Dilma Roussef e José Serra têm a mesma origem política, a efervescência do movimento estudantil dos anos 60. Porém, a semelhança para por ai, já que desde aquela época o rumo que ambos tomavam diante de cada acontecimento, era diferente e assim o foi através dos tempos.
Ávido por poder como sempre foi, Serra não demorou a demonstrar habilidade para conquistá-lo. Era estudante de engenharia da USP quando se tornou presidente da União Nacional dos Estudantes. Porém, quando veio o golpe militar de 64, para amordaçar todos aqueles que ousassem denunciar a Cleptocracia que se erigiu a partir dele, o então maior líder do movimento estudantil a época, deixou o país imediatamente, para passar os 15 anos seguintes entre França, Chile e Estados Unidos onde se casou e teve duas filhas.
Dilma tomou um rumo bem diferente. Vinda de uma família conservadora de Minas gerais, ela se inseriu, menos por suas habilidades políticas e mais por sua determinação, no movimento estudantil que lutava nos anos 60 pela reforma agrária e urbana. Quando os militares assumiram, essa mesma determinação e sua inteligência, logo a tornaram uma das mais importantes colaboradoras dos movimentos clandestinos que resistiram aquele atentado contra a liberdade de todos os brasileiros e brasileiras e por causa disso, seu destino foi o mesmo de outros tantos heróis daquela época, os calabouços do Doops.
Entre o isolamento e as torturas para delatar seus companheiros, Dilma passou três anos presa por ter ousado lutar pelas liberdades civis e políticas dos brasileiros. Solta no final dos anos 70 foi para o Rio Grande do Sul, onde se casou, teve uma filha, formou-se em economia na UFRS e passou a trabalhar na Federação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul.
Embora não tenha iniciado sua vida publica através do PT, Dilma compartilhava com o movimento sindical que fundou o Partido, a visão de que a justiça social e o desenvolvimento do Brasil, não viriam através de acordos feitos por alguns engravatados em escritórios luxuosos, como queriam o PMDB e o PFL, mas sim, através da força dos trabalhadores organizados.
Assim, Dilma ajudou a organizar o PDT, partido das velhas lideranças do trabalhismo de Getulista Vargas, como Leonel Brizola e Alceu Collares. Entretanto, passados 20 anos, Dilma percebe que o Brasil e o mundo não eram os mesmo dos anos 60, e que o papel de transformar o pais agora, cabia a um partido que fosse organicamente ligado aos movimentos sociais e engajado na luta pelo socialismo, o Partido dos Trabalhadores, da qual ela faz parte desde o inicio da década.
Já Serra, com a anistia conquistada pelos movimentos sociais em 79, volta ao pais com apenas um objetivo: implementar por aqui o neoliberalismo, o conceito de democracia e desenvolvimento econômico que aprendera nos Estados Unidos, o mesmo país que 15 anos antes, apoiara decisivamente o golpe militar no Brasil, portanto, meramente uma continuidade do mesmo. E foi o que ele fez durante 20 anos.
Assim, Serra foi um dos principais mentores da implementação da política que vem destroçando a saúde e a educação pública no Estado de São Paulo nos últimos 30 anos. Levando a precarização das periferias das grandes cidades do estado, terreno fértil para a explosão do tráfico de drogas, gerando o crime organizado que se espalhou também pelo interior. Foi Secretário de Planejamento de Montoro, duas vezes Deputado Federal e senador, primeiro no PMDB de Quércia e Fleury e depois no PSDB de Covas e Alckmin.
Porém, foi no governo federal, na gestão Fernando Henrique Cardoso, a grande contribuição de Serra para a implementação do projeto que destruiu o Brasil. No Ministério do Planejamento no primeiro mandato de FHC, orquestrou a onda de privataria que mercantilizou os serviços públicos que sempre foram direitos do povo como a telefonia, e tirou do estado, qualquer possibilidade de promover o desenvolvimento social e econômico do pais. Já como Ministro de Saúde no segundo mandato, a despeito de alguns avanços na área farmacêutica, nada fez pela atenção básica e de urgência-emergência, transformando o Sistema Único de Saúde, um sonho para o movimento sanitarista brasileiro, em um pesadelo para os usuários desse sistema, tornando o Brasil um prato cheio para os tubarões dos planos de saúde privado, nacionais e estrangeiros.
O caminho de Dilma, nesses mesmos 20 anos, teve bem menos holofotes o que, aliás, nunca foi seu interesse. Foi assessora econômica da bancada do PDT na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, da qual também foi diretora. Foi Presidente da Federação de Economia e Estatística do estado, Secretária da Fazenda de Porto Alegre e Secretaria Estadual de Minas e Energia, nos governos Alceu Collares e Olívio Dutra, consagrando-se assim, como uma das melhores economistas do Brasil, profissão que, como tantas outras, é dominada pelos homens, o que dá a exata tônica do tamanho do desafio com que ela sempre teve que lhe dar.
