terça-feira, 15 de setembro de 2009

MONTENEGRO: "LULA NÃO FARÁ O SUCESSOR!"

A guerra ideológica, Dilma e o PED

Como evitar que uma versão vire fato?

Carlos Augusto Montenegro, do Ibope, afirmou há poucos dias que "Lula não fará seu sucessor", em entrevista à revista VEJA.

Montenegro é uma figura no mínimo interessante. E o Ibope é uma estrutura inacreditável de informações sobre a "cabeça"dos eleitores e eleitoras, resultante de quase 30 anos de umaquantidade e variedade muito grande de pesquisas de opinião.

Por isso, quando ele faz uma afirmação bombástica como essa, merece consideração. Não apenas por seu conhecimento da matéria, mas também porque tomou coragem de romper com o PT e o governo Lula - o que certamente significa que sabe ter se encerrado o ciclo. Rei morto, viva o novo Rei!

Antes da campanha de 2002, Delúbio et caterva aproximaram-se de Montenegro. Depois da eleição de Lula, o PT Nacional se assanhou todo para fechar um "contratão" com o Ibope, para as eleições de 2004. Chegaram a convidar Montenegro para uma grande atividade "estardalhacenta", no hotel Ouro, em "Belzonte". Foi a época de ouro de Delúbio, Duda, Palocci, Montenegro, e outras figuras menos famosas.

Agora, aventura-se em uma afirmativa que pretende ser a pá de cal no governo Lula e no PT. Pode-se imaginar a quantidadede cruzamentos de pesquisas (perfil desejado, imagem do PT, imagem do Lula e a sua capacidade de transferência de votos, potencial de crescimento da Dilma; Serra, Ciro, Marina, Aécio,HH etc) que lhe deram essa certeza toda, para arriscar-se a tão grande profecia, faltando pouco mais de um ano para o 1ºturno das eleições de 2010.

Pesquisa de opinião bem feita é algo para ser levado muito a sério. Mas pesquisas de opinião com tanta antecedência servem muito mais para indicar tendências e possibilidades, do que para determinar resultados. Até porque as campanhas eleitorais existem justamente para alterar situações existentes. Se não fosse assim, prá que fazer campanha?

Ao valer-se do argumento da autoridade, e afirmar de maneira tão taxativa o não-resultado (ele assegura apenas que a candidata de Lula não ganhará), Montenegro cumpre um papel muito importante para a direita: ele lança a dúvida. Balança as convicções de uns e de outras, dentro e fora do PT.

As campanhas presidenciais do PT dependem de muita motivação, para colocar a militância em movimento, agregar simpatizantes, mexer com o país com um custo bastante inferior ao da direita. A dúvida da possibilidade de vitória com a candidata do Lula exercerá um efeito devastador sobre uma parcela dos dirigentes, antes do que sobre amilitância. Desmotivará quem precisaria motivar. Estabelecerá uma velha conhecida entre os dirigentes: a cizânia. Cada um com suas razões, mais ou menos nobres, debaterão até que ponto a Dilma é realmente a melhor candidata (ou melhor, a que tem mais chances, entre os e as do PT). Enquanto isso...

Essa entrevista do Montenegro segue a lógica de criação de fatos com efeito desmobilizador (a saída da Marina, a saída "atirando" do senador do PSDB do PT do Paraná, a estória da conversa da Dilma com Lina Vieira, a ex-secretária da Receita Federal, o Palocci absolvido no STF e já lançado como alternativa à Dilma), à base de um a cada 15 dias...

Não deixa de ser curioso que boa parte do que está acontecendo é "o preço", o "retorno" do que foi construído pela política de Zé Dirceu, Mercadante, Delúbio, Genoíno, Silvinho, Palocci, e tantos e tantas do "grupão" que dirige o PT há 14 anos.

Graças ao PED, o PT Nacional reage timidamente a cada paulada que vão acertando nele e na Dilma. Depois do PED, será Natal, Ano Novo, Férias, Carnaval... desmobilização total.

Nesse ritmo, a praga rogada por Montenegro pode tornar-se realidade.

Vladimir Milton Pomar,militante do PT-SC, geógrafo e estudioso em pesquisas eleitorais. Já coordenou a realização de várias pesquisas para o PT e planejamento estratégico de campanhas eleitorais e prefeituras.

Comentário do Blog

É fato que Montenegro é um antigo colaborador do conservadorismo brasileiro, com estreitas relações com as elites dirigentes do país e com a grande mídia, em particular com as Organizações Globo.

São conhecidos, ainda, inúmeros episódios que envolveram a empresa que dirige, o Ibope, em suspeita de manipulações de pesquisas eleitorais, sobretudo, em favor daqueles setores dos quais é muito íntimo, referidos no parágrafo anterior deste comentário.

De qualquer forma a sua declaração deve servir de alerta para o PT e para os setores políticos sociais que trabalham pela continuidade do processo histórico, iniciado com a eleição de Lula em 2002, que se materializa na eleição de Dilma Roussef à Presidência da República.

O PED já esta deflagrado, não há retorno visível em relação a ele, caberá a direção do partido e o núcleo de comando governo Lula revelarem capacidade de responder a altura a guerra ideológica que se trava no país em relação à 2010, retomarem a iniciativa política e proporem ao país uma agenda política diferente da que a oposição conservadora tem imposto ao debate político sucessório, com apoio irrestrito da grande mídia.

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