quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

JUROS ZERO NOS EUA, E AGORA LULA?

Enquanto nos Estados Unidos, onde está centro da crise econômica, o Banco Central zera os seus juros, numa decisão considerada histórica para tentar reativar o crédito e estimular o consumo, por aqui o presidente do Banco Central, Henrique Meireles, e a sua turma, hesitam em reduzir os juros, isto é, a área econômica do governo edita medidas com a mesma finalidade da adotada nos EUA e a nossa autoridade monetária boicota.
Uma das poucas unanimidades existentes no país atualmente, que une políticos e economistas das mais diferentes orientações doutrinárias é a constatação de que a taxa de juros praticada no país deve cair, tanto antes mais ainda após o advento da crise, pois como defendeu recentemente em artigo na Folha de São Paulo, o economista Paulo Nogueira Batista Junior, “o risco atual não é a inflação, mas a recessão”, que já contaminou a economia norte-americana e européia. Será que estão esperando que o Brasil chegue ao ponto que aqueles países chegaram, para tomarem em relação à taxa de juros as medidas que eles já tomaram?
O presidente Lula, malgrado as suas conhecidas qualidades de governante, mais uma vez ratificadas em recentes pesquisas de opinião, tem certa vocação para “advogado do diabo” e ser “mais realista do que o Rei”. Durante oito anos de neoliberalismo no país, liderado pele ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o Banco Central foi parte integrante da gestão econômica do governo, enquanto que no atual governo há seis anos opera com total autonomia, presidido pelo sujeito cuja trajetória profissional foi lastreada por uma das maiores instituições financeiras do mundo, um sujeito que é íntimo das finanças e estranho ao mundo da produção e do emprego. Um sujeito que já deveria ser demitido há muito tempo.

Portanto, não é capricho a insistência do presidente do Banco Central em manter os juros brasileiros em taxa estratosférica, como observou recentemente o empresário Benjamin Steinbruch. Mas é da lógica da sua formação doutrinária, e dos interesses que representa no governo, que se guardavam alguma coerência com o período em que a economia brasileira foi conduzida por Antonio Palloci e pela “Carta aos Brasileiros”, num processo de continuidade da orientação do governo anterior, já no final do primeiro mandato do presidente Lula ela foi posta de lado em favor de uma política voltada para a produção e para o crescimento econômico. Parece que se esqueceram de avisar ao presidente do Banco Central.

Mais uma vez, como logo que assumiu a presidência, o presidente Lula não aproveita o respaldo popular que ostenta para fazer o que deve ser feito, e retirar esse corpo estranho da anatomia do governo. A política de juros zero norte-americana é um bom momento para isso.

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