terça-feira, 28 de setembro de 2010

CENÁRIO DA ELEIÇÃO, POR RODRIGO VIANNA

AS BALAS DE PRATA: HAVERÁ SEGUNDO TURNO?

ATUALIZAÇÃO IMPORTANTE

Sexta passada escrevi o texto que se lê abaixo, explicando que a ”bala de prata” (o tal gesto desesperado de Serra, para forçar segundo turno) não era uma. Eram várias. Seguiram trajetórias e ritmos diferentes. E a somatória dessas balas – escrevia eu – produziu , sim, algum efeito: interrompeu a subida de Dilma e criou uma leve tendência de alta para Marina Silva.

Mostrei aos leitores, ainda, porque considerei sempre um erro menosprezar a capacidade de reação de Serra e de seus aliados midiáticos – como você pode ler aqui. Há dois ou três meses, bato nessa tecla. Alguns blogueiros e comentaristas me consideram exageradamente pessimista. Prefiro dizer que sou realista.

A decisão sobre haver ou não segundo turno – tenho dito sempre – deve se dar por margem muito estreita. Isso apesar de, nos Estados, os lulistas estarem em franca vantagem.

Pois bem, as notícias que chegaram da Barão de Limeira – na noite de segunda-feira – mostram que o “DataFolha” vai dar mais um alento a Serra: Marina cada vez mais perto de 15%, Serra mais perto de 30% e Dilma chegando a seu provável piso de 45% ou 46%.

Via twitter, o Renato Rovai – com suas boas fontes – é quem nos trouxe a informação, ainda antes do jornal de terça-feira rodar na gráfica. Vale a pena ler aqui a análise de Rovai em seu blog.

O quadro atual aponta para uma decisão no olho mecânico.

Claro que podemos desconfiar do DataFolha. Pelos números do Vox (tracking de segunda), Serra está com 24%, Marina com 13% e Dilma ainda nos 49% – o que indicaria margem mais tranquila para vitória petista no primeiro turno.

De toda forma, nunca é saudável brigar com os fatos. E o fato principal é: há uma tênue onda verde em marcha que – associada a ouros fatores – talvez seja suficiente para garantir segundo turno.

O que explica esse quadro? As balas de prata em série, como eu tentava explicar já na sexta-feira, no texto que se segue…

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(texto originalmente publicado dia 24 de setembro - quando, pelo DataFolha, Dilma tinha 49%, Serra 28% e Marina 12%)

Blogueiros e comentaristas passaram o último mês discutindo qual seria e quando chegaria a tal “bala de prata” lançada pela candidatura de Serra, no gesto desesperado de levar a eleição para o segundo turno.

Não percebemos, mas ela talvez já tenha vindo. Não era uma só, eram várias as balas de prata que passaram zunindo em muitas direções. Fizeram algum efeito: travaram o crescimento de Dilma, e deram algum alento a Marina.

Podemos listar aqui as balas de prata que já foram lançadas, e seguem a fazer eco na sociedade brasileira:

- o terrorismo da palavra nas igrejas; é um discurso difuso, para o qual a campanha de Dilma parece não ter-se preparado; segue a fazer estragos, com ecos na internet, levando eleitores evangélicos e católicos conservadores – especialmente na classe média de grandes cidades - a abraçar a candidatura de Marina;

- a campanha difamatória na internet; conduzida diretamente pelos tucanos (no caso dos videos recém-lançados no youtube), ou por uma militância conservadora difusa (que há meses abastece a rede com e-mails absurdos e maldosos), essa campanha serve mais para dar argumentos a quem já era contra Dilma e o PT;

- o terrorismo midiático; essa é a bala de prata mais manjada, e a mais fácil de responder, até pelo aprendizado que ficou de eleições passadas; ainda assim, provoca algum estrago; calculo que nesse setor ainda há os últimos ricochetes a aparecer na semana derradeira antes de 3 de outubro; a última aposta (depois dos casos da Receita e de Erenice) é a história do “autoritarismo petista”, numa tentativa de fazer parte dos eleitores apostarem num segundo turno.

