quarta-feira, 22 de julho de 2009

COMENTÁRIO SOBRE O ÚLTIMO SUSPIRO DE SERRA

A razão e a vontade no último suspiro de Serra


O jornalista Luis Nassif, em seu excelente blog, postou um artigo no dia 20 de julho, onde analisa o cenário de disputa da sucessão do presidente Lula, em 2010, e chama atenção para uma possível ascensão do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, como candidato dos setores partidários e sociais refratários ao apoio a candidatura governista da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, nome praticamente escolhido pelo PT, à Presidência da República.


Com o título "O último suspiro de Serra", o artigo descreve supostas dificuldades que sinalizam uma lenta mas contínua caminhada para o isolamento político do governador de São Paulo, José Serra, líder em todas as pesquisas até o momento realizadas, que, caso não surja um fato novo, podem desidratá-lo para a disputa presidencial, abrindo espaço para a candidatura do governador mineiro.


Aécio Neves, segundo o artigo, cuja gestão é bem avaliada, tem revelado maior capacidade de articulação política com o mercado e com setores do empresariado e não ostenta a imagem de ruptura com o legado de um governo com alto grau de popularidade, como o do presidente Lula, encarnado pela candidatura Serra, que estaria inclusive envolvido nas articulações para a instalação da CPI da Petrobrás, como uma última tacada (ou suspiro como revela o título do artigo) para desestabilizar o governo federal e a candidatura Dilma.


Muito embora Aécio Neves, mais do que Serra, destaca o artigo, represente o retorno da (ir) racionalidade econômica que conduziu o mundo à crise atual. Ele representaria a ressurreição da dobrada Malan (Ministro da Fazenda) e Armínio Fraga (presidente do Banco Central), na condução da política econômica brasileira. Enfim, uma espécie de Alkimin (Geraldo Alkimin, candidato derrotado por Lula, em 2006), só que mais moderno, cosmopolita e sagaz. Coincidência ou não, Aécio apoiou Alkimin na disputa contra Serra pela indicação da candidatura tucana nas eleições presidenciais de 2006.


Vale destacar que o artigo, diante do cenário político-econômico atual e da perspectiva de melhoria dele em 2010, que sinalisa retomada do crescimento, atribui a candidatura de Dilma Rousseff, a despeito do que revelam as pesquisas, uma dose de favoritismo em relação as demais cogitadas. Segundo Nassif, isso ocorre porque "ela é apoiada pelo mais popular presidente da história moderna do país; fixa a imagem de boa gestora e conquista diversos setores empresariais colocando-se à disposição para conversas e soluções. O Plano Habitacional saiu dessas conversas; e Dilma avança sobre as bases empresariais de Serra, e Serra se indispôs com todos os movimentos sociais por seu estilo autoritário."


Aécio já revelou capacidade de reverter correlação de forças desfavorável, ao se eleger presidente da Câmara Federal, o que lhe conferiu visibilidade nacional, quando o acordo entre a coalizão tucano-pefelista que governava o país, avalisada pelo então presidente Fernando Henrique, era que o cargo fosse ocupado por um deputado do PFL (atualmente DEM).


Vira e mexe são divulgadas na mídia declarações atribuídas a lideranças, como o senador Sarney (agora em baixa), o deputado federal Ciro Gomes (PSB) e, estranhamente, do PDT, tratando de forma elogiosa a figura e a pretensão do governador mineiro. Essa mesma mídia, quando o governo ainda não sinalizava ter uma candidatura com viabilidade eleitoral, chegou a divulgar que o presidente Lula cogitava o nome de Aécio Neves como uma alterntativa governista, desde que pela sigla do PMDB, para enfrentar o favoritismo de Serra.


A questão é que Serra sabe disso tudo, e não subestima Aécio, e já deve ter preparada um saco de maldades para desestabilizá-lo, caso não obtenha com ele um acordo. Dizem que o surgimento do mensalão mineiro, que num primeiro momento se restringiu a atingir o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), fora uma demonstração disso. Lidera as pesquisas com folga, tem controle sobre a direção do seu partido, sobre a grande mídia e uma poderosa capacidade de arrecadação de recursos para ajudar aliados no processo eleitoral, como reconhece o artigo


Além disso, José Serra já ocupou todos os mais importantes cargos possíveis de uma trajetória política: deputado federal, secretário, ministro, senador, prefeito e segue o seu segundo mandato como governador de São Paulo. Só lhe falta a Presidência da República, e este talvez seja o seu último suspiro para alcançá-la


Com o apetite pelo poder que marca do seu perfil político, e a capacidade de lançar mão de todos os meios possíveis para atingir os seus objetivos, o que se deduz do artigo do Luis Nassif é que expressa mais uma vontade de ver Serra desalojado do cenário político, do que uma realidade palpável.


Principalmente para um político como Aécio que, ao contrário de Serra, tem ainda uma longa trajetória política pela frente e, por isso, pode se dar ao luxo de aguardar por ventos mais favoráveis, tanto na conjuntura interna do seu partido quanto a do país, se poupando do desgaste que pode sofrer a sua imagem pública, numa disputa direta com Serra.


Ganha com essa refrega a candidatura de Dilma Roussefff, que logrou unficar o PT, caminha para atingir o mesmo objetivo junto aos partidos do campo democrático e popular e está numa célere trajetória de ampliação de sua aceitação nos mais diversos setores sociais.

Nenhum comentário: