segunda-feira, 11 de maio de 2009

UM POUCO DA HISTÓRIA DOS BAIRROS DO RIO (2)

Saiba Mais sobre o Centro

Após a derrota imposta aos franceses em 1567, os portugueses buscaram um local mais protegido dos ataques de estrangeiros e nativos hostis para a locação da Cidade. Assim, foi escolhida uma colina, o morro do Castelo e a pequena paliçada, núcleo original da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, foi transferida da área do atual bairro da Urca para a área do atual Centro.


Durante meio século, os franceses, fixados em Cabo Frio após a expulsão e aliados a grupos indígenas anti portugueses, ainda eram uma ameaça, até a sua expulsão definitiva, ocorrida somente em 1615. O Governador-geral Mem de Sá administrou a Cidade até junho de 1568, quando nomeou seu sobrinho, Salvador Correia de Sá, capitão e Governador.


Começam de fato aí, no morro do Castelo, todas as funções da Cidade, suas atividades econômicas e sociais e o início do seu desenvolvimento urbano. No alto do morro do Castelo, foram construídas uma igreja consagrada a São Sebastião, o Colégio dos Jesuítas, a Câmara e a Cadeia, com os seus foros, a Casa do Tesouro e as demais repartições. Depois de instalada no morro do Castelo, a população composta por colonizadores portugueses, mamelucos e índios começa, aos poucos, crescer, desce as ladeiras e ocupa as superfícies da planície localizadas entre os morros do Castelo e de Santo Antônio (ambos, hoje, desmontados), de São Bento e da Conceição.


Nas partes altas do Castelo, no entorno dos conventos e igrejas, viviam as pessoas abastadas e nas partes mais baixas, as pessoas mais pobres. Essas últimas, inicialmente, construíam suas casas em terrenos próximos ao morro e, posteriormente, nas áreas formadas por faixas de terra entre os pântanos e lagoas insalubres, que foram sendo ocupados após os sucessivos aterros. Ao final do primeiro século de colonização, a população já se dividia entre as montanhas e o mar, e na várzea entre os quatro morros: Castelo, Santo Antônio, São Bento e Conceição. A ladeira da Misericórdia, que dava acesso ao morro do Castelo, e a rua Direita (hoje rua 1º de Março) já eram vias bastante usadas. Existiam trapiches em torno do porto dos jesuítas, na extinta Praia de Piaçava, próxima da Igreja de Santa Luzia e uma leve configuração urbana em torno do morro do Castelo.


O Rio de Janeiro desempenhou, desde a segunda metade do século XVI, o papel de porto açucareiro, tendo a cultura da cana-de-açúcar se desenvolvido rapidamente nos recôncavos da baía de Guanabara. Mas o núcleo urbano limitava-se a uma pequena comunidade rústica que demandava pouco além de uma reduzida população para exportar e comercializar o açúcar. Apesar de ser ainda muito limitada a expansão do primitivo aglomerado humano instalado no morro do Castelo, a Cidade já espalhava seus tentáculos para regiões mais distantes. Para buscar água limpa, imprescindível ao consumo e combate às epidemias, escravos agüeiros traziam a água potável em tonéis de madeira desde o rio Carioca, que nascia na Fonte das Caboclas, no Silvestre. Eles faziam uma difícil caminhada, passando pelos atuais bairros do Cosme Velho, Lagoa, Botafogo, Flamengo, Laranjeiras, Catete e Glória até o Centro.


A ocupação já alcançava, também, a distante sesmaria de Irajá, chegava até Jacarepaguá, às terras tijucanas e a Campo Grande. Mas o núcleo original desenvolvia-se muito lentamente. Entretanto, no início do século XVII, já existia um intenso comércio de mercadorias, feito por pequenas embarcações que atracavam nos vários trapiches construídos na praia de Piaçava, seguindo pela atual Praça XV até a Prainha, atual Praça Mauá. Também já era intenso o tráfego de navios que faziam a rota para Angola e outros portos, principalmente da Europa.


A economia da Cidade gravitava em torno da cultura da cana-de-açúcar, da criação de gado bovino e do cultivo de frutas e verduras, além de pequenas manufaturas. Farinha de mandioca e derivados da cana, como açúcar e aguardente, eram exportados ou serviam de moeda para a compra de escravos. A cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro era considerada estratégica para o domínio português por causa da prata que vinha das colônias espanholas ao sul e era levada daqui para Portugal. A frota portuguesa tinha no Rio de Janeiro um porto seguro para abastecimento e abrigo, além de uma base para as operações de defesa do litoral sul da colônia. Além disso, o porto do Rio era essencial para o comércio português com as Índias. A prosperidade da Cidade dependia intensamente das atividades mercantis.


