segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

CONCURSO DO IPEA:VERDADES NÃO DITAS

Alguns jornais têm aberto espaços generosos em suas páginas para dar voz a comentários e avaliações a respeito do concurso iniciado em fins de 2008, pelo Ipea*. São opiniões pessoais, em grande parte vindas da mesma fonte, um pesquisador do Ipea, para quem a realização do concurso era desnecessária e sua execução tomada de impropriedades, face questões de conteúdo marcadamente ideológico e não técnico.

Curiosa tal crítica, ainda mais vinda de pesquisadores do próprio Ipea, que deveriam celebrar o fato de o Instituto, um órgão de Estado, após tanto tempo realizar concurso público para reforçar seus quadros, ampliando o alcance de suas atividades de pesquisa, análise e de prospecção da vida econômica do país. Há muito que o Brasil carece de um plano de desenvolvimento econômico sustentável e de longo prazo, tanto que tem sido o país refém de políticas e ações econômicas de curto prazo, quase todas, senão todas elas, oriundas de um mesmo viés e de uma só atenção dominante: o mercado financeiro, com suas demandas por ganhos e vantagens sempre na contramão dos interesses verdadeiramente públicos..

O que mais surpreende, ou quem sabe, revelam tais críticas é que elas partem de quadros que ingressaram no Ipea sem concurso público. Muitos deles, inclusive, ao que parece, sem o devido conhecimento que lhes possibilite tecerem críticas como as publicadas, recentemente, pelo jornal O Globo (19/12/2008), a respeito de um dos autores cujas idéias foram tema de questões presentes nas provas do concurso do Ipea. Trata-se de Karl Polanyi, filósofo e economista, cuja principal obra – A Grande Transformação: as origens de nossa época – até hoje é fonte de estudos e de acalorados e também esclarecedores debates.

Tivesse o autor da crítica melhor conhecimento sobre a vida e a obra de Polanyi, saberia que ele não era um pensador marxista, o que não o impediu de reconhecer que a primazia do econômico corrói a sociedade, que precisa resistir à lógica da mercadoria sob o risco de se autodestruir.

O concurso do Ipea teve 15 provas diferenciadas e 1.200 questões, no conjunto dessas provas. Ater-se a três ou quatro questões, com críticas infundadas quando não equivocadas é, no mínimo, surpreendente. Ainda mais, partindo de quem ingressou no Instituto sem o devido concurso público, prática não-republicana que, agora, se busca corrigir através de um concurso que atraiu mais de 13 mil candidatos de todo o país.

Agora, o que não está dito na referida polêmica, remete ao momento em que a atual diretoria do instituto assumiu, após um longo período, mesmo sob o governo Lula, de gestão de inspiração tucana e liberal, na qual o Ipea servia a interesses segmentados, em detrimento aos interesses estratégico do país. Não é por outra razão que desinformados e mal intencionados defensores do desmonte do Estado brasileiro, detentores de espaços privilegiados em colunas e editorias em parcela da mídia nacional, repercutem aleivosias sobre um concurso que deveria ser saudado para o bem do serviço público.
*Ipea - Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas

3 comentários:

Anônimo disse...

Finalmente alguém com coragem para falar o que é correto. De fato, as notícias veiculadas sobre seja lá o que for do Ipea provem de uma só fonte, com o tradicional ranço liberal. Muito boa análise. Um grande abraço.

Rona

Anônimo disse...

Também parabenizo a você pela cobertura. Um único pedido: dá prá dizer quem é a fonte não-concursada? Um abraço,

Anônimo disse...

Flávio,

Digo que foi "até" interessante ver um ponto de vista contrário ao que se tem dito. Mas foi apenas interessante...e triste!

Somente comentando alguns tópicos:

"O concurso do IPEA teve 15 provas diferenciadas e 1.200 questões, no conjunto dessas provas. Ater-se a três ou quatro questões, com críticas infundadas quando não equivocadas é, no mínimo, surpreendente." No blog espectro economico tem pelo menos 10 questões. Mas isso foi apenas o Top 10. Se você soubesse alguma coisa de economia saberia que cobrar o que se cobrou em econometria é no mínimo, uma piada de mal gosto.

"Não é por outra razão que desinformados e mal intencionados defensores do desmonte do Estado brasileiro". Como você se autodefine, é um partidário do PT. Aí acaba toda e qualquer credibilidade do discurso.

"face questões de conteúdo marcadamente ideológico e não técnico." . Você realmente não concorda com isso? Talvez seja porque você não conheça a "técnica".

"elebrar o fato de o Instituto, um órgão de Estado, após tanto tempo realizar concurso público para reforçar seus quadros, ampliando o alcance de suas atividades de pesquisa, análise e de prospecção da vida econômica do país." Do jeito como foi feito, era melhor não ter feito. Gastar R$ 11 mil com pessoas mal qualificadas não me parece uma atitude inteligente num país escasso de recursos como nosso.

"o mercado financeiro, com suas demandas por ganhos e vantagens sempre na contramão dos interesses verdadeiramente públicos.." É, sempre ele, o mercado financeiro. O diabo personificado. Esse comentário é de uma ingenuidade tamanha que é melhor nem comentar.

Por fim, uma sugestão profissional: volta a ser jornalista porque de economia você não entende nada.

T.