Sociólogo avalia que Lula concluiu "legado reacionário" de Vargas Luiz Werneck Vianna diz que sucessos do governo não podem deixar em segundo plano justiça social
CLAUDIA ANTUNES
ENVIADA A CAXAMBU (MG)
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva concluiu a "modernização reacionária" do Brasil iniciada por Getúlio Vargas nos anos 30, quando o projeto de industrialização não foi acompanhado por reformas na estrutura agrária. O diagnóstico foi feito ontem pelo sociólogo Luiz Werneck Vianna, um dos principais nomes das ciências sociais brasileiras, na abertura do 33º encontro anual da Anpocs (Associação de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais), em Caxambu (MG).
Para Werneck Vianna, o presidente lidera uma "comunidade fraterna sob comando grão-burguês", em que ele "cimenta a unidade de contrários", mas com a hegemonia concedida ao grande capital rural e urbano.
Numa seção da qual também participaram o presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Marcio Pochmann, e o cientista político tucano Antonio Lavareda, Werneck Vianna deixou claro que não estava desqualificando o governo Lula - "sei das coisas boas que aconteceram e precisam ser valorizadas"-, mas fazendo um alerta para o futuro.
Ele avalia que o Brasil se tornou um "global player" e vive a "hora da virada". "Vamos para uma escala de desenvolvimento que vai reiterar as mais doces expectativas que acalentamos nos anos 50 e 60", disse o professor do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio).
O problema, continuou, é que todos os setores "se aninharam no interior do Estado", do agronegócio aos sindicatos, passando pela indústria paulista. Esse Estado "verticalizado e centralizado", por sua vez, se diz "representante de todos", o que esvaziaria o debate público.
"A arca do tesouro vai servir a quem?", perguntou, referindo-se ao petróleo do pré-sal e às antigas demandas por justiça social. "Vamos organizar o capitalismo numa social-democracia avançada. Sim ao Estado forte, mas sob controle da sociedade, não sobreposto assimetricamente a ela", pregou.
O presidente do Ipea se referiu ao mesmo impasse. Pochmann disse que há agora "uma maioria política" capaz de deixar para trás o projeto de "integração passiva e subordinada" do Brasil ao mundo. Mas, para ele, ainda está em jogo que tipo de desenvolvimento o Brasil terá. "Teremos a mesma dinâmica do século passado, baseada em casas, carros, bens de consumo duráveis? Ou um desenvolvimento ambientalmente sustentável?", perguntou.
Pochmann defendeu que a disputa entre PT e PSDB pela "condução do atraso brasileiro" na eleição de 2010 definirá a continuidade do projeto de "capitalismo organizado" ou a volta à "financeirização" não produtiva. Os possíveis candidatos tucanos "têm menor possibilidade de se aliar às forças do produtivismo", disse.
Werneck Vianna minimiza. "Mesmo o Serra vai manter esse projeto, com modulações próprias", disse sobre o governador paulista, possível candidato do PSDB à Presidência.
Comentário do Blog
Uma grande parcela da intelectualidade de esquerda e comunista, nela se encontra Francisco Weffort (quando era de esquerda), Luiz Werneck Vianna, historicamente revelou dificuldades de compreender o período do Getulismo, orientado no início pelo viés autoritário e ao seu final nos marcos da chamada democracia burguesa, que redundou em um trabalhismo positivista, não participativo no que se refere as classes trabalhadoras.
A utilização do verbete "reacionário"é resultado disso. Uma categoria descritiva no plano intelectual, mas que tem um sentido político negativo e não expressa o sentido central do governo Lula. Mas, enfim, foi a forma que ele encontrou de destacar o policlassismo do governo Lula, onde os mais pobres galgaram patamares superiores em seus níveis de vida, mas os mais ricos também galgaram tais patamares em seus níveis de riquezas, o que contribui para mexer pouco na redução da distâncias entre essas duas pontas e espremeu parcela da classe média que nos grandes centros urbanos é o "calcanhar de Aquiles" do governo Lula.
O alerta que faz Werneck deve ser levado em conta, o problema é o estilo barroco que ele utiliza para fazê-lo e a visão romântica a respeito de Serra. Ainda bem que o Marcio Pochmann estava por perto.
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
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