quarta-feira, 21 de outubro de 2009

TV GLOBO NÃO ENGOLE OLIMPÍADAS NO RIO

Paulo Henrique Amorim: Globo quer tirar a Olimpíada do Rio

Vermelho

O Jornal Hoje dedicou 3 horas e 97 minutos à queda do helicóptero da Polícia e o consequente cancelamento do Rio como sede das Olimpíadas de 2016. A âncora Sandra Annenberg não conteve expressões de horror, perplexidade e condenação.

O PiG e a Globo recusam-se a aceitar que o Rio e o presidente Lula conseguiram trazer a Olimpíada para o Brasil. Se o governador do Rio fosse Carlos Lacerda e o presidente, Fernando Henrique Cardoso, a Globo e o PiG dariam ao episódio a exposição que conferem ao aumento do número de latrocínios e à epidemia de crack em São Paulo – clique aqui para ler

Destaque especial merece Rodrigo Bocardi, correspondente da Globo em Nova York. Bocardi é aquele que demonstrou a culpa do presidente Lula no desastre da TAM com a descoberta de uma moedinha de R$ 1 na pista molhada de Congonhas.

As intervenções deste repórter são muitos úteis. Ele consegue transferir ao espectador o corpo e a alma do que pensa Ali Kamel, o cérebro da Globo. Bocardi é Ali Kamel no vídeo.

De Nova York ele foi capaz de dizer o que Ali Kamel queria ouvir sobre a reação em Madri à queda do helicóptero no Rio. Além do mais, ele, como Kamel, tem o dom da ubiquidade.

Se o amigo navegante não leu o Mein Kampf, terá oportunidade de ler a colona de Clóvis Rossi na Folha. A fúria racista é a mesma. A relevância, infinitamente menor.

Mais a Folha é assim. Elitista, racista e irrelevante.

Em tempo: o Departamento Penitenciário Nacional (Depen), do Ministério da Justiça, negou que a ordem para a ação de bandidos no Morro dos Macacos, no Rio, tenha partido do presídio federal de Catanduvas. O PiG espalhou essa informação falsa para tentar matar dois coelhos com um tiro só — tirar a Olimpíada do Rio e atacar o governo Lula.

Comentário

A manchete do jornal O Globo de hoje atribui ao Secretario de Segurança do Estado, José Mariano Beltrame, a seguinte declaração: "governo federal não faz sua parte contra o tráfico". Se referia ele a responsabilidade constitucional deste ente da federação na vigilância das fronteiras e à repressão à circulação das drogas em território brasileiro e carioca.

É verdade, mas também é verdade não ser tarefa fácil num país com a extensão territorial do Brasil lograr tal objetivo. Os Estados Unidos, com um tamanho semelhante ao brasileiro e uma força policial reconhecidamente melhor aparelhada do que a brasileira e uma forte vigilância nas suas fronteiras, é o país de maior circulação e consumo de drogras no mundo, quer seja em termos absolutos, quer seja em termos relativos. Lá como aqui é prenhe de "territórios" que a polícia e o poder público não entram.

Mas, se um pressionado secretario de segurança resolve dividir ou transferir responsabilidade nos episódios ocorridos no último fim de semana, isso é explorada pela mídia como mau exemplo a ser divulgado ao mundo, e para muitos ganha estatuto de verdade única.

O problema da segurança no Rio e a dimensão que ele alcança é determinado por várias causas, não só eventuais falhas identificadas pelo secretário para se eximir da sua responsabilidade. Sabe-se que o grande passivo social, presente nas periferias e no interior das grandes cidades é a central, mas outra delas que merece destaque é o tom de espetaculo com que é tratado pela mídia, o que de certa forma ao tornar o episódio e os principais envolvidos nele, o poder público e a criminalidade, atores de uma mesma tragédia onde heróis e vilões se confundem no imaginário popular, diante de uma platéia ameaçada, acaba por estimulá-la.

É como (não) se cobre situações de suicídios em locais públicos como viadutos e estações de metrô e de trem, pouco divulgadas mediante acordo tácito entre a mídia e o poder público, para que não sirvam de instrumentos de estímulo a tais decisões extremas, já que os índices de tais ocorrências não são pequenos. Estudos psicológicos ensinam que todo suicida tende a conferir publicidade ao seu drama, em busca de cumplicidade e perdão. Aparecer na TV sobretudo é a glória mórbida.

Outra causa a ser destacada é a corrupção policial e as ramificações da criminalidade nos poderes legislativo, judiciário e executivo estadual, que dão guarida a tais atividades: as drogas e as armas fazem o longo percurso de entrarem no país e nas comunidades faveladas, mas não só nelas, mas em diversas áreas nobres do asfalto, isso não é possível sem a cumplicidade de parcelas daquelas esferas do poder.

Mas o pior dos mundos é uma certa mídia expor a cidade desta forma - parece que o problema da violência ligada ao tráfico de drogas e armas se reduz a cidade do Rio, mais do que isso, uma vocação da cidade - e muitas vezes conferirem ares de heroismo as avessas aos dois lados da refrega, na linha "o show deve continuar", com o objetivo de fazer disputa política na sociedade, ao inves de usar o seu poder de disseminação de informações e opiniões, para contribuir para o combate necessário a tal situação.

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