quinta-feira, 3 de março de 2011

DILMA, ANA MARIA BRAGA E A LEI DOS MEDIOS

Dilma com Ana Maria Braga: a estratégia, a imagem e a notícia

3 março 2011 Sem Comentários

Por Paulo Henrique Amorim

01/03/2011

A estratégia política

Quando a presidenta Dilma foi à cerimônia de 90 anos da Folha de São Paulo, na semana passada, causou mal-estar em todos nós que apoiamos o governo Lula e a candidatura dela, contra o jornalão. Mas, como estratégia política, ela estava certa.

Ela colocou no bolso a oposição demo-tucana paulista e o PIG (Partido da Imprensa Golpista). A oposição, que já está na UTI, ficou menor ainda, foi desarmada, com ela sendo o centro da festa em pleno reduto oposicionista. De quebra, Dilma tomou a bandeira da liberdade de imprensa, daqueles que a criticavam justamente por isso.

Se nós sentimos mal-estar, pior foi para os reacionários demo-tucanos verem FHC, Alckmin, José Serra fazerem fila para beijar a mão da presidenta. Pior para eles foi ver FHC pedir audiência àquela que ele chamava de “poste”. A oposição sentiu o golpe, tanto que enquanto nós aqui discutimos abertamente, eles simplesmente abafaram o caso, tratando com descrição para reduzir danos.

O que dá prestígio a um jornal não é cerimônias como estas, por mais gente importante que compareça. O que dá prestígio a um jornal são notícias exclusivas. É preciso notar que Dilma não concedeu ao jornalão nenhuma entrevista exclusiva, nem antecipou nenhuma notícia do governo que pudesse ser manchete.

Dilma também será vista na Rede TV, onde gravou entrevista para a estréia do Programa da Hebe Camargo; e na TV Globo, no programa de Ana Maria Braga, gravado hoje, e que deve ir ao ar amanhã, em comemoração pelo Dia Internacional da Mulher.

Desta vez a Presidenta gravou entrevista (diferente do que fez na Folha), mas de novo, dosou a “ração” que oferece ao PIG. Pelo que antecipa o G1 (das organizações Globo), também não haverá “furos”, sendo uma conversa sobre amenidades, inclusive culinárias.

Obviamente que a Globo gostaria de uma entrevista da Presidenta no horário nobre, em um programa como o Fantástico, mas Dilma concedeu para um programa de nicho e para uma apresentadora que manteve-se isenta durante a campanha eleitoral (mesmo que tenha servido à oposição no passado como militante do fracassado movimento Cansei).

A imagem

Os telespectadores (na maioria telespectadoras) terão a oportunidade de prestar atenção no que ela diz, em vez do que dizem dela. Para o perfil da audiência desses programas, não é uma má decisão a Presidente aparecer como ela é.

É bastante provável que uma boa parte das telespectadoras destes programas tenham formado uma imagem deturpada da Presidenta pelo que ouviram dizer de homens que acompanham a política, e passem a ficar com uma boa imagem dela.

O problema é conseguir ganhos de imagem pelo lado do PIG, e perda da imagem junto à militância aguerrida do outro lado do PIG, que tem se sentido preterida, conforme inúmeros comentários sinceros na última semana, aqui e em diversos outros blogs.

O governo que Dilma está fazendo é, em essência, o que Lula faria se tivesse um terceiro mandato. As decisões que Dilma está tomando, tirando uma escolha ou outra, são as mesmas que Lula tomaria. Então, por que essa percepção não está chegando à militância?

Alguma coisa precisa ser feita para não baixar o moral da militância e não desestimular a mobilização conquistada, sem querer.

A notícia

A democratização dos meios de comunicação passa pela democratização da interlocução, e isso independe de novos marcos regulatórios. Depende da comunicação governamental diversificar os interlocutores com a sociedade.

Quantas vezes vimos no governo Lula, o presidente e a própria Dilma quando ministra, concederem entrevistas coletivas, e todo o PIG pinçarem trechos fora do contexto para usarem contra eles?

Era a blogosfera quem tinha que procurar a entrevista inteira e desmentir as artimanhas do PIG, travando uma verdadeira guerra pelo livre fluxo das notícias, sem a censura e manipulação do PIG.

O PIG teve sua lua-de-mel até com Lula no início do mandato, em 2003, quando as empresas de mídia estavam falidas e tentavam socorro no BNDES. Depois detonou-o, quando não conseguiram socorro, e conspiraram abertamente com um noticiário seletivo no “mensalão”.

É natural que o PIG tenha sua lua-de-mel com Dilma, agora no início do mandato, e que Dilma explore bem essa boa relação neste período, até como estratégia de fortalecer-se para batalhas futuras.

Mas é importante nunca perder o foco de fortalecer as outras mídias que fazem contraponto ao PIG, nem desmobilizar a militância, porque elas serão necessárias na hora em que a oposição sair da UTI, já nas eleições de 2012, e mais ainda quando despontar um candidato das elites realmente viável para 2014 (até mesmo dissidente da base governista), certamente apoiado pelo PIG.

