no jornal O Globo - ao achar que o PSDB pode ser parte da resolução da crise que toma conta do senado e defender a refundação daquela casa legislativa ao invés da sua extinção e a instituição do unicameralismo no país.

Enfim, achar que o PSDB pode ser parte da solução para a crise do senado, é um pouco demais!

De concreto, a posição da senadora Marina Silva, caso seja bem sucedida, além de não resolver o imbrólio do senado, apenas estende a crise à governabilidade meramente institucional e parlamentar do governo Lula.

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