quarta-feira, 30 de março de 2011

BALANÇO DA VIAGEM DE DILMA À PORTUGAL

30/03/2011 - 20:17 | Vitor Sorano | Lisboa

Críticas ao mundo desenvolvido e apoio a Portugal dominaram viagem de Dilma

Os três dias de viagem a Portugal da presidente Dilma e de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, que acabou encurtada pela morte de José Alencar, teve duas constantes: críticas aos países desenvolvidos e às instituições multilaterais e a possibilidade de o Brasil ajudar os portugueses a saírem da crise financeira. Nenhuma decisão concreta, porém, foi anunciada publicamente.

Lula deu o tom do que falaria logo na segunda-feira à noite, após um jantar com o premiê José Sócrates e o ex-presidente Mario Soares, ambos do Partido Socialista. Com Portugal muito próximo de tornar-se o terceiro país da zona euro a sofrer intervenção pelo FMI, Lula fez críticas ao fundo.

“O FMI não resolve o problema de Portugal, como não resolveu o problema do Brasil, como não resolveu outros problemas. Toda a vez que o FMI tentou cuidar das dívidas dos países, o FMI criou mais problemas do que soluções", disse.

Na terça, após receber o prêmio Norte Sul do Conselho Europeu, o ex-presidente voltou ao tema da crise portuguesa. Dessa vez, o alvo foi a forma como o núcleo duro da Europa deixou, em sua opinião, que a especulação financeira se espalhasse pelos países mais fracos da União.

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“Acho que o chamado bloco economicamente mais forte da Europa demorou para ajudar a Grécia. Demorou muito tempo, permitiu que a especulação migrasse para outros países e eu não acho isso correto”, afirmou. Lula defendeu também que os bancos europeus deveriam colocar dinheiro o mais rápido possível sem cobrar “as taxas de juros exorbitantes que estão querendo cobrar.”

A especulação financeira já tinha sido seu alvo um pouco antes, durante o discurso no Parlamento na entrega do prêmio. Para Lula, ela é causa, juntamente com uma ordem econômica internacional injusta, de rancores e mesmo de xenofobia. Lula ainda considerou “frouxos” os parâmetros de regulação do sistema, e atacou a especulação sobre commodities.

As barreiras comerciais foram outro tema comum. Dilma, em entrevista a uma TV portuguesa que foi ao ar no dia de sua chegada, falou sobre a triangulação que o Brasil está fazendo para driblar o protecionismo norte-americano. “Uma das formas de você chegar nos Estados Unidos pode se dar de maneira mais longa. Pode exportar para a China e ela exportar para os EUA.” A China é hoje o principal parceiro comercial brasileiro.

Vitor Sorano

A presidente Dilma Rousseff e seu colega português Cavaco Silva na Universidade de Coimbra.

Já Lula foi mais direto. Defendeu o avanço da Rodada de Doha, com redução e mesmo a extinção das barreiras comerciais.

Conselho de Segurança

Portugal, que hoje também ocupa uma cadeira rotativa no Conselho de Segurança da ONU, é defensor de uma vaga permanente para o Brasil. Com o assunto na pauta de Dilma, Lula partiu para o ataque sobre a falta de representatividade da instituição.

Em seus dois discursos em solo português – durante o prêmio Norte Sul e no doutoramento na Universidade de Coimbra – o ex-presidente defendeu a reforma do Conselho para refletir a nova geopolítica mundial.

Dilma também tratou do assunto. Na entrevista à TV afirmou que “o Brasil hoje é uma nação que, pela sua própria situação no mundo e pelo que atingiu, tem todas as condições de pleitear” o órgão.

Lula ainda criticou diretamente o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon. Perguntado se queria fazer parte da reforma da organização, o ex-mandatário negou. Mas disse que é preciso que o cargo seja ocupado por alguém mais “atuante que o atual”.

Dívida portuguesa

Na terça-feira, em meio à visita, a Standard & Poor's baixou o rating dos títulos da dívida portuguesa pela segunda vez em uma semana, para “BBB-”. A notação é apenas um degrau acima do da chamada “lixo”, na qual se encontram os papéis da Grécia.

O fato veio aumentar a pressão, refletida pela imprensa portuguesa, para que o governo brasileiro comprasse os papéis portugueses. Lula pregou solidariedade a Portugal desde sua chegada, mas também que a questão deveria ser tratada diretamente com Dilma.

A presidente falou sobre o assunto na terça-feira à noite, mas sem dar uma definição. Disse que o Banco Central do Brasil, por regra, só compra títulos com notação triplo A – muito acima, portanto, da condição dos portugueses. Porém, abriu a possibilidade, afirmando que papéis pior avaliados podem ser comprados em outras condições, por exemplo, com uma garantia real.

A reportagem entrou em contato com o Ministério da Fazenda para perguntar sobre montantes de títulos da dívida portuguesa detidos pelo Brasil, mas não obteve resposta. Em dezembro, o Ministro das Finanças de Portugal reuniu-se com seu colega brasileiro, Guido Mantega, para falar sobre o tema.

O premiê Sócrates e o presidente de Portugal, Cavaco Silva, evitaram a todo o custo tocar no assunto em Coimbra nesta quarta-feira (30/03). Sócrates afirmou que não gostaria de tratar de outra coisa que não o doutoramento de lula.

Abreviação

A morte do ex-vice-presidente José Alencar também veio abreviar a visita de Dilma a Portugal. Logo após a cerimônia de doutoramento de Lula, ela tomou um avião para Lisboa e, em seguida, partiu para o Brasil.

Pelo cronograma inicial, Dilma seria recebida hoje em um jantar pelo presidente da República. Nesse encontro, segundo o embaixador do Brasil em Portugal, Mário Vilalva, ela teria oportunidade para conversar com outras lideranças políticas. Entre elas, deveria estar o líder do Partido Social-Democrata, Pedro Passos Coelho, pré-candidato a premiê, e que pode substituir Sócrates nas eleições antecipadas, que deverão ser marcadas para junho.

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Fonte Opera Mundi

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