quinta-feira, 19 de março de 2009

DIREÇÃO NACIONAL DA CUT DEBATE CONJUNTURA

Professor João Sicsú, do IPEA, defende "redução drástica da taxa de juros" e "política para a remessa de lucros"

(na foto, Sicsú, Quintino e Artur, presidente da CUT)

Escrito por Leonardo Severo

O professor do Instituto de Economia da UFRJ e diretor do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), João Sicsú, defendeu a necessidade da "redução drástica da taxa de juros" e de uma "política para a remessa de lucros das multinacionais" como medidas para enfrentar a gravidade da crise, que se revela "não só pela profundidade, como pela velocidade que atingiu o país". Após contribuir com a análise de conjuntura da reunião da Direção Nacional da CUT, Sicsú deu entrevista ao Portal do Mundo do Trabalho.

Em tua análise, abordaste o tema da desnacionalização das indústrias, do investimento direto estrangeiro (IDE) e do crescimento da remessa de lucros pelas multinacionais. Este problema do envio de recursos das empresas estrangeiras para suas matrizes, particularmente num momento de crise, não necessita ser melhor debatido? Durante muito tempo este tipo de investimento foi visto como tábua de salvação e hoje isso está sendo revisto...

Eu avalio que nós precisamos ter uma política mais detalhada para receber investimento direto estrangeiro, porque a remessa de lucros pode causar um desequilíbrio no balanço de pagamentos, na medida em que nosso esforço de exportação não é capaz de cobrir toda nossa capacidade de remessa de lucros e dividendos a partir das multinacionais. Avaliar uma política que leve em conta absorção de tecnologia, geração de emprego, arrecadação para o governo e também de geração de dólares, reservas para a economia brasileira. Acho que o investimento direto é benéfico, mas não deve ser tratado como algo intocável. Por ser benéfico, ele precisa ser analisado com cuidado. Se nós pensarmos que é possível seguir neste caminho, há formas mais moderadas, como é a economia chinesa hoje, que recebe muito investimento estrangeiro e tem uma política para isso. Ou podemos ter medidas mais extremadas, como foi a economia japonesa, que se desenvolveu, se tornou a segunda economia mais importante do mundo sem aceitar investimento direto estrangeiro.

O caminho não seria o fortalecimento do mercado interno, já que no longo prazo se comprova uma perda com o IDE, devido às crescentes remessas, algo que é agravado em um momento de crise. Isso não possibilita ainda que as multinacionais aqui instaladas chantageiem o governo com pedidos de redução de impostos para não demitir?

Em verdade, nós precisamos ter uma preocupação permanente. Não é só no momento de crise que eles remeteram para fora. Eles remeteram para fora num período de normalidade. A economia brasileira estava crescendo muito e gerando altos lucros para empresários brasileiros e estrangeiros e foi no momento de maior crescimento que houve a maior remessa de lucros. Neste momento já começou a criar problemas para a economia. Independentemente da crise, nós já estávamos com problemas externos causados exclusivamente por remessa de lucros e dividendos. Nossa balança comercial continua positiva. Nosso saldo fica negativo porque remetemos mais lucros para o exterior do que somos capazes de exportar.

O que está faltando?

O que nos falta na verdade não é uma medida x ou y, precisamos de um conjunto de medidas que formem uma política de tratamento para o investimento direto estrangeiro, que leve em conta remessa de lucros, transferência de tecnologia, emprego, impostos. Acho que são investimentos que não devem ser satanizados nem sacralizados. Eles existem e devem ser analisados. O que é bom deve ser aceito e o que é ruim rejeitado, sem nenhum viés ideológico.

Falaste sobre a redução dos juros...

Avalio que a taxa de juros deve ser reduzida drasticamente num período bastante curto para propiciar uma economia volumosa de recursos para o governo, para que ele possa fazer investimentos volumosos na área social e de infraestrutura logística. Investimentos são mais lentos, mas são necessários, porque só com novas estradas, com rodovias, com hidrelétricas que nós podemos receber investimentos privados e gerar empregos. Os programas sociais são necessários do ponto de vista exclusivamente social, porque temos muita miséria e pobreza. Mas também do ponto de vista macroeconômico assumem também sua importância neste momento porque esses investimentos representam remédio direto na veia. É dinheiro que vai para a economia e se transforma em consumo de imediato.

Abordaste o problema da drenagem de recursos para o estrangeiro, via especulação, por meio do pagamento dos juros...

Ao longo do ano passado foi gasto com o pagamento de juros o equivalente a dez anos de Bolsa Família. Mesmo que nós não tivéssemos crise, esta lógica tem que ser questionada, não é possível que paguemos mais para o andar de cima e muito, muito menos, dez vezes menos, para o andar de baixo.

Uma avaliação do debate com a direção da CUT...

Gostei muito. Gosto de dialogar com não-economistas e com sindicalistas que de fato podem fazer a história do país.

Um comentário:

André Barros disse...

E A QUESTÃO DA POUPANÇA FLÁVIO? VOCÊ TEM ALGUMA MATÉRIA SOBRE O ASSUNTO?
ANDRÉ BARROS