Artigo republicado no Blog Conversa Afiado, originado do Site Amigos do Presidente Lula.

Clique aqui para ler diálogo com o Oráculo de Delfos, de título “Dilma vai fazer a Ley de Medios. Demora mas sai”.
“Dilma vai fazer a Ley de Medios. Demora mas sai”.
Ligo para o Oráculo.

Ele trocou de telefone e eu tinha perdido o novo número.

Tive que viver sem a sua sábia orientação por algum tempo.

- Querido Oráculo de Delfos, como está indo a Dilma ?

- Muito bem, responde ele, com secura quase impaciente.

- Muito bem, por que ?

- Porque está sendo ela e não ele.

- Caramba, Oráculo. Você está seco e forte. Diga lá: quando ela vai sair do palácio ? Ser mais ela para o povão ?

- Isso demora. Tem muita coisa que ela não pode fazer de uma hora para outra.

- Por exemplo …

- Mexer no Ministério. Tem que esperar mais um pouco.

- E ir à Folha, também foi um “muito bem”, como diz você ? Eu, de minha parte, fiquei uma fera.

- Você não entende nada de política.

- Entre outras coisas …, respondi com falsa humildade.

- E além do mais você está contaminado por São Paulo, que, como diria o Vinícius, é o túmulo da política brasileira.

- Tá legal. Vamos lá: ela fez bem em ir à Folha (*) ?

- Ela agiu certo.

- Certo ? E a ficha falsa, Oráculo ?

- Ela desmoralizou a Folha. Tiveram que elogiar ela. E o Estadão, também. Teve que elogiar ela. Esse PiG (**) aí – essa sua ideia fixa – esse PiG ficou sem graça.

- Percebo uma certa crítica.

- Você não alcançou a Dilma. Não teve estatura.

- De fato – reconheço, já irritado – de fato, eu sou mais para baixinho.

- Ela desarmou um Golpe.

- E ela vai fazer a Ley de Medios ?, pergunto.

- Vai !

- Vai mesmo ? O Paulo Bernardo parece murista …

- O Paulo Bernardo faz o que ela manda.

- Então, ele um dia sai do muro e faz a Ley de Medios.

- Vai.

- E por que vai ?

- Porque a Helena Chagas e o Paulo Bernardo não são o Helio Costa. E isso muda muito o quadro.

- E qual foi a ordem que a Dilma deu pra eles ?

- Não fazer o que o Helio Costa fazia. Isso é mudar da água para o vinho, meu filho. O Paulo Bernardo tem razão: você é muito ansioso.

- Então, Oráculo, você acha que vai haver uma … digamos … mudança do “marco regulatório” ?

- Demora, mas vai.

- Demora, por que ? O Paulo Bernardo precisa acertar com a Globo ?

- Lá vem você com essa mania ! Isso é um processo. É uma lei que não muda desde o João Goulart. É um processo. Não dá para mudar em dois meses.

- Mas, veja bem, caríssimo Oráculo: os primeiros movimentos da Dilma em relação à comunicação foram: Folha, Hebe Camargo e Ana Maria Braga.

- Ela está por cima da carne seca.

- Pode ser.

- Mas, você se esquece do principal. A primeira entrevista que ela deu depois de eleita foi à Record, não foi ? Não foi ao Casal 20, não.

- Casal 45, corrijo.

- Como você quiser.

- O Chico Viana deu uma entrevista ao Globo em que pede para ela sair do palácio, se misturar com o povo.

- Dilma não vai concorrer com Lula. Ela é outro animal político. Ela quer ver o resultado.

- E a ida do Kassab para o Partido Socialista Brasileiro ?

- Nunca haverá partidos políticos no Brasil.

- Nunca ?

- Nunca, com essa lei.

- E qual é a do PSB ?

- Quer juntar, fazer frente, ser um partido de presença nacional.

- Mas, Kassab, Oráculo ? Logo o Kassab ?

- Me diga uma coisa: qual a diferença entre Kassab e Eduardo Cunha, Moreira Franco ?

- Tá certo. O Dr Getulio se aliou ao Ademar, em São Paulo.

- Tá vendo ?, pergunta o Oráculo.

- O fundador do PSB, o Dr Arraes concordaria com o Kassab ?

- Dr Arraes fez muita aliança braba. Em Pernambuco, ele se aliou ao empresário Antonio Farias que era direitona braba.

- E a estreia do Aécio no Senado ?

- Tímida.

- Por que “tímida” ?

- Porque não foi uma estreia de candidato a Presidente da República.

- Qual é o problema do Aécio ?

- De geografia, meu filho.

- Geografia ?

- Sim, ele não consegue cruzar a fronteira de Minas para São Paulo.

- E o PiG não deixa.

- Jamais deixará. O teu PiG é de São Paulo, de 1932.

- E 1964.

- É a mesma coisa.

- E 2014, Oráculo ?

- Dilma com Eduardo Campos de vice.

- Pera aí, o vice sempre será do PMDB.

- O vice será Eduardo Campos.

Pano rápido.

Paulo Henrique Amorim

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