O pedido de Delúbio
Valter Pomar (foto),dirigente petista, envia recurso à Ricardo Bezoini, presidente nacional do PT
Delúbio Soares de Castro foi expulso do Partido dos Trabalhadores, em 2005. A expulsão foi aprovada por maioria de votos no Diretório Nacional.
Em 18 de março de 2009, Delúbio Soares dirigiu uma carta ao presidente Ricardo Berzoini, solicitando sua “reintegração” ao Partido. A mesma carta foi enviada a todos os membros do Diretório Nacional do PT, com ampla repercussão na imprensa.
Delúbio Soares tem o direito de pedir reintegração? Sim.
Delúbio Soares fez certo ao encaminhar este pedido diretamente ao presidente nacional do Partido? Sim, pois dada a gravidade do caso, seria um erro tentar reintegração disfarçada, através de um diretório de base.
Delúbio Soares deve ser reintegrado ao PT? Não.
Votei pela expulsão de Delúbio Soares. Não acho que expulsões devam ser eternas. Mas tampouco acho que se aplique, no caso, a “progressão automática de pena”, como sugeriu uma dirigente do Partido que apóia a reintegração.
Caberia a revisão de pena, através da reintegração, se Delúbio Soares reconhecesse os erros políticos e administrativos que cometeu.
Ele não reconheceu seus erros, na época. Cabe lembrar que, ao contrário de Sílvio Pereira, Delúbio Soares lutou contra sua expulsão, exatamente porque considerava que seus erros não eram de tal monta que fosse cabível sua expulsão.
Ele não reconheceu seus erros posteriormente. E não imagino que os reconheça agora, estando como está em meio a um processo judicial.
Sem um reconhecimento dos erros, estaríamos reintegrando o mesmo Delúbio Soares que foi expulso em 2005. Na prática, anulando a pena aplicada.
Um agravante: sua carta, entregue a Berzoini, é de alguém que se julga vítima, não de alguém que se reconhece culpado.
Ou seja: Delúbio leva em consideração apenas quem votou contra sua expulsão, desconsiderando os argumentos e os sentimentos dos demais.
Não há nenhum fato ou argumento novo, portanto, que justifique mudar a posição da maioria do Diretório Nacional em 2005. Sendo assim, da mesma maneira e pelos mesmos motivos que votei pela sua expulsão, votarei agora contra sua reintegração.
Meu segundo motivo é político: o PT enfrentará em 2010 uma batalha fenomenal pela presidência da República. Venceremos se mantivermos foco na disputa política principal e se garantirmos a unidade partidária.
Neste momento e nestas circunstâncias, introduzir o debate sobre a “reintegração” de Delúbio ao PT é fazer o jogo da oposição de direita (PSDB e DEM).
O simples fato do tema ter sido introduzido no debate público e ocupar o tempo da direção nacional do Partido, com possíveis seqüelas no PED 2009, já é um contratempo para quem deseja manter o foco no principal objetivo do período: vencer em 2010.
Ademais, todo mundo sabe que Delúbio Soares não quer voltar ao PT para ser um “militante de base”. Quer voltar para ser candidato às eleições de 2010. Infelizmente, não assume isto na carta que enviou ao presidente do Partido.
Portanto, reintegrar Delúbio Soares será fornecer, agora e no próximo ano, farta matéria-prima para os ataques da direita, ajudando a reavivar os ataques lançados contra nós durante a crise de 2005.
Por fim: os militantes de um projeto pessoal só pensam em si mesmos. Mas os militantes de uma causa precisam pensar primeiro nela.
As decisões que tomamos, no dia a dia de nossa atuação como dirigentes partidários, são produto de nosso livre arbítrio. Se, produto destas decisões, algum de nós é levado ao “degredo”, não se deve culpar o Partido nem a causa por isto.
Assim, para ser conseqüente com o que fala em sua carta a Ricardo Berzoini, a respeito de seu compromisso com a “causa coletiva”, Delúbio Soares deveria retirar seu pedido de reintegração, evitando com isto um desgastante debate público com o qual só a direita tem a ganhar.
Valter Pomar, secretário de relações internacionais do PT
Comentário do Blog
O assunto já ocupa generoso espaço na mídia, sem sequer o mérito do pedido de Delúbio ser analisado pela direção do partido. Ele pode gerar o retorno do debate sobre a crise de 2005, recolocar em exposição pública as visceras do PT e acirrar a luta interna no processo de renovação das direções do partido que ocorrerá em novembro de 2009.
Além disso, poderá ter o condão de retirar do anonimato midiático voluntário outros petistas envolvidos, e que foram indiciados pelo Supremo Tribunal Federal. De antemão, nada se pode dizer que influência terá no correspondente julgamento, o tema Delúbio, sobretudo porque o Supremo é uma Casa ativa em relação aos aspectos políticos que envolvem um processo.
O que se pode inferir é que se for posto em análise o pedido de Delúbio, na próxima reunião do Diretórial Nacional do PT, vai sinalizar que esse partido, como muitos suspeitavam pelo fato de apenas Delúbio ser punido, não retirou qualquer ensinamento da crise que fortemente abalou os seus alicerces e que até hoje deixa marcas indeléveis na sua imagem pública.
Os adversários do PT agradecem!
sexta-feira, 20 de março de 2009
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