quarta-feira, 15 de abril de 2009

SOBRE AS ELEIÇÕES INTERNAS DO PT

Carvalho diz que não vai disputar presidência do PT

Folha de São Paulo - Sucursal Brasília

O chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, disse ontem que não irá concorrer à presidência nacional do PT. O comando do partido mudará em novembro.
Carvalho afirmou, ao chegar a uma reunião na sede do partido, que vem conversando com o presidente desde a última quinta-feira sobre o assunto e que foi orientado por Lula a não trocar o governo pela direção do PT.

"Ele acha que eu devo continuar lá [no governo], então, não tenho como [concorrer]", disse.
Carvalho é apoiado pela corrente CNB (Construindo um Novo Brasil), ex-Campo Majoritário, que até então vinha trabalhando sua candidatura como possibilidade de consenso entre as tendências internas. A Folha apurou que, apesar da desistência de Carvalho, a CNB insistirá com Lula, por entender que dificilmente outro candidato consiga evitar uma disputa interna em véspera de ano eleitoral.

Carvalho afirmou que o PT tem "ótimas alternativas", citando o secretário-geral do Governo, Luiz Dulci, o secretário de Assuntos Internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, e o presidente da BR Distribuidora, José Eduardo Dutra.

Na semana passada, Dulci havia manifestado apoio a Carvalho.

O chefe de gabinete de Lula agradeceu o apoio das correntes que já estavam se comprometendo em apoiá-lo e garantiu que, mesmo que haja pressão de setores do partido para que ele concorra, "dificilmente" voltará atrás na decisão.

Comentário do Blog

Esse assunto há alguns dias pauta a mídia nacional e estimula articulações no interior do PT, com vistas à disputa do processo de eleições diretas do partido (PED). O sentido do movimento de tornar Gilberto Carvalho, num nome de consenso para a presidência nacional do PT, segundo a CNB, é evitar disputas que possam dividi-lo ás vésperas da sucessão eleitoral de 2010, embora essa corrente tenha rechaçado proposta de adiamento do PED para 2011, feita em reunião da direção nacional do partido.

"Entretanto, independentemente das motivações da CNB, é preciso reconhecer que a presente “manobra consensual” é reforçada por um fato indiscutível: Gilberto Carvalho é muito respeitado dentro do Partido. Sendo verdade, por outro lado, que o respeito não o torna necessariamente um bom presidente, além de tornar difícil substituí-lo no governo, especialmente num ano eleitoral, em que tantos ministros devem sair candidatos", analisa Valter Pomar , secretário de relações internacionais do PT

"Apesar de suas inegáveis qualidades individuais - continua Pomar -, se Lula liberar Gilberto Carvalho para concorrer à presidência nacional, haverá disputa. Isto porque a realidade é muito mais complexa do que diz o “abaixo-assinado” da “Construindo um Novo Brasil” - exortando o chefe do gabinete de Lula a aceitar ser candidato -, que chega a afirmar que na atual direção há um “sentimento de unidade e coesão”. "

Segundo Valter Pomar, dirigente da tendência Articulação de Esquerda que propôs o adiamento do PED para 2011, rechaçado pela CNB com apoio de outros agrupamentos do partido, “a realidade é que hoje o PT tem direção, mas não tem núcleo dirigente. O antigo núcleo dirigente foi engolido pela crise de 2005, que não apenas afastou pessoas, mas também revelou as fragilidades da estratégia hegemônica até então.”

Segundo ele “mantido o PED , em 2009, os que acreditam que é preciso construir uma nova estratégia e outro núcleo dirigente para o Partido não têm outra alternativa que não a de apresentar, ao conjunto da base partidária, nossas opiniões sobre a tática, a política de alianças, o programa de governo 2011-2014, o funcionamento e a linha de atuação do Partido para os próximos anos. E fazer isto, nas regras vigentes, implica em ter chapa e candidatura à presidência”.

Para Pomar “os setores hegemônicos da “Construindo um Novo Brasil”, que continuam se enxergando como matriz do núcleo dirigente, atuam de acordo com a lógica duplamente presidencialista que tem marcado o PT nos últimos anos: acham que a solução estaria num presidente do PT que seja reconhecidamente próximo do presidente Lula”

O dirigente, que propôs o adiamento do PED , avalia que o rechaço da sua proposta se deve, entre outras razões, “pelo temor de alguns setores acerca de um PED em 2011, num ambiente partidário influenciado por uma presidente da República que não integra nenhuma tendência interna”

Por fim, avalia que está lógica de eleger um presidente do PT próximo do presidente da República é essencialmente perigosa, pois, para Pomar,” toda a experiência do mandato 2003-2006, inclusive os episódios de 2005 e 2006, confirmam as vantagens, para ambas as partes, de uma “distância prudencial” entre o Partido e o governo, sem a qual não há nem autonomia, nem a crítica, nem o indispensável apoio.”

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