Nascido em 22 de julho de 1949 na cidade de Campos dos Goytacazes, Jorge Nunes estreou na fotografia aos 16 anos, quando chegou ao Rio e começou a trabalhar na Rio Gráfica Editora, demonstrando interesse em realizar outras tarefas para complementar o salário. Perguntaram o que gostaria de fazer e ele escolheu a fotografia, sem saber o que isso significava.
“Com uma Rolleyflex, deu seus primeiros cliques profissionais nas revistas da Rio Gráfica Garotas e Destino, dedicadas na época às fotonovelas, mas publicavam também contos e algumas matérias”, escreveu José Reinaldo Marques no perfil que idealizou para o fotojornalista em 2005, quando Nunes completou 40 anos de profissão e se preparava para lançar o site do Agência Prisma que criara 13 anos antes. Jorge trabalhou na Manchete, Editora Vecchi e os jornais Tribuna da Imprensa e O Dia. Participante ativo do movimento sindical, também atuou profissionalmente em sindicatos de várias categorias profissionais.
Com o golpe de Estado em 1964, abandonou temporariamente o trabalho em redação. “Era duro ser pautado para uma cobertura, chegar ao local e acabar sendo impedido de registrar o assunto por intervenção de agentes da ditadura”, disse. Isso o incomodava tanto que resolveu fazer fotografia comercial em estúdios. Voltou ao jornalismo a convite do colega e amigo Alcyr Cavalcanti para trabalhar na Tribuna em 1986. Em 1994 foi afastado do jornal O Dia, acusado de promover agitação devido às atividades sindicais, e tornar-se freelancer.
Ex-diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro e da ABI, Jorge Nunes considerava que o nível de trabalho dos repórteres fotográficos brasileiros é um dos melhores do mundo. Destacava os nomes de Nicolau Drey, Juvenil de Souza, Indalécio Vanderley, Walter Firmo, Evandro Teixeira e Sebastião Salgado. “Nosso fotojornalismo é de vanguarda, apesar do difícil acesso à tecnologia que já tivemos que enfrentar”, disse no depoimento a Alfredo Marques Viana.
Em dezembro passado, Jorge Nunes viajou para passar as festas de fim de ano na casa da filha em Brasília. Dias depois sentiu-se mal e exames revelaram que ele estava com câncer no intestino em processo de metástase. Voltou para o Rio de Janeiro e estava se tratando no Hospital do Câncer. Ele morreu nesta terça-feira (1º) às 13h50. O corpo está na Capela Três do Jardim da Saudade, em Paciência, e o enterro está marcado para as 14h, nesta quarta. Jorge Nunes deixa a mulher Edna Gonçalves e os filhos Fabíola, Igor, Rafael e André.
Site do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro
Morre o fotógrafo Jorge Nunes
O repórter fotográfico Jorge Nunes faleceu na tarde desta terça-feira, 1º de fevereiro, vítima de câncer. Ele atuou profissionalmente em jornais cariocas de grande circulação, como O Dia, e prestou serviços para o movimento sindical.
Jorge Nunes trabalhou durante vários anos no Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ), CUT e outras entidades. Tinha, também, destacada militância junto à categoria dos jornalistas, sendo ex-dirigente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), da Associação dos Repórteres Fotográficos (ARFOC) e do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro. O sepultamento está marcado para esta quarta-feira, 2 de fevereiro, às 14h, no Cemitério Jardim da Saudade, de Paciência, na Zona Oeste.
Diretores e empregados do Sindipetro-RJ, que tiveram o prazer de conviver com o saudoso companheiro, lamentam profundamente a sua perda e se solidarizam com os familiares.
Fonte: Agência Petroleira de Notícias
Depoimento do jornalista Nilo Sérgio Gomes
A nossa geração de jornalistas e sindicalistas, de gente da Comunicação e do Jornalismo que luta, no Brasil, desde o período infernal da ditadura militar-burguesa, por democratização dessa Comunicação, deste Jornalismo; gente que não temeu expor suas faces, suas caras; pois esta gente deixa rastros, vestígios e marcas das lutas pela liberdade, pela democracia a mais radical e popular possível a cada conjuntura; por sindicatos que sejam de luta, sindicatos pra lutarem!! Pois, além de tudo isso, chegamos ao tempo em que passamos a deixar, para além dos registros, dos vestígios, também as saudades de presenças que não mais se materializarão. Saudades sem corpos, pois corpos que se vão, no desvão de uma eternidade precária, para aonde vão se dissolvendo memórias, no amplo campo das lembranças insepultas, que permanecerão em nossos corações, em nossos pensamentos, como adubo e semente de novas consciências, novas formas de viver a vida, que não sejam egoístas, mesquinhas, voltadas para bens e interesses próprios a poucos e particulares.
Jorge Nunes agora irá se constituir em memórias, sim, no plural; de vários cantos e espaços por onde ele circulou, quase sempre com sua câmara, seu sorriso bonachão, sua disponibilidade quase intacta, sempre, sairão relatos, "causos", estórias e histórias deste cidadão que não negou a liberdade de ser, nem a necessária disciplina da luta, que sempre implica e resulta em renúncias, em adiamentos de uma felicidade que não será legítima se sob a opressão, pois ele é um desses que nunca negou-se à luta: é um dos "imprescindíveis" da bela canção que Mercedez Sosa celebrizou, a partir dos versos de Bertolt Brecht.
Perdemos um companheiro de copo, mas sobretudo de desafios. Terei que me acostumar a não ligar mais pro Jorge, quando tudo parecer difícil. E creio não ser o único... Em breve, Jorge, nos veremos; ou não. Apen as, e tão somente, estaremos na memória, ali entre a possibilidade da lembrança e a do esquecimento.
Vai lá, bom amigo. Você não nos esperou; e a vida nos surpreendeu a todos. Com nossos amigos comuns, beberemos e conversaremos, muito, em sua memória.
Inté, camarada. Nilo.
Nilo Sergio S. Gomes
Jornalista e pesquisador
Professor da ECO/UFRJ
Comentário do Editor deste Blog
Da mesma forma que o amigo e jornalista Nilo Sérgio, "Eu também terei que me acostumar a não ligar mais pro Jorge, quando tudo parecer difícil"
2 comentários:
Olá Flávio.
Eu me chamo Júlio César, e sou sobrinho de Jorge Nunes. Gostaria de agradecer por suas palavras neste blogo, assim como o de todos que têm deixado seus relatos sobre suas experiências de vida ao lado de meu tio.
Desde garoto, eu sempre gostava da presença do "Tio Jorge", com aquela cara de "Tiozão Italiano", sempre de bom humor. Vivia perguntando para ele sobre os tempos da ditadura e das coisas que ele presenciou.
De fato, cada um de nós poderíamos ficar descrevendo sobre fatos da vida dele por horas. E a cada um deles eu agradeço, de coração!
Em complemento ao Júlio, com as suas belas lembranças, agradeço a homenagem e solidariedade, aproveitando para comunicar sobre a MISSA DE 30 DIAS do nosso querido, amado e inesquecível JORGE NUNES.
Data: 02/03/2011 (quarta-feira)
Local: Igreja da Candelária - Centro- RJ.
Horas: 11:00
(Por favor, divulguem.)
Edina Gonçalves
famíliares e amigos.
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