quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

ANA DE HOLLANDA NA FOLHA DE SÃO PAULO

22/12/2010 - 17h24
Irmã de Chico Buarque promete dar novo rumo ao Ministério da Cultura

ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

Ana de Hollanda, cantora, compositora e atriz, passou hoje por sua primeira prova de fogo à frente do Ministério da Cultura (MinC).

A artista, que tem 62 anos, quatro CDs gravados e já se sentou em algumas cadeiras da administração cultural, recebeu a imprensa para a primeira conversa sobre seus planos para a pasta.

A entrevista aconteceu na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, no final da manhã de hoje.

Trajando um vestido florido, ornado por um colar de pedras, Hollanda tentou manter, o tempo todo, a postura da artista acessível, muito mais do que da ministra que se trancará no gabinete.

Da roupa que escolhera à maneira como cumprimentou cada um dos jornalistas, parecia ter o desejo de transmitir simplicidade e disposição para o diálogo.

Marcos Michael/Folhapress

Ana de Hollanda durante a entrevista de hoje no Rio

NOVO RUMO

Depois de apresentar uma breve histórico de sua trajetória na política cultural e de reconhecer que, no governo Lula, o MinC avançou, Ana passou a responder às perguntas.

A aparente calma só era desmentida pela voz que, vez por outra, falhava e ficava meio rouca.

Seu tom geral foi cuidadoso. Para cada questão, Ana tentava escolher as melhores palavras e dizia, o tempo todo, que precisa tomar pé da situação antes de definir o rumo de sua política.

Nas frestas da fala cautelosa ficou claro, porém, que haverá, sim, uma mudança de rumo no ministério que começou o governo Lula nas mãos de Gilberto Gil e terminou sob o comando de Juca Ferreira.

E essa mudança começará pelos dois principais cavalos de batalha de Ferreira: as reformas da lei Rouanet, já no Congresso, e da lei do direito autoral, cujo texto ainda está nas mãos do governo.

"É uma questão polêmica. Vamos ter que revê-la", admitiu, sobre o direito autoral. "Não podemos ser radicais. A chamada flexibilização do direito autoral já existe na prática. Um artista pode liberar suas músicas."

Ela também deixou em suspenso o destino da reforma da Lei Rouanet, que está em discussão no Congresso Nacional. "Já ouvi queixas raivosas contra a mudança e já ouvi elogios. Não vou buscar a lei no Congresso porque não tem como tirar, mas temos que acompanhá-la, e saber que emendas vamos defender."

EQUIPE

A nova ministra, que foi confirmada no cargo há dois dias, diz que ainda não teve de começar a formar sua equipe.

Mas fez elogios a Antonio Grassi _ um dos articuladores de seu nome junto ao PT _ e, ao encontro no BNDES, chegou acompanhada de Vitor Ortiz, que trabalha da Empresa Brasileira de Comunicações (EBC) e de Glauber Piva, um dos diretores da Agência Nacional de Cinema (Ancine).

Outro "ministeriável", o sociólogo Emir Sader, que chegou a ser cotado para o cargo, seria outra das figuras próximas a Ana neste momento.

"Também pretendo aproveitar os quadros atuais do ministério", disse, tentando desfazer a idéia de que haveria, agora, uma espécie de "higienização" da pasta.

DELICADEZA

Às inevitáveis perguntas sobre o irmão mais ilustre, Chico Buarque, Ana reservou um pedaço de sorriso, mas também uma cutucada.

"Já li nos jornais que minha escolha foi uma troca de gentilezas", disse. "Claro que não tem nada a ver. Não fui escolhida pelo meu irmão, mas por todo o trabalho que fiz nestes anos. A presidente sabia do meu trabalho na Funarte, da minha história."

Ana diz que Chico, como todos os irmãos, ficaram empolgados com a indicação e alvoroçados com a mudança. Ela é a sexta dos sete filhos de Sérgio Buarque de Hollanda e dona Maria Amélia.

"Vou ter que morar em Brasília!", diz ela que, apesar de nascida e criada em São Paulo, vive desde 2003 no Rio de Janeiro.

"Fui criada aqui e lá. Porque minha mãe é do Rio, meu pai era paulista...".

E aí foi inevitável a lembrança de que seu "avô era pernambucano, o seu bisavô mineiro e seu tataravô baiano", como cantou Chico Buarque.

"E é isso mesmo. É tudo verdade", diz ela, que também já é avó e tem, do irmão compositor, o mesmo sorriso marcante.

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