Na coluna “Sextante” de CartaCapital da última semana de abril de 2010, sob o título “O oleiro de Altamira”, fiz menção a alguns problemas que estavam retardando as autorizações para o início das obras da hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, no Pará. Como os brasileiros bem informados sabem, a discussão sobre a viabilidade da construção da usina sem causar danos ao meio ambiente amazônico segurou a decisão pelos últimos 20 anos, de 1985 a 2005, praticamente.
Viu-se que (como sói acontecer) uma boa parte das alegações contrárias à execução desse importante projeto hidrelétrico não se justificava, à luz dos evidentes benefícios que ele produzirá para as populações e para o desenvolvimento econômico e social de toda aquela imensa região. A demora foi absurda, mas o debate era necessário, como deve ser num sistema republicano.
Da mesma forma que em Jirau e Santo Antônio, sobre o Rio Madeira, na extremidade oriental da Amazônia brasileira, em que as obras estão gerando empregos diretos para mais de 30 mil trabalhadores e indiretos para populações superiores a 100 mil habitantes, em Rondônia, Mato Grosso e Acre, o início das obras no Xingu vai resgatar para o trabalho um contingente semelhante de brasileiros em Altamira e em dezenas de pequenos outros municípios esquecidos da grande floresta.
Houve uma mudança importante, decisiva, que começou no governo Lula e segue com a presidenta Dilma na forma de cuidar do desenvolvimento da matriz energética brasileira, quebrando o tabu que impedia a utilização do formidável potencial hídrico da Amazônia para a produção de eletricidade limpa. O Brasil está dando ao mundo uma demonstração de que pode aproveitá-lo sem permitir os danos ambientais que tanto “preocupam” as ONGs fajutas que se intitulam “verdadeiros amigos da floresta”. A grande maioria jamais fez sequer um sobrevoo da região!
O viés ideológico e a manifesta má vontade de analistas dos mercados financeiros e comentaristas econômicos em relação ao governo Lula impedem muitos de reconhecer a importância daquelas decisões que estão construindo uma nova história de desenvolvimento para o “continente” amazônico. Ao participar do seminário Energen Latam – 2011, no fim do mês passado, no Rio de Janeiro, Gisela Forattini, diretora do Ibama (agora “sob nova direção”) teve a oportunidade de rebater as críticas de alguns oportunistas que não tinham a menor ideia de como o processo de licenciamento foi conduzido no organismo de proteção ambiental: “A autorização de instalação do canteiro de obras – disse ela – obedeceu a critérios técnicos, após exaustivas discussões com mais de cem representantes dos diversos segmentos das sociedades envolvidas na região e fora dela.
“Foi uma licença tranquila, feita a partir de cinco pareceres de natureza técnica. É bom que isso fique bem claro” – afirmou a competente Gisela Forattini, concluindo: “Está demonstrado que há muita falta de informação da parte dos movimentos contrários à construção da usina em Belo Monte”.
Felizmente, os aspectos negativos dessas discussões vão sendo deixados de lado pela grande mídia nacional e mesmo estrangeira. Isso acontece quando as redações retomam (mesmo esporadicamente) o velho e sadio propósito de mandar apurar as coisas onde essas realmente acontecem, enviando seus repórteres à barranca do Rio Madeira (como fez há algum tempo o Wall Street Journal) ou a Altamira, no Xingu (no caso da Folha de S.Paulo).
Quem leu a reportagem no jornal americano com certeza se impressionou com a rapidez com que as construtoras selecionaram e treinaram 20 mil homens e mulheres para trabalhar nas barragens em menos de seis meses, com destaque para a ascenção profissional de uma faxineira de Porto Velho no quadro de serviços da empresa.
Já o jornal brasileiro certamente vai procurar reencontrar o simples oleiro na cidade de Altamira, que há seis meses não produzia um simples tijolo. Sua única esperança de sobrevida estava na instalação do canteiro de obras em Belo Monte, cuja licença finalmente foi concedida pelo Ibama na quarta-feira 26 de janeiro. Ele e aproximadamente 35 mil trabalhadores amazônicos vão ter a oportunidade sonhada há tanto tempo de participar da construção da terceira maior hidrelétrica do planeta, com capacidade de geração inferior apenas à da chinesa Três Gargantas e à da binacional Itaipu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário