sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

UMA MENSAGEM DE NATAL PARA TODOS E TODAS

Natal, uma viajem no tempo

Hoje é véspera de Natal. Muito já se escreveu e se escreve sobre esta data. Para mim é, amiúde, uma viajem no tempo, além da tradicional confraternização com familiares, amigos e amores. É momento de lembrar, e de esquecer lembrando. Como sentenciou Veríssimo na postagem anterior a esta, todo o cronista já escreveu ou continua escrevendo crõnicas sobre o Natal, esta é a minha primeira. Não sei como me sairei.

A depender do momento de vida de cada um, o Natal tem um significado, mas há sempre um tom nostálgico que o envolve. Os meus natais sempre foram um momento de festa. Criança, primos, pais, tios, na casa da Vó Nair, na Penha, como não poderia deixar de ser, na expectativa dos presentes e da passagem do bom velhinho. Todos no mesmo quarto, coração pulsando, olhos semi abertos ou semi fechados, mas esperançosos. Mas o melhor da festa vinha depois, com a chegada de outros amigos e parentes e mais presentes, castanhas .. Mas o melhor mesmo veio depois, entre a adolescência e a idade adulta

Já adulto, a minha turma de familiares e amigos era do ziriquidum e do balacobaco. Samba, suor e cerveja. Começava de véspera ao arrepio da vizinhança e da Vó Nair, que, como Clementina de Jesus, era nossa e da Glória. Criou seis filhos de dois casamentos, numa época onde tal condição era considerada herética, gostava da muvuca, mas tinha que manter a autoridade de matriarca. E se comia ...muito. Minha mãe, minhas tias e Vó Nair eram mestres na culinária. Faziam coisas que aprenderam com a minha Bizavó, Vitória, ou Vó Luá, cozinheira de gente rica na zona sul, que se foi aos 106 anos de idade, quando eu tinha 12

Era querida e engraçada a Vó Luá. Já velhinha, no seu quartinho deitada, a maior alegria dela eram os beijos dos bisnetos quando iam visitá-la, como eu dava beijo nela, e quando alguem trazia pilhas novas para o seu radinho, para que ela pudesse escutar os jogos do Flamengo. Quem não era Flamengo, não era da família, embora dela participasse um tio e uma prima tricolores, queridos, mas isolados. Aí, já na reta final de sua passagem, o médico proibiu que ela ouvisse os jogos do Flamengo, não era bom para o já precário coração dela, ela se emovionava muito. Entre ela e o Flamengo, ficamos temporariamente com ela, e lá se foram as pilhas, mas permaneceram os infindáveis beijos.

O Flamengo sempre foi onipresente na minha família, tanto por parte de pai, também bom de bola, que chegou a treinar no clube, quanto de mãe. Meu avô materno, Todinho, foi conselheiro do Rubro Negro - tenho até hoje guardada a carteirinha dele -, amigo e contemporãneo de Fadel Fadel, Moreira Leite, Gilberto Cardoso, dirigentes históricos do mais querido naquela época, e de Flávio Costa, técnico da seleção brasileira de 50, do Flamengo e do vasco. Na varanda da casa dos meus avós maternos, em Magalhães Bastos, onde passei parte da infância comendo manga, goiaba e tendo dor de barriga, havia uma foto do Cauby Peixoto, minha mãe e minhas tias Fifina. Therezinha e Noemí, eram fazocas, e uma flâmula do Flamengo com os dizeres: você é bem vindo, mas não fale mal do Flamengo

Ufa, quantas lembranças. Mas, voltando a comemoração de Natal. Dia seguinte, 25, o povo pouco a pouco acordando, esparramado pelos vários cantos da casa, era o momento da recuperação de forças para dar sequência ao furdúncio. Começava pela sopa de entulhos - que, segundo meu pai, colocava tudo novamente no lugar -que preparava Tio Zé, ou Carlinhos do Alccol, como era conhecido pelos amigos da feira, onde trabalhava. Craque de bola na juventude, mas ao invés de seguir carreira de jogador do Flamengo, fora aprovado com louvor no teste que fez, preferiu a esbórnia. Companheiro de labuta na feira e amigo do pai da cantora Teresa Cristina, a quem conheceu pequeninha. Havia nele uma curiosidade que levei anos prá entender. Tanto meu pai quanto seus irmãos os nomes começavam com a letra C: Célio, meu padrinho, Celso, meu pai, Cecílio, já falecido, o que eu não entendia é porque um dos irmãos chamava-se Zé. Graças a feira eu descobrí que não era Zé, mas Carlos José, o Carlinhos do Alcool. Que, sóbrio, quando saia de madrugada para trabalhar, atropelado, fraturou o fêmur e nunca mais tomou cachaça, resignou-se a comportadas cervejinhas vez por outra. E largou a feira. Coisas do Tio Zé, exímio cozinheiro também.

Aí, saiamos para visitar os amigos da redondeza, Penha, Olaria, Ramos e Bonsucesso, não necessariamente nesta órdem. Passávamos na casa do Valter, amigo de juventude do meu paí, do tio Zé, do tio Cecílio, irmão do Sereno, do Grupo Fundo de Quintal e pandeirista de primeira. A turma que junto com Bira e Ubirany fundaram o Bloco do Índio, que depois tornou-se Cacique de Ramos. Depois, na casa da Tia Chiquita, irmã mais velha de Valter e de Sereno, mãe de Elza e de Emília, e primeira passista do Cacique, mestre nos solavancos, que ciscava bonito no terreiro levantando a barra da saia. Aí o bicho pegava, vez por outra aparecia um desses que hoje fazem grande sucesso e são cantados nas rodas de samba, como Jorge Aragão, o Mauro, um dos maiores e mais festejados tantãs, que eram da família de Chiquita, sobrinhos, que acompanhava Beth Carvalho em shows e discos. Além é claro do Bira e Ubirany. E tantos outros, era uma festa: samba, suor e cerveja.

Algumas histórias eram recorrentes e deliciosas - aliás, como todas as história de família. Como as da tia Selma, que como tia Sara- irmãs de meu pai -, a segunda exímia dançarina de salão, como minha mãe, Emília, meu pai e meu tio Cecílio, foi partner de dança de Trajano - um dos maiores dançarinos de salão da história, coreógrafo da ainda jovem TV Globo -, no velho Greip da Penha, que recebia atrações como Angela Maria e Cauby Peixoto. O must da época... Tia Selma sempre lembrava da semelhança do Gonzaguinha, filho de Odaléa, com os tios, vizinhos e amigos, que, segundo ela, apesar de esquálidos, como o sobrinho, eram bons de briga e não levavam desaforo para casa. Naquela época se brigava "na mão".

Foi um tempo e natais memoráveis, que como tudo na vida que é bom nunca acaba, pois permanece na nossa memória. Mas alguns dos protagonistas acabaram e aquela festa de Natal foi perdendo o sentido sem eles. Uns precocemente, como meu querido primo, quase irmão, Roberto, outros o tempo e o cansaço se encarregaram de levá-los. Mas permanecem todos comigo, em mim, na Beatriz, no Caio, meus filhos - por eles, sou eternamente agradecido a Angela Melim e Valéria Cysneiros - e no Caetano, meu neto, que nasceu há 16 dias. Agora vou pro almoço com Celso e Emília. Mais tarde ....quem sabe, tenho um convite difícil de recusar!

Feliz Natal para todos e todas!

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi Flávio, os seus natais, bem diferente dos meus, com gente anônima, na Tijuca, mas componentes de uma família alegre e unida-pelo menos foi o que ficou na lembrança..-,me trouxeram uma série de coisas, boas de se lembrar...Um beijão pra vc., família e neto novo, Caetano.
Feliz, realmente, Natal!
Bjs
Regina Almeida