sábado, 31 de janeiro de 2009

O CHOQUE DE ORDEM NO RIO

E a desordem organizada do carioca

Algumas medidas que a prefeitura adota para controlar a desordem urbana no Rio podem invadir um terreno perigoso, como esse blog alertara em artigo anterior: o cerceamento da liberdade de manifestações que são próprias do cotidiano da cidade e se afiguram conquistas da cidadania carioca.

Trato no presente artigo de iniciativas culturais populares, públicas e gratuitas, que se espalham por toda a cidade, como shows, rodas de samba, espetáculos de diferentes matizes e naturezas, que se valem de formas de organização e adesões espontâneas, sem qualquer apoio público, salvo as exigidas solicitações de permissão às autoridades municipais e o respeito aos horários estabelecidos, que configuram o que eu chamo de desordem organizada carioca.

Aos poucos é retomado o saudável hábito carioca durante o dia e nos fins de semana, de se reunir em praças, ouvir música, jogar conversa fora, entre um e outro gole de cerveja, em torno de apresentações musicais e rodas de samba e choro. Começou há alguns anos na Rua General Glicério (o chorinho da Feira) e se estendeu para praças, como a Mauro Duarte (em Botafogo) e São Salvador (entre os bairros do Flamengo e Laranjeiras). Mais recentemente surgiram rodas de samba, como a da Rua do Ouvidor (Centro), e outras na esteira de feiras como a da Rua do Lavradio (primeiro sábado do mês) e do Mercado (segundo sábado do mês). Sem falar nas de sempre dos subúrbios da Leopoldina (Ramos-Cacique, Vila da Penha, do saudoso, Luiz Carlos) e da Central (Madureira, de Império, da Serrinha, e da Portela, Irajá, do Bohêmios), além, é claro, de Tijuca e Vila Isabel

Fenômeno semelhante ocorreu há pouco mais de 20 anos, com o surgimento de diversos blocos de carnaval de rua, nas zonas sul e norte da cidade, como resposta ao esvaziamento dos desfiles da Avenida Rio Branco e do carnaval de rua em geral, motivados pela total ausência do poder público, na principal manifestação festiva da cidade do Rio de Janeiro. O carnaval fora confinado ao desfile das Escolas de Samba na Avenida Marquês de Sapucaí, cuja gestão no período César Maia foi transferida aos banqueiros do jogo de bicho que controlam a Liesa – Liga das Escolas de Samba . O que se constitui, aí sim, numa desordem urbana de fato e de direito, sobre a qual até o prezado momento o prefeito Eduardo Paes e o seu “Choque de Órdem” não se manifestaram.

Portanto, reprimir tais manifestações espontâneas, como ocorreu recentemente na Praça São Salvador, retirando mesas lá colocadas – não pelo comerciante interessado em ampliar os seus lucros -, mas pelos próprios freqüentadores em busca de maior comodidade, num evento gratuito que ocorre num domingo entre 12 e 16 horas da tarde, ou cobrar que os blocos responsáveis pelo ressurgimento do carnaval de rua na cidade do Rio de Janeiro, sem qualquer apoio público, arquem com as despesas totais de seus desfiles, como segurança e higiene, algo que alguns parcialmente fazem com o que arrecadam com venda de camisetas e ensaios – mas nem todos logram – é coisa de quem foi criado em condomínios da Barra da Tijuca – , para alguns, mas não para todos de lá e de cá, um enclave na cidade do Rio de Janeiro.

De quem iniciou na política com um mentor que não gosta de carnaval, nem de arte popular e que acha que cultura é única e exclusivamente um negócio, no caso do Sambródomo, nada republicano.

Um comentário:

André Barros disse...

ISTO É QUE É UM ARTIGO DE UM VERDADEIRO JORNALISTA CARIOCA.
ANDRÉ BARROS