quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

UMA MENSAGEM DE VIRADA DE ANO

Que venha 2011!

Gostei da minha primeira experiência como cronista de efemérides A mensagem de Natal que enviei foi bem recebida pelos amigos, até elogiada por alguns. Afinal de contas, amigo é prá essas coisas.
Me estimulou a escrever outra crônica sobre a virada do ano, espero que vocês gostem, se não gostarem, paciência, eu gostei! Vamos a ela.

Costumo dizer que os festejos pela chegada de um novo ano são a antítese do natal, malgrado festejados um tão perto do outro. O primeiro uma festa pagã, com oferenda sim, mas pagã. O outro carregado de religiosidade. Num viceja o porvir, ou uma vertigem do porvir, o desconhecido, o outro a tradição. Daí uns preferirem uma a outra efeméride. Embora seja inevitável concluir que em ambas encerre uma síntese, porque tese e antítese. A vida de cada um e de todos nós.

As crianças lamentam a passagem tão lenta de cada ano. Querem crescer, ficarem adultos, para gozarem de prerrogativas que julgam serem dos mais velhos. Há sempre nas crianças uma indisfarçável admiração pelo amigo mais velho, mais esperto, mais vivido. Na criança a diferença de um ano é abismal, para os adultos é algo imperceptível. Ser criança também é um pouco isso, comparações recorrentes, objetividade sem muitas delongas,"só quero saber do que pode dar certo não tenho tempo a perder ..", como cantam os Titãs, a partir da poesia do eterno e saudoso iconoclasta,Torquato Neto

Já com os adultos ocorre justamente o contrário. Cada vez os anos passam rápido demais, o outrora está cada vez mais distante. Estes, talvez, sejam os mais irrequietos com a virada de um ano, muito embora tal caracterísitica seja mais comum as crianças, irrequietas por natureza. Se as crianças não têm tempo a perder, os adultos querem ganhar tempo, para resolver pendengas, revisitar atitudes passadas, recuperar amores irrecuperáveis, ou sucumbir a novos amores.

Para as crianças, uma virada de ano tem pouco relevância, elas sonham virar décadas, depois se arrependerão, é claro. Mas não adianta buscar convencê-las. Faz parte. Já para os adultos é definitiva. "Esse ano não vai ser igual aquele que passou, eu não brinquei, você também não brincou ..", famosa marchinha de carnaval, que, a meu juizo, traduz o paroxismo adulto diante de mais uma virada de ano. Para o adulto cada passagem é a perspectiva de uma virada individual, mesmo que esta não se realize no ano em perspectiva, é transferida para a próxima passagem .... "A sorte está lançada (Alea jact est)", como disse Caio Julio Cesar.

Logo, a virada do ano é uma festa de adultos, que as crianças tendem a se auto excluirem, ou torcerem para acabar, não é lá a praia delas., ao contrário do Natal. Muito tumulto, fogos, barulho e adultos, muitos adultos, falando alto, e entre um e outro gole, contando as mesmas histórias, as mesmas piadas

Eu já sobrevivi a várias e diversas experiências de viradas, como todo mundo, ora boas, ora frustrantes. Já virei ano num engafamento, dentro de um automóvel em plena Copacabana com uma ex-namorada, que há cerca de uma hora era namorada. Acabou alí, na véspera da virada. O trânsito adiou a separação de corpos que mal se olhavam, aliás, mal se respiravam Já virei ano carbonizado pela chama da paixão, do amor que se descobria e aromatizava todo um ambiente. Do tipo: "Nada é igual a ela e eu". Enfim, já passei só e feliz, já passei junto e infeliz. Ou o contrário. Nada é garantia de nada à priori. Já vibrei com passagens de anos de realizações incontestes, que não se confirmaram no porvir. Ou o contrário.

Mas há um vértice, um sentido comum, mesmo que as vezes inconfessável, seja por arrogância, seja por ignorância, de esperança no novo que se inicia, de retomada de um novo ciclo. "De não deixar nada mais que as cinzas do cigarro e a marca do meu abraço em seu corpo .. De não querer ver as coisas passando, mas querer passar com elas", como na bela Movimento dos Barcos, de Capinam e Macalé, imortalizada pela voz de Maria Bethania.

Que venha então 2011. Pois longe de me sentir, ou me perceber uma criança, ou um jovem, ao contrário do poeta maior, Carlos Drumond de Andrade, que já octogenário confessou a vertigem de ter a mesma idade temporal num corpo de 25 anos, mas como no soneto de Vinicius de Morais "o meu tempo é quando". Fico então com a inquietação - ou com a pureza da resposta, como festejava Gonzaguinha - das crianças e dos jovens: "Só quero saber do que pode dar certo, não tenho tempo a perder .."

Feliz Ano Novo para todos e todas

5 comentários:

Otilia disse...

Obrigada Flávio!!! Bjus e um FELIZ ANO NOVO prá ti e familiares.

procurandobernardo disse...

Excelente análise, acho Natal um saco, e Reveillon tem gosto de balada, de passar amando muito ou conhecendo gente nova. Festa pagã, é isso que eu gosto, afinal, sou filha de Yemanjá e Ogum, Feliz Ano Novo, Flávio

Katia Arantes

Unknown disse...

Muito Obrigada!Com certeza essa virada será inusitada e com certeza a melhor,porque tem uma pessoinha nova no pedaço,Caetano,o netinho amado.Feliz 2001 e grande abraço para você e os seus.Bela mensagem!

The Little Frog Boutique disse...

Muito Obrigado meu primo!Um beijo a sua linda família e parabéns pela chegada do Caetano!
Marcia, Leyla & Lara

Flávio Loureiro, disse...

Marcia, ganhei a virada de ano após saber que você segue o meu blog. Dá um grande beijo na tia Leila e na Lara. E um beijão especial prá você!