14/10/2010
CONSTRANGEDOR: DOIS MOMENTOS NA VIDA DE MONICA SERRA
Nota da redação: Carta Maior considera a questão do aborto uma esfera de decisão íntima e soberana de cada mulher e dos casais. Cumpre ao Estado prover a dimensão pública cabível oferecendo condições de atendimento clínico dignas e adequadas para que em cada caso, e de acordo com as circunstancias e convicções espiritais de cada um, tome-se a decisão mais equilibrada e segura. Carta Maior não discute o tema em si ao veicular a reportagem --não contestada até agora-- do Correio do Brasil. Apenas expõe o grau de hipocrisia e o farisaísmo de uma parte da elite deste país que, antes durante e depois dos períodos eleitorais, arvora-se em sentinela de direitos e valores regularmente violados em sua rotina privada e pública. Neste e em outros casos demarcadores da rastejante campanha eleitoral em curso, embala-a uma certeza esférica: a da existência de duas classes imiscíveis de cidadãos e cidadãs brasileiros; aqueles nascidos para mandar e manipular e os que foram feitos para obedecer sem discutir.
Ex-alunas de Monica Serra confirmam relato sobre aborto
Correio do Brasil --14/10/2010 15:06
Monica Serra optou por não se pronunciar sobre relato de ex-alunas
Alunas da então professora de Psicologia do Desenvolvimento aplicada à Dança, no Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Monica Serra, confirmaram nesta quinta-feira estarem presentes à aula em que a mulher do presidenciável tucano, José Serra, relatou ter sido levada a interromper a gravidez, após quarto mês da concepção. A coreógrafa Sheila Canevacci Ribeiro revelou o fato após o debate realizado domingo, na Rede Bandeirantes de TV, em sua página na rede social Facebook.
Colega de Sheila Ribeiro, a professora de Dança de um instituto federal de Brasília, que preferiu não ter o seu nome citado “por medo do que essa gente pode fazer”, afirmou, lembra que no primeiro semestre de 1992, no segundo período que cursava na Unicamp, o depoimento de Monica Serra a impressionou. Ela estava sentada no chão em uma sala de dança, onde não há móveis e apenas um grande espelho e a barra de exercícios, ao lado das colegas Kátia Figueiredo, que mora atualmente na Suécia, Ana Carla Bianchi, Ana Carolina Melchert e Érika Sitrângulo Brandeburgo, entre outras estudantes, residentes aqui no país.
– Eu confirmo aqui o depoimento da Sheila Ribeiro. Foi aquilo mesmo. A professora Monica Serra nos relatou que havia feito um aborto em um período difícil da vida do casal, durante a ditadura militar. Foi um fato tocante, que marcou a todas nós. Lembro-me que o assunto surgiu quando ela falava sobre a dissociação do corpo e a imagem corporal, que até hoje dirige meu comportamento – disse.
Pressão
Sheila Ribeiro, após o protesto consignado em sua página, disse nesta quinta-feira que, apesar da pressão dos meios de comunicação e de eleitores de todo o país que passaram a visitá-la no Facebook, não se arrepende de ter relatado a sua indignação ao perceber a mudança de atitude da professora que, em 1992, revelava às alunas um episódio marcante na vida de qualquer mulher, como o aborto realizado diante o exílio iminente, ao lado do marido, e a possível primeira-dama que, em uma campanha política, acusa a adversária do casal de “matar criancinhas”.
– Pior do que isso foi o silêncio do Serra, que deveria ter saído em defesa da mulher, fosse qual fosse a situação em que se encontrava ali, diante das câmeras – emendou a ex-aluna de Monica Serra.
Coreógrafa e doutoranda em Comunicação e Semiótica, na PUC de São Paulo, Sheila Ribeiro mora em uma “praia linda” e, apesar de estar no centro de uma discussão que mobiliza o país, faz questão de seguir a sua rotina de estudos e de trabalho.
– Procuro me manter leve. Respiro – diz, emocionada.
Sheila tem recebido, ao lado de agressões de partidários dos dois candidatos, o apoio dos amigos e “mesmo de estranhos que entenderam a minha indignação”, afirma. Das colegas que estavam ao seu lado, na oportunidade em que a mulher do presidenciável tucano optou por revelar um momento difícil da vida, também recebe a solidariedade e o apoio.
– Estou aliviada por ter visto a Sheila questionar toda essa hipocrisia que permeia a sociedade brasileira. Ela foi muito corajosa e só merece nosso aplauso – conclui a colega que, hoje, mora em Brasília e se destaca pelo trabalho também na área da coreografia e da dança.
Sem resposta
Com as novas entrevistas realizadas pelo Correio do Brasil, nesta quinta-feira, a reportagem voltou a procurar o presidenciável tucano na tentativa de ouví-lo acerca dos depoimentos das ex-alunas da mulher dele, Monica Serra. O CdB o procurou, novamente, no Twitter, às 12h41:
“@joseserra_ Senhor candidato. Três outras ex-alunas confirmaram o relato sobre o aborto feito por sua esposa. O sr. poderia repercutir isso?”
Da mesma forma, foram encaminhados e-mails à assessoria de imprensa que, por intermédio de uma das assessoras, acusou o contato do CdB e ponderou que, se até o fechamento desta matéria, às 15h04, não houvesse qualquer resposta do candidato, como de fato não ocorreu, o fato deveria ser interpretado como sua recusa em tocar no assunto, em linha com a decisão tomada durante o debate.
Fonte: Agência Carta Maior
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Um comentário:
Na realidade, na prática ou na teoria de 2 questões, entre outras, colocadas nesse segundo turno,as mulheres são colocadas no centro de um mesmo preconceito de uma sociedade,em sua grande maioria,machista, hipócrita e preconceituosa.Quanto ao aborto: é o nosso corpo e a nossa cabeça que estão lá,decidindo, manipuladas ou não,e sofrendo as consequências diretas do ato.Na discussão sobre a sexualidade, se nos indignamos, somos preconceituosas,se não respondemos, omissas, e,se temos uma certa maneira de agir, "sapatonas",masculinizadas,lésbicas..Ou seja, os padrões não diferem tanto dos do séc XIX.Eu que já passei do XX pro XXI, às vezes, me eprgunto se,lamentavelmente, não retrocedemos..
Regina Almeida
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