segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

DEU NA CARTA CAPITAL

A serpente sai do ovo

13/02/2009 12:58:39

"Na noite de 10 de fevereiro, a brasileira Paula Oliveira, que reside e trabalha legalmente na Suíça e é companheira de um suíço, foi atacada por três homens com as cabeças raspadas, vestidos de preto, ao descer do trem em Dübendorf, na periferia de Zurique. Eles a espancaram, inscreveram-lhe na barriga e nas pernas, com um estilete, a sigla SVP (iniciais em alemão do neofascista Partido do Povo Suíço, em francês Union Démocratique du Centre – UDP) e a deixaram seminua em um bosque deserto. Paula, grávida de três meses, perdeu as gêmeas e permanece hospitalizada.

Pior, há sinais de conivência do poder local com os criminosos. Os policiais que atenderam Paula tentaram intimidá-la, dizendo ser a única responsável por sua versão. A cônsul do Brasil, Victoria Cleaver, foi destratada pela polícia, que a mandou falar com a vítima se quisesse informações. A advogada foi ameaçada por um investigador: "Se você estiver mentindo, poderá ser presa". O próprio chanceler Celso Amorim precisou somar-se à pressão por uma investigação do caso.

Em 1º de fevereiro, três italianos, de 29, 28 e 16 anos espancaram e queimaram com gasolina um mendigo indiano em Nettuno, perto de Roma. Segundo a polícia, não foi um ato racista: fizeram isso "para divertir-se". No dia 5, o Senado italiano aprovou uma "Lei de Segurança" que, além de criminalizar os imigrantes ilegais e estimular médicos a denunciá-los, legaliza as "rondas padanas", milícias organizadas pelos racistas da Liga Norte para intimidar estrangeiros, responsáveis por agressões similares, inclusive o roubo, tortura e estupro de ciganas em Monza, Lecco e Varese de 2005 a 2007 e o incêndio de um acampamento cigano em Milão em 2007. No dia 2, insensível a tudo isso, o ministro italiano do Interior, Roberto Maroni, declarara que "para lutar contra a imigração ilegal e os males que traz, precisamos ser maus".

Como nos anos 30, a estagnação prolongada, o desemprego e a crise econômica chocaram o ovo da serpente. O fascismo está de volta e não mais apenas nas margens da sociedade europeia, mas em seu próprio cerne. "

Opinião deste Blog

A exceção talvez do caso da brasileira na Suiça, que não esta muito bem explicado, essas passagens revelam um indisfarçável crescimento do ambiente de intolerância e de reação nas tradicionais democracias européias, onde a Itália talvez seja o exemplo mais paradigmático de ascensão da direita política, liderada pelo primeiro ministro Silvio Belusconi.

Lá a esquerda democrática migrou para o centro ou praticamente desapareceu enquanto força política real, processo iniciado com a dissolução do Partitdo Comunista Italiano (PCI), fundado no início do século passado por Amadeo Bordiga, Antonio Gramsci e Palmiro Togliati, que resistiu ao fascismo mas sucumbiu ao neoliberalismo.

Mesmo na Inglaterra e na Espanha, nos quais os governos são liderados por partidos que tiveram sua origem na esquerda, o Trabalhista e o Socialista Operário Espanhol, mas que há décadas experimentam uma forte rebaixamento programático e assimilaram a vaga neoliberal.

O advento da Uniião Eurepéia sob o signo da redução do desequilíbro político e econômico em relação aos Estados Unidos contribuiu para a aceleração desse processo de restauração, na medida em que impôs aos países membros padrões de desenvolvimento econômico e de organização da sociedade semelhantes, no bojo de um neoliberalismo triunfante.

Com a crise econõmica e a propensão ao protecionismo presente no velho continente, que não se afigura apenas no aspecto econômico, mas político e étnico, tais episódios se não forem combatidos e denunciados com veemência, podem alcançar índices perigosos.

Um comentário:

André Barros disse...

ESTA SUA ABORDAGEM SOBRE O CASO DA BRASILEIRA ESTÁ SENSACIONAL. CHAVES VENCE NO PLEBISCITO, QUE É A VITÓRIA DA PLEBE. ISTO É QUE É O JORNALISMO DA MULTIDÃO.
ANDRÉ BARROS