Durante o século XVII, a pequena vila colonial foi assumindo feições urbanas, não tanto pela área edificada, mas principalmente por suas atividades de intercâmbio com o exterior, como porto de exportação das riquezas da Colônia. Outra característica que marcou a evolução urbana do Rio, ainda no século XVII, foi a forte presença dos jesuítas na economia, tanto pelos empreendimentos nos engenhos de cana-de-açúcar e pela capacidade demonstrada na solução de problemas de engenharia, como pelo incentivo aos ourives de prata e ouro e outros artesãos. Ao ampliar as bases de sustentação da economia carioca, eles ajudaram a estender, portanto, a ocupação além do seu núcleo inicial.


Junto com eles, outras ordens religiosas vieram implantar-se na Cidade, dentre as quais a dos beneditinos, dos franciscanos e a dos carmelitas. Os Beneditinos, especialmente, desempenharam papel importantíssimo na defesa da Cidade e ajudaram a transformar a pequena vila num centro urbano. Na segunda metade do século XVII, a Câmara e a Cadeia foram transferidas para o Largo do Paço, que já abrigava desde 1590, o Convento das Carmelitas, mas a Cidade tinha, ainda, um desenvolvimento lento, com a área urbana encurralada entre os morros que não passava da Rua da Vala, atual Uruguaiana. Uma rede de pequenas ruelas conectava as igrejas, ligando-as ao Paço e ao Mercado do Peixe, à beira do cais, nascendo, a partir delas, as principais ruas da Cidade. Apesar disso, o Rio já contava com cerca de 30 mil habitantes e tornara-se a cidade mais populosa do Brasil, passando a ter importância fundamental para o domínio colonial.


Por outro lado, as principais ruas já abrigavam inúmeras residências e lojas de comércio e havia uma concentração de pequenos armazéns na rua Direita. Porém, o primeiro grande passo para a estruturação urbana da Cidade só aconteceria na passagem para o século XVIII, com a descoberta de ouro em Minas Gerais. O Rio teve um grande movimento, com os desbravadores que aqui passavam em busca das riquezas do interior e voltavam carregados de ouro e pedras preciosas que eram embarcados para Portugal. A partir da segunda década do século XVIII, a Cidade toma um novo rumo.


Após as sucessivas invasões estrangeiras, o primeiro passo foi cuidar da sua defesa. Para tanto, foram construídas fortificações na Baía de Guanabara e no continente. Em seguida, foi resolvido o antigo problema do abastecimento de água, quando Ayres de Saldanha, que governou de 1719 a 1725, construiu o primeiro aqueduto. A água era captada na nascente do rio Carioca, nas Paineiras, e através do Caminho dos Arcos Velhos, atuais Arcos da Lapa, chegava até o centro. Depois era distribuída para a população, por um chafariz, com grande quantidade de bicas, localizado no Campo de Santo Antonio, hoje Largo da Carioca.


O último dos governadores, Gomes Freire de Andrada, o conde de Bobadela, que administrou a Cidade por 30 anos ininterruptos, de 1733 a 1763, deu, ao meio urbano carioca, uma feição digna da futura Capital do Vice-Reino. Entre suas realizações, destacam-se: a ampliação do Aqueduto da Carioca; a implantação de um segundo chafariz no cais do Largo do Paço, ampliando o sistema de abastecimento d´água; a construção do Palácio dos Governadores e a instalação do Tribunal da Relação. Gomes Freire construiu, ainda, o Convento de Santa Teresa, iniciou as obras da nova Catedral, organizou o serviço de atendimento hospitalar e da Santa Casa da Misericórdia, no Morro do Castelo; ampliou o sistema de defesa, construiu a Fortaleza da Conceição e reformou o Forte da Ilha das Cobras; abriu novas ruas e estradas, construiu pontes e melhorou o serviço de iluminação pública a óleo de baleia. E, pela primeira vez, na Cidade, houve uma intervenção visando ao controle das atividades relacionadas ao uso do solo urbano. Além disso, Bobadela promoveu atividades culturais, apoiando associações de letrados, como a fundação da organização Academia dos Felizes, em 1736, e a da nova instituição literária Academia dos Seletos, em 1752, autorizando ainda a instalação de uma tipografia, ações consideradas subversivas pelos círculos oficiais.


No governo de Bobadela, a Câmara da Cidade do Rio de Janeiro recebe, em 1757, o título e prerrogativas de Senado da Câmara, conservadas até a Constituição da Independência. Além disso, a Cidade é transformada, em 1763, Capital do Vice-Reinado. Como Capital, a Cidade passa por um novo momento. O Rio de Janeiro torna-se centro das atenções do reino e o Brasil atinge sua condição de sustentáculo político e econômico do poder português.


