domingo, 24 de janeiro de 2010

DEBATE SOBRE PESQUISAS NO BLOG DO NASSIF

21/01/2010 - 15:48
A crítica às pesquisas eleitorais
Por Francisco Carvalho Venancio
Enviado em 21/01/2010 às 15:46

Esbarrei nesse texto na web: http://www.buscalegis.ufsc.br/revistas/index.php/buscalegis/article/viewFile/32729/31926
Entre outras coisas os autores dizem que as pesquisas eleitorais, da forma em que são feitas no brasil (por cotas), são excessivamente imprecisas. Afirmam que as “margens de erro” afirmadas pelos institutos de pesquisa são falsas, extrapoladas da fórmula para obter tais margens em pesquisas aleatórias. Seria impossível, segundo os autores descobrir qual a margem de erro presente em pesquisas por cotas. O metódo correto a ser usado em tais pesquisas seria o metido probabilísitico, preterido pelos institutos de pesquisa brasileiros devido ao seu custo e a sua demora. Os autores argumentam de forma convincente que melhor seria não fazer pesquisas eleitorias que fazê-las pelo mêtodo de amostragem por cotas, tal a imprecisão presente no método.
Não seria o caso de o TSE exigir que o método seja probalístico?

Sugiro a leitura do texto, curto e de fácil entendimento.

Por Marcos

Sinceramente, não concordo com o argumento do texto.

Trabalho em pesquisa de mercado e opinião há 24 anos e posso tentar contribuir com um pouco da minha experiência. Trata-se de um assunto extremamente técnico, mas que pode ser trocado em miúdos.

Vamos fazer um paralelo, por exemplo, com a Astronomia. A Humanidade não dispõe de recursos financeiros nem tecnológicos para realizar uma pesquisa de campo em Plutão, certo? Por causa disso, pergunto: melhor seria não fazer pesquisas sobre Plutão, do que fazê-las pelos métodos indiretos de observação, por causa da imprecisão presente nos métodos atuais?
Acho esse argumento retrógrado e característico dos que ficam enclausurados no “mundinho” acadêmico brasileiro e não dialogam com o mundo real.

Ciência e pesquisa — como, de resto, toda e qualquer atividade econômica — são realizados com recursos escassos, não ilimitados.

Se o método probabílistico inviabiliza economicamente a realização da sondagem de opinião num prazo razoável, deve-se buscar alternativas factíveis.

A amostragem por cotas é uma saída viável. E é importante salientar que os técnicos dos institutos, de modo geral, estão atentos à importância da questão da aleatorização, mesmo praticando amostragem por cotas. Na realidade, há uma combinação de procedimentos, para que as cotas sejam cumpridas observando determindados princípios de randomização dos indivíduos que farão parte da amostra. Ou seja, a seleção de entrevistados não é completamente intencional. Ela embute certo grau de aleatorização (embora não seja 100% probabilístico).
Os cálculos de margem de erro são aplicáveis, em teoria, a amostras probabilísticas. Mas, se é inviável realizar amostras probabilísticas puras, deve-se buscar adaptações da teoria à realidade da prática. Afinal, não se trata de um exercício puramente acadêmico. O pesquisador brasileiro precisa combinar criatividade e rigor técnico ao mesmo tempo. E é isso o que fazemos atualmente.

Diferentemente da Europa e dos EUA, cujas sociedades tendem a ser mais homogêneas, fazer pesquisa no Brasil é muito mais difícil. E, talvez por isso mesmo, os pesquisadores brasileiros estejam entre os mais respeitados mundo afora.

Atualmente, para realizar pesquisa de opinião numa sociedade tão desigual quanto o Brasil, é necessário assumir as limitações da amostragem probabilística, realizando conscientemente estudos por cotas. Mas, daí a deixar de fazer pesquisa de opinião são outros quinhentos…
Digamos que a divulgação de pesquisas de intenção de voto fosse definitivamente proibida. Restariam as pesquisas “internas”, isto é, para nortear as decisões de marketing de cada candidato. Nesse caso, não há qualquer interesse de manipulação, certo? Os candidatos querem conhecer a realidade de sua situação competitiva. Ainda assim, as pesquisas continuariam a ser alicerçadas em amostragem por cotas.

Portanto, essa crítica ao uso de amostragem por cotas me parece uma grande e superficial “marolinha” no mundo da comunicação social contemporânea.

para finalizar, uma última consideração: já não é sem tempo que se faz necessário distinguir entre os técnicos — os trabalhadores da pesquisa de opinião — e os donos de institutos de pesquisa. Infelizmente, não se pode elogiar os donos dos institutos com o mesmo fervor que se pode elogiar seus colaboradores técnicos. Muitas vezes, o dono do instituto não têm competência técnica para fazer comentários sobre as pesquisas que seus próprios (e competentes!) colaboradores produzem. Mas o fazem, motivados por interesses políticos. Aí está a verdadeira origem de toda essa celeuma.

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