quinta-feira, 28 de maio de 2009

A CPI E A DISPUTA POLÍTICA E IDEOLÓGICA

O legado político do governo Lula*

Episódios como o da CPI da Petrobrás, após intensa campanha midiática que há semanas produz “denúncias” contra a empresa, traz a tona surradas reflexões a respeito das limitações do governo Lula no campo da disputa política e ideológica.A principal delas é a falta de estímulo do governo Lula a criação de aparelhos de contra-hegemonia e à mobilização social, para enraizar e ampliar as suas conquistas. Desde o tímido processo de implantação da TV pública até a repressão às rádios comunitárias, baseada numa legislação que o poder executivo pouco se movimentou para alterar, num acordo tácito com a mídia hegemônica que só serviu para deixá-la mais confiante e soberba

O que sobra no Lula de carisma e sagacidade política, falta de visão histórica e ideológica. Não encaro isso como uma opção moral dele, longe de paternalismos, mas de limitações que não se referem à origem social, já que muitos de origem semelhante incorporaram uma visão classista no calor das lutas que travaram, mas de uma adesão racional a “real politique”, que contribui para reforçar uma tradição nefasta da política brasileira dos grandes pactos políticos por cima, rediviva durante a campanha presidencial de 2002 com a “Carta aos Brasileiros”.

Apesar de sinais claros de mobilidade social no Brasil, constata-se: os que sempre ganharam permaneceram ganhando muito, graças, sobretudo, a política monetária do Banco Central e a política fiscal da Receita Federal. O próprio Lula vez por outra admite isso nos seus discursos. E tal fenômeno é de novo observado no momento em que o governo decide criar novas alíquotas para desconto de imposto de renda na fonte: alivia os “de baixo”, mas mantém intactos os rendimentos dos “de cima”.

De pouco adiante fazer análise da correlação de forças se pouco se faz para mudá-la.E o governo Lula teve a oportunidade de testar os seus limites e fortalezas , quando da disputa do segundo turno das eleições de 2006 ou esteve ameaçado de impeachment e assistiu e, em algumas oportunidades fomentou, a mobilização social contra essa inventiva do conservadorismo brasileiro. E se saiu bem.

Mas foi só. Se moveu apenas para testar a sua força, a do PT e a do impulso que o elegeu diante de uma situação limite. Salvo a tímida inflexão econômica que promoveu na transição Palocci- Mantega - e o primeiro saiu porque caiu em desgraça, quem sabe como o país estaria frente à crise, se isso não ocorresse? - mantém Meirelles, e ainda incorporou ao seu governo um liberal-conservador como o ex-deputado Nelson Jobim, sem falar no perfil dos juízes que indicou para o Supremo Tribunal Federal (STF).

Vamos ver como se sai na CPI da Petrobrás, e se aproveita tal impulso para galgar outro patamar na disputa política e ideológica que se trava no país, desde a eleição de 2002.

* Artigo publicado na edição de junho do jornal Página 13

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