O período dos sete vice-reis, de 1763 a 1808, é marcado por uma série de melhoramentos que dão à Cidade, particularmente ao seu Centro, uma fisionomia urbana renovada. Em 1779, a Cidade contava com, aproximadamente, 51.000 habitantes, excluídos os moradores das inúmeras chácaras; possuia 300 casas de dois sobrados e 1.921 de um, além de 196 tabernas, 181 barracas de quitandeira, 141 armazéns de aguardentes e vinhos e 190 lojas de fazendas. Contava, ainda, com nove escolas de ler, duas aulas de grego e latim e duas de filosofia e retórica. Em 1786, é fundada a Sociedade Literária do Rio de Janeiro.


A ocupação do Centro já havia ultrapassado a rua da Vala, atual Uruguaiana, calçada com lajes de pedra pelo Vice-rei Conde da Cunha, que governou de 1763 a 1767. Ele também favoreceu o adensamento populacional ao ceder terrenos para moradores abastados que viviam em fazendas e chácaras, longe do núcleo central, dando incentivo à construção de novas residências. Dos governos de vice-reis que se seguiram, destacam-se os dez anos de atuação de D. Luís de Almeida Portugal, o Marquês do Lavradio, de 1769 a 1779. Assim como os que o precederam, ocupou-se da defesa da Cidade construindo as Fortalezas do Pico e do Leme. Abriu ruas, como a que leva seu nome; construiu novos chafarizes; criou a concorrida Feira da Glória; incentivou a instalação de novas indústrias; transferiu o mercado de escravos para o Valongo e incentivou as artes e diversões públicas com teatros e bailes, e as ciências com a fundação de uma Academia Científica.


Luís de Vasconcelos e Sousa, que governou de 1779 a 1790, criou o Passeio Público, projetado por Mestre Valentin, com mobiliário urbano, chafarizes, esculturas, jardins e alamedas, restaurantes, terraço panorâmico, portão monumental e pavilhões de arte, sobre o aterro da antiga e pantanosa Lagoa do Boqueirão. Isso mudou os costumes da Cidade, carente de espaços públicos para o lazer da população. Vasconcelos e Souza realizou, ainda, outras obras importantes, como a urbanização do Campo de Santana; a criação de um museu de pássaros; a pavimentação do Largo do Paço e a construção do cais com escadas, guarda-corpo e o chafariz de Mestre Valentim. Nas praças, instalou bebedouros para animais; melhorou o sistema de iluminação pública e instituiu o Calabouço para evitar o castigo de escravos em locais públicos.


Sua obra teve continuação no governo de D. José Luiz de Castro, o Conde de Resende, que governou de 1790 a 1801. Entre os serviços que prestou à Cidade, estão as ruas do Senado, dos Inválidos e do Resende, que perpetua seu nome. Durante seu governo o acontecimento mais notório foi o enforcamento de Tiradentes. Com ruas pavimentadas, as praças delimitadas e hospitais, quartéis e comércio concentrados nas ruas próximas ao Largo do Paço, providas de iluminação pública a óleo de baleia e abastecimento de água por meio de chafarizes, o meio urbano central estava consolidado. O transporte de mercadorias e passageiros era feito em faluas e barcas e havia disponibilidade de transporte de aluguel por meio de carroças e diligências.


A Cidade teria, ainda, mais dois vice-reis: D. Fernando José de Portugal, o Marquês de Aguiar, de 1801 a 1806 e, D. Marcos de Noronha e Brito, o Conde dos Arcos, de 1806 a 1808. Seguia o ano de 1808, quando ocorreu o fato mais importante da história da Cidade, pelas implicações políticas e conseqüências determinantes. Fugindo das guerras napoleônicas, que ameaçavam invadir a Península Ibérica, a Corte portuguesa chega ao Brasil, tendo à frente a Rainha, D. Maria I e seu filho, o príncipe regente D. João, trazendo em sua comitiva, um número até hoje indeterminado de novos habitantes para o Rio de Janeiro.


Em 7 de março, a Família Real chega à Cidade, depois de uma estada em Salvador. O Rio de Janeiro torna-se, então, sede da monarquia portuguesa e se encerram, na prática, as funções dos vive-reis. Teve início uma profunda remodelação da Cidade que passou a prepara-se para ser a sede do Império Português. Em 1615, O Brasil é elevado a Reino Unido de Portugal e Algarves e o Rio de Janeiro passa a ser, na prática, a capital do Império Português, que abrangia territórios na África e na Ásia.



