PL-29: o caminho para a apartação cultural (2)
Marcos Dantas - para o Observatório do Direito à Comunicação
07.07.2009
Há alguns dias, um programa de um canal pago brasileiro exibiu uma interessantíssima entrevista com o empresário de cinema Luis Carlos Barreto, hoje no alto dos seus 80 anos. Rememorando o início de sua vida profissional como repórter fotográfico da revista O Cruzeiro, Barreto contou-nos o seguinte (aqui narrado de memória). No início dos anos 1950, a capa da revista O Cruzeiro trazia, invariável e obrigatoriamente, foto de alguma celebridade estadunidense, de preferência hollywoodiana. Disse ele que o “cromo” já vinha direto, pronto, dos Estados Unidos. Uma vez, estando a trabalho no Ceará, fotografou duas atrizes brasileiras, famosas àquela época, uma loura branca e uma negra, contra um lindo céu azul, tudo, aliás, cromaticamente também muito hollywoodiano. Mostrou a foto na redação e sugeriu que fosse a capa da semana. A reação de estranheza foi forte. “Cê tá maluco!”, ouviu.
Mas Barreto conseguiu convencer seus chefes e a foto saiu na capa. Disse ele que, por isto, chegou a receber uma carta de Glauber Rocha (então, também, um iniciante) com palavras entusiasmadas: “Barreto, você começou uma revolução cultural!”.
Comentário do Blog
Essa é a abertura da segunda parte do artigo do professor Marcos Dantas, à luz do debate sobre o PL 29, publicado neste blog no dia 1 de julho (quarta-feira), que trata entre outras coisas do espaço a ser garantido à produção cultural brasileira nos meios de comunicação.
Um referencial obrigatório para debate na Conferência Nacional de Comunicação que está em processo de realização. O artigo aborda o legado cultural e ideológico da produção televisiva brasileira, diante da legislação e da correlação de forças vigentes no setor, apartada da realidade histórica do país, portanto, desfocada de qualquer projeto nacional autônomo e soberano que se busque construir para o Brasil.
Como destacamos na postagem da primeira parte do artigo, a velha lógica de se olhar o país de fora para dentro, tendo como base valores e uma estética disseminados feito mercadorias a serem compulsoriamente consumidas.
Um verdadeiro retrocesso para o qual toda uma geração corre o risco de ser arrastada. Os desdobramentos do debate sobre o PL- 29 serão decisivos para a continuidade ou estancamento daquele retrocesso. Vale a leitura na íntegra
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