quarta-feira, 28 de outubro de 2009

DEBATE:O LEGADO DO GOVERNO LULA

Sociólogo avalia que Lula concluiu "legado reacionário" de Vargas Luiz Werneck Vianna diz que sucessos do governo não podem deixar em segundo plano justiça social

CLAUDIA ANTUNES
ENVIADA A CAXAMBU (MG)


O governo de Luiz Inácio Lula da Silva concluiu a "modernização reacionária" do Brasil iniciada por Getúlio Vargas nos anos 30, quando o projeto de industrialização não foi acompanhado por reformas na estrutura agrária. O diagnóstico foi feito ontem pelo sociólogo Luiz Werneck Vianna, um dos principais nomes das ciências sociais brasileiras, na abertura do 33º encontro anual da Anpocs (Associação de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais), em Caxambu (MG).

Para Werneck Vianna, o presidente lidera uma "comunidade fraterna sob comando grão-burguês", em que ele "cimenta a unidade de contrários", mas com a hegemonia concedida ao grande capital rural e urbano.

Numa seção da qual também participaram o presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Marcio Pochmann, e o cientista político tucano Antonio Lavareda, Werneck Vianna deixou claro que não estava desqualificando o governo Lula - "sei das coisas boas que aconteceram e precisam ser valorizadas"-, mas fazendo um alerta para o futuro.

Ele avalia que o Brasil se tornou um "global player" e vive a "hora da virada". "Vamos para uma escala de desenvolvimento que vai reiterar as mais doces expectativas que acalentamos nos anos 50 e 60", disse o professor do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio).

O problema, continuou, é que todos os setores "se aninharam no interior do Estado", do agronegócio aos sindicatos, passando pela indústria paulista. Esse Estado "verticalizado e centralizado", por sua vez, se diz "representante de todos", o que esvaziaria o debate público.
"A arca do tesouro vai servir a quem?", perguntou, referindo-se ao petróleo do pré-sal e às antigas demandas por justiça social. "Vamos organizar o capitalismo numa social-democracia avançada. Sim ao Estado forte, mas sob controle da sociedade, não sobreposto assimetricamente a ela", pregou.

O presidente do Ipea se referiu ao mesmo impasse. Pochmann disse que há agora "uma maioria política" capaz de deixar para trás o projeto de "integração passiva e subordinada" do Brasil ao mundo. Mas, para ele, ainda está em jogo que tipo de desenvolvimento o Brasil terá. "Teremos a mesma dinâmica do século passado, baseada em casas, carros, bens de consumo duráveis? Ou um desenvolvimento ambientalmente sustentável?", perguntou.

Pochmann defendeu que a disputa entre PT e PSDB pela "condução do atraso brasileiro" na eleição de 2010 definirá a continuidade do projeto de "capitalismo organizado" ou a volta à "financeirização" não produtiva. Os possíveis candidatos tucanos "têm menor possibilidade de se aliar às forças do produtivismo", disse.
Werneck Vianna minimiza. "Mesmo o Serra vai manter esse projeto, com modulações próprias", disse sobre o governador paulista, possível candidato do PSDB à Presidência.

Comentário do Blog

Uma grande parcela da intelectualidade de esquerda e comunista, nela se encontra Francisco Weffort (quando era de esquerda), Luiz Werneck Vianna, historicamente revelou dificuldades de compreender o período do Getulismo, orientado no início pelo viés autoritário e ao seu final nos marcos da chamada democracia burguesa, que redundou em um trabalhismo positivista, não participativo no que se refere as classes trabalhadoras.

A utilização do verbete "reacionário"é resultado disso. Uma categoria descritiva no plano intelectual, mas que tem um sentido político negativo e não expressa o sentido central do governo Lula. Mas, enfim, foi a forma que ele encontrou de destacar o policlassismo do governo Lula, onde os mais pobres galgaram patamares superiores em seus níveis de vida, mas os mais ricos também galgaram tais patamares em seus níveis de riquezas, o que contribui para mexer pouco na redução da distâncias entre essas duas pontas e espremeu parcela da classe média que nos grandes centros urbanos é o "calcanhar de Aquiles" do governo Lula.

O alerta que faz Werneck deve ser levado em conta, o problema é o estilo barroco que ele utiliza para fazê-lo e a visão romântica a respeito de Serra. Ainda bem que o Marcio Pochmann estava por perto.

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