Parece-me que o efeito dessas balas vai-se sentindo aos poucos: elas atingem de forma diferente as várias camadas da população. A maior parte do público acompanha a eleição com distanciamento, e leva 3 a 4 dias para se inteirar de boatos que atingem os mais engajados em poucas horas.

O serrismo a essa altura depende dessa somatória de balas de prata para sangrar (ainda que timidamente) a candidatura de Dilma. E aposta todas as fichas em reforçar a imagem de Marina. Já disse aqui algumas vezes que, para Serra, basta tirar votos de Dilma, ainda que eles não se transfiram para o tucano.

O efeito parece não ser suficiente para mudar o quadro a ponto de forçar segundo turno. Serra precisaria subir para perto de 30%, e Marina para algo em torno de 15%.

Não há, a não ser pelo DataFolha (suspeito?), sinais de que esse movimento se confirmará.

A favor da tese de que a eleição já estaria liquidada, há ainda o quadro eleitoral nos Estados - cada vez mais favorável ao lulismo:

- Tarso (PT) avança no Sul (e o petista Paim parece ter recuperado força para ganhar uma vaga no Senado);

- no Rio, Cabral deve arrasar Gabeira, e Cesar Maia corre risco de ficar em quarto lugar na disputa pelo Senado;

- em Pernambuco e no Amazonas, Maciel (DEM) e Artur Virgilio (PSDB) caminham para derrotas historicas na disputa pelo Senado;

- até no Paraná, o quadro parece complicado para os tucanos, a ponto de Beto Richa (PSDB) travar na Justiça a divulgaçãoo de novas pesquisas que devem trazer Osmar Das (PDT) cada vez mais forte na disputa pelo governo do Estado; para o Senado, devem ser eleitos Requião (PMDB) e Gleisi (PT).

Ou seja, o bombardeio midiático e conservador na internet concentrou-se em Dilma, e descuidou-se das disputas estaduais – o que pode facilitar a vida do lulismo.

Restaria uma incógnita: São Paulo.

Aqui, mais indícios de coisas estranhas nas pesquisas. E, de novo, o DataFolha em campo.

O instituto da Folha traz Alckmin praticamente imbativel, com 51%, e Mercadante com 23%. O Vox Populi acaba de trazer números díspares: Alckmin 40% e Mercadante com 28%. Pelo Vox, poderíamos caminhar para segundo turno em São Paulo: o que seria mais um indicativo de que as balas de prata arranharam Dilma, mas não contiveram o lulismo – o que pode levar a uma derrota ainda mais arrasadora de PSDB/DEM.

Por último, um dado importante: o PT entrou com ação para suspender a lei que exige dois documentos na votação, um indicativo de que o partido espera dificuldades para seu eleitorado – mais concentrado nas camadas populares – por conta dessa exigência. Já ouvi gente calculando que Dilma pode perder 1 de cada 10 votos por conta dos dois documentos.

Façamos uma conta. Se, apesar do bombardeio que ainda virá na última semana, a candidata petista chegar com algo em torno de 49% ou 50% dos votos totais no dia 3, poderia em tese ver sua votação recuar para 45% dos votos totais por conta das dificuldades provocadas pela exigência de dois documentos. Serra, tudo indica, não deve passar dos 28%, e Marina pode chegar a 14% se a onda verde pegar. Temos anda 1% para os outros candidatos. Teríamos, portanto, nos votos totais: Dilma 45% X outros candidatos 42%.

Minha aposta é que Dilma, se confirmar vitória no primeiro turno, deve obtê-la por uma margem pequena: algo em torno de 52% ou 53% dos votos válidos.

Se a onda verde crescer (hoje ainda é marolinha, mas será empurrada pela mídia), e o terrorismo midiático reaparecer na véspera da eleição, não acho impossível haver segundo turno – ainda que por margem muito estreita.

O quadro deve ser acompanhado com muita cautela até o dia 3.

A vitória de Dilma no primeiro turno é hoje a hipótese mais provável, mas não está garantida.

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