quinta-feira, 8 de outubro de 2009

COM A PALAVRA UM MILITANTE DO MST

Cenas que chocam
Por: José Guilherme Franco Gonzaga

Alguns me dizem ficarem chocados com as cenas que a Globo espalhou pelo mundo onde alguns companheiros e companheiras destroem alguns pés de laranja cujo objetivo era a exportação.

As cenas que me chocam são mais próximas e reais:

Paracambi - dezenas de famílias dividem a beira da estrada com a poeira e os carros, resistem em frente a uma fazenda que não cumpre a função social, na beira da estrada em barracas de lona, guardam suas coisas enquanto cultivam verduras, flores e esperanças;

Quatis - em cima de pedras famílias aguardam que a justiça emita o Incra na posse de uma fazenda que já está paga, essas famílias moram há mais de 4 anos em condições precárias, sem água e sem como produzir;

Resende - trinta e cinco famílias produzem na comunidade Terra Livre, sem crédito sem assentamento, ape rtados pela Votorantim enfrentando a indeferença dos Poderes Públicos (Executivo, Judiciário, Legislativo) em todas as intâncias (Municipal, Estadual, Federal)

Valença - terra do INSS negociada com o Incra-rj, que perdeu a área por incompetência e desinteresse. Outra área com interesse do Fazendeiro de vender o Incra não consegue arrecadar, enquanto isso as famílias ficam embaixo de lona.

Poderia aqui falar de tantas outras cenas, ou de histórias cotidianas de fome, miséria, etc. Mas, também, cenas de solidariedade, como as flagradas por mim e pelo Pastor Marcos, onde duas companheiras (Patricia e Elisangela) ensinavam duas crianças a ler e escrever, na beira da estrada, de baixo da lona... faziam isso porque entendem que assim contribuem com uma sociedade melhor!

As cenas da fazenda da Cutrale chocam, como chocam as noticias que a Cutrale financia campanhas eleitorais, como choca saber que terras públicas onde poderiam ter v árias famílias assentadas servem apenas a um interesse, dos exportadores de suco de laranja que controlam cerca de 30% do mercado mundial de sucos. Enquanto centenas de famílias estão reinvidicando um direito criminoso: serem assentadas em terras que são da União.

Cenas que chocam: a agricultura familiar ocupa menos terra (25% contra 75% do agronegócio), gera mais empregos (12,3 milhões contra 4 milhções do agronegócio), produz mais alimentos (90% do aipim, 70% do feijão, 60% do leite) e ainda assim recebe muito menos crédito (65 milhões para o agronegócio e apenas 13 milhões para a agricultura familiar).

A reforma agrária é uma promessa de campanha do Presidente Lula, mas em seus 7 anos de governo o que detectamos, segundo dados oficiais é a concentração de terras em especial pelos benefícios concedidos pelo Governo para os usineiros de açucar e alcool e para os produtores de soja e outras comodities.

José Guilherme Franco Gonzaga

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