Foi nas eleições de 2002, o primeiro grande embate entre essas duas trajetórias. Jose Serra, então candidato à presidência, representava a continuidade do governo FHC. Dilma por outro lado, já no PT, era uma das coordenadoras do programa de governo do então candidato Luis Inácio Lula da Silva. O Líder Operário, que por mais de 20 anos estava à frente da oposição do movimento popular contra a ditadura, depois ao inexpressivo governo Sarney e por fim ao projeto neoliberal implementado por Collor e continuado por Itamar Franco e FHC, vencera de forma acachapante o seu adversário e inimigo dos trabalhadores desse pais, José Serra.
Nos últimos oito anos com o governo Lula, o Brasil experimentou uma época de prosperidade jamais vista. Um governo que tratou pela primeira vez, as camadas economicamente mais baixas da população com a dignidade que elas merecem, através de programas sociais amplos e consistentes como o Bolsa Família, bem diferente das esmolas do chamado Bolsa Escola e Vale-Gás que pagava FHC. No governo Lula, o Brasil conquistou a estabilidade econômica e monetária que os tucanos nunca conseguiram apesar de todos os sacrifícios que impuseram aos brasileiros com esse fim, porém não se parou por ai, apostando na independência e soberania do Brasil, o governo Lula promoveu o fortalecimento do mercado interno e a diversificação das exportações e importações, fortalecendo as relações econômicas e políticas com todos os paises pobres e emergentes do mundo.
Foi à política externa brasileira, aliás, uma das principais marcas que diferenciaram o governo Lula do governo FHC, enquanto FHC buscava tornar o Brasil cada vez mais um serviçal dos interesses norte americanos e europeus Lula trabalha para fortalecer os órgãos multilaterais que dão mais poder os paises emergentes e ajudem os paises pobres, além de consolidar ainda mais a unidade política sul-americana, através da criação da Unasul e do fortalecimento do MERCOSUL. Isso, longe de causar repulsa da comunidade internacional, vem causando grande admiração dos maiores paises do mundo, tornando Lula uma das principais lideranças mundiais da atualidade, e o Brasil, como um importante ator nas questões econômicas e políticas mais importantes do mundo, especialmente nas questões de combate a pobreza, de preservação ambiental.
Dilma Roussef teve grande importância nesse processo, primeiro como Ministra de Minas Energia, implantou o programa Luz para Todos que levou o energia elétrica para todos os cantos do pais, e por fim, o processo de fortalecimento do Petrobrás, que, de a beira da privatização como estava no governo FHC, tornou-se a maior e melhor empresa do pais e referência mundial na prospecção de petróleo, trabalho que foi coroado com a localização das reservas de petróleo do Pré-sal que, quando devidamente explorada, colocarão o Brasil como um dos maiores produtores de petróleo do mundo. Já como ministra da Casa Civil, Dilma coordenou a criação e a implementação do Programa de Aceleração do Crescimento, Assim, pela primeira vez em décadas, o estado brasileiro teve a ousadia de criar e executar um amplo projeto de desenvolvimento econômico, que além de criar milhares e milhares de empregos, promove um salto de qualidade na infra-estrutura urbana, rural e energética do pais.
Serra por outro lado, depois de largar nas mãos de Kassab a prefeitura de São Paulo para assumir o governo do estado, mostrando mais uma vez a sua sede por poder. Faz um governo de continuidade do projeto neoliberal em São Paulo. Além de ampliar o processo de sucateamento e privatização dos serviços públicos do estado, vem seguindo a velha receita malufista, de criminalizar os movimentos sociais que lutam por saúde, educação e moradia, camuflando isso com a construção de obras faraônica e muita propaganda. Contando sempre com o apoio da grande mídia, com quem tem fortes relações pessoais e políticas.
Pela segunda vez, esses dois caminhos irão se cruzar, antes representando a continuidade de FHC, agora Serra, novamente candidato á presidência, representa uma volta ao passado, enquanto Dilma, agora candidata à presidência, representa a continuidade do projeto que vem tentando corrigir, nos últimos oito anos, as mazelas de um processo que entre o golpe de 64 e o ultimo ano do governo FHC, entregou o Brasil aos interesses dos estados unidos, em troca do sangue de milhões e milhões de brasileiros. A guerra para reverter esse quadro e construir uma sociedade mais justa e solidária é feita de várias batalhas, e esse ano, nós teremos mais uma dessas batalhas pela frente. Avante Brasileiros nada retrocessos, avante Brasil.
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