quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

RESPOSTAS À CRISE (INÍCIO)

Governo amplia o Bolsa Família

A decisão do governo Lula de ampliar a cobertura do Bolsa Família, sugestão saída de recentes estudos do Ipea e defendida neste blog, no artigo "É hora de conter a recessão" postado na última terça-feira, logo após o anúncio de contingenciamento de R$ 37,2 bilhões do orçamento da União, revela uma mediação entre vários pontos de vista presentes no seu interior, em relação as medidas necessárias para combater os impactos da crise no país, que já ostentam um razoável grau de gravidade.

Ao mesmo tempo revela a preocupação do governo com os aspectos simbólicos da crise no imaginário da população e dos agentes econômicos, ao se utilizar de um mecanismo comum ao repertório popular – tão ao gosto do presidente Lula - de comunicar decisões: primeiro uma notícia ruim (contingenciamento) e depois uma boa (ampliação do Bolsa Família), que guarda proximidade com os ensinamentos de célebre pensador renascentista, o italiano Nicolau Maquiavel, para muitos o precursor da ciência política moderna.

Mas tal mediação na política fiscal, na minha opinião, pressupõe uma contrapartida, ou é uma resposta, a política monetária conduzida com inusitada autonomia – maior em relação ao governo do que ao mercado - pelo Banco Central (BC), que sob forte pressão reduziu recentemente em um ponto percentual a Taxa Selic (de juros), agora em 12.75%, de que a área econômica do governo está fazendo a sua parte, e que o BC deve acelerar a sua.

Uma parcela do conservadorismo econômico nativo– com forte (ou total) presença na composição do Comitê de Política Monetária (Copom), colegiado do BC que define a taxa de juro - que tremula amiúde a bandeira do ajuste fiscal (corte de gastos públicos) justifica a cautela da política monetária para conter uma distante e, segundo os estudos e expectativas disponíveis, improvável, escalada inflacionária, acusando o governo de gastar muito. E mesmo diante da perspectiva de avanço do processo recessivo imposto pela crise, mantém intacto este “mantra”. Não é por acaso que o anúncio da ampliação da cobertura do Bolsa Família não é bem visto por esses setores, e o noticiário jornalístico demonstra isso com clareza. Agora está na hora da revisão da política monetária que será tratada na postagem que segue.

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