quinta-feira, 19 de maio de 2011

O DILEMA DA AVENIDA PAULISTA NO CASO PALOCCI

Entre a necessidade e a cautela

Em todo este episódio que envolve o vultoso crescimento patrimonial do ministro da Casa Civil Antonio Palocci, o que chama a atenção são os movimentos contraditórios de setores da oposição ao governo Dilma, em especial os tucanos de alta plumagem, como parte da mídia costuma se referir a lideranças como Fernando Henrique Cardoso, José Serra e o senador Aécio Neves.

Enquanto o baixo clero do PSDB e dos seus aliados do DEM e do PPS, a partir do amplo destaque que a mídia concede ao assunto, se movem no sentido de extrair dividendos políticos com a exposição e desgaste do ministro, que na forma de blague comenta-se ser o melhor exemplo de mobilidade social da era Lula, a turma do andar de cima desses partidos, como diria o jornalista Élio Gáspari, opta pela moderação ou pela omissão.

A quem interessar, a mais cristalina explicação para tal cerimônia está, a meu juizo, disponível hoje na coluna de Merval Pereira, de O Globo concentrada nesses três parágrafos:

" ..E os dois principais líderes do PSDB, o ex-governador José Serra e o senador Aécio Neves, ficaram cheio (sic) de dedos ao falar do assunto, a refletir uma sensação generalizada entre os tucanos quando alguem que representa "o lado bom" do PT está em apuros".

"Na verdade, foi Palocci, depois de convencido por Armínio Fraga, que convenceu Lula de que o melhor seria continuar seguindo a política econômica do governo Fernando Henrique. E certa vez teve a coragem de dizer que o ex-ministro Pedro Malan merecia uma estátua por ter conseguido organizar o sistema bancário brasileiro"

"Por essas e outras, a oposição trata o caso do enriquecimento de Palocci com mais cuidado do que seria de se esperar de uma oposição que há muito está sem rumo e sem uma brecha para exercer o papel que lhe foi determinado pelas urnas"

Se isso reflete o que ora se assiste, a conclusão é livre. De fato, entre a necessidade e a cautela se situa em torno deste tema a oposição ao governo Dilma. Isto é: entre surfar em fatos políticos que a coloquem na ofensiva e, por sua vez, não detonar a principal ponte de interlocução dos interesses da turma da av. Paulista ( a Wall Street tupiniquim) que representa, junto a este mesmo governo.

O pior é a defesa de Palocci se basear em procedimentos semelhantes aos dessa turma que tem vínculos orgânicos com a av. Paulista, e os exerceu em toda a plenitude no período em que integrou o governo Fernando Henrique. Muitos deles que, ao fim e ao cabo, se tornaram banqueiros , voltaram para os bancos onde atuavam ou viraram executivos, consultores de empresas que foram beneficiadas pelo processo de privatização.

Algo que a oposição petista ao governo Fernando Henrique denunciou duramente e com total autoridade. A relação promíscua entre aquele governo e os seus principais integrantes, com o mercado financeiro e parcela do empresariado nacional e transnacional, que se refletia na orientação econômica de transferir ativos públicos e estatais para o setor privado, sob o patrocínio/financiamento do Estado brasileiro, através do BNDES.

No mais, as atividades de Palocci estão cobertas pela legalidade existente, estão? Mas resta saber quais os serviços ou os produtos, que sua empresa de consultoria oferecia a esta seleta clientela, que lhe permitiu auferir uma receita tão vultosa em tão curto espaço de tempo. Um ministro de Estado não pode ter um lado transparente, como deve ser a sua ação pública, e um lado protegido por sigilo, que é a sua atividade privada. Um Janus, o Deus romano de duas caras.

Carlos Antonio Cavalcanti, jornalista

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