O Centro expande seus limites para a Zona Sul, Zona Norte e São Cristóvão. Era necessário ocupar outros espaços para corresponder às novas atribuições da capital de dois reinos, Portugal e Brasil. Isso multiplicou o movimento comercial do Rio de Janeiro e trouxe nova vida ao meio urbano, atraindo, imediatamente, uma imigração em larga escala. Várias residências foram expropriadas para moradia dos membros da comitiva real e, novas edificações foram construídas. Também foi preciso instalar as repartições públicas oficiais e criar novas instituições e departamentos de governo, como a Academia Real Militar, o Banco do Brasil, a Imprensa Régia, o Conselho da Fazenda e a Escola de Medicina. Ordem e ocupação urbanas foram instituídas pelo Intendente Geral da Polícia Paulo Fernandes Viana, cuja soma de atribuições no âmbito administrativo o transformaram, na prática, no primeiro prefeito da Cidade. Além de cuidar das normas de segurança e das regras para as edificações e arruamento, o intendente melhorou o abastecimento de água, instalando novos chafarizes, aumentou a iluminação pública e promoveu a urbanização e ajardinamento das praças da Cidade, que passa a adquirir crescente aspecto europeu.



Com a elevação do Brasil a Reino pelo Tratado de Viena, o regime colonial se extingue legalmente, em 1815. Em 1816, com a morte da Rainha D. Maria Primeira, o Príncipe Regente é aclamado Rei, como D. João VI. Para embelezar ainda mais a Cidade, o Rei patrocina a vinda da Missão Artística Francesa, da qual fizeram parte Jean-Baptiste Debret, Auguste Taunay e o gravador Ferrez. A vinda das missões artísticas e científicas deixou, como legado, importantes marcos arquitetônicos no Centro, transformando a paisagem colonial com a suntuosidade da arquitetura neoclássica, marca da obra do arquiteto francês Grandjean de Montigny e de seus seguidores. São exemplos dessa época, o prédio onde funciona a Casa França-Brasil, a Igreja da Candelária e prédios da rua do Ouvidor.


Até meados do século XIX, apesar de o meio urbano já estar consolidado, a Cidade ainda era modesta, em decorrência da inexistência de transportes coletivos - somente em 1844 foi organizado o serviço de transporte urbano com o uso de diligências - e da necessidade de defesa, que faziam com que os habitantes se mantivessem próximos. Com a inauguração, em 15 de janeiro de 1868, da primeira linha de bondes, pela Botanical Garden, inicialmente à tração animal e depois movidos a eletricidade, o centro passa a expandir suas funções. A independência política e o ciclo econômico do café geram grande número de atividades econômicas ligadas ao meio urbano e atraem trabalhadores livres, nacionais e estrangeiros. Em 1852, foi firmado o contrato Russell para a instalação de um serviço de esgotos.


Os meios de transportes coletivos sobre trilhos - primeiro os bondes e depois, os trens - tornam possível, após 1870, ano em que o Rio recebe triunfalmente o primeiro batalhão de voluntários da pátria na guerra do Paraguai, expandir a cidade e a convivência entre classes sociais, pois nunca a cidade tivera tanta mobilidade. Em fevereiro de 1854, é abolido o entrudo, surgindo em seu lugar o carnaval de rua. Em 25 de março do mesmo ano, o Barão de Mauá inaugura o sistema de iluminação pública a gás encanado, dando visibilidade ao centro.


Com este avanço, a população passa a ter lazer noturno em bares e restaurantes. Três anos depois, em 1857, a área central tinha mais de três mil pontos de iluminação. Em 1874, iniciam-se as comunicações telegráficas com a Europa. Em 1881, inauguram-se as três primeiras linhas telefônicas e em 1890, ano em que a população da Cidade alcança 551.559 habitantes, o serviço de iluminação já atinge mais de dez mil pontos, transformando o Rio em uma das cidades mais bem iluminadas do mundo.


A rua do Ouvidor torna-se o símbolo de uma nova era para a Cidade e o requinte do modo de vida francês transforma a vida da população, adaptando-se e criando o estilo peculiar e único de ser do carioca. A iluminação e o transporte coletivo passam a qualificar o uso do solo: os terrenos mais valorizados passam a ser os mais bem servidos pelos serviços públicos e, em 1892, é inaugurada a primeira linha de bondes elétricos para o Flamengo.


No final do século XIX, o centro estava saturado. Francisco Pereira Passos aceitou convite formulado pelo Presidente da República Rodrigues Alves para auxiliá-lo na administração da Prefeitura e, por ato, de 30 de dezembro do mesmo ano, foi nomeado Prefeito do Distrito Federal, assumindo a Prefeitura em 03 de janeiro de 1903. Com a reforma urbana promovida por Pereira Passos, na primeira década do século XX, a região passa por uma transformação radical, abandonando definitivamente suas características coloniais, onde proliferavam cortiços e edificações degradadas, ruas estreitas e insalubres, para se apresentar como grande metrópole moderna e influenciada pelo urbanismo francês de Haussmann, o grande reformador de Paris.


A zona portuária é ampliada; rasgam-se avenidas como a Rodrigues Alves, a avenida Central, atual Rio Branco, e a Beira-Mar; praças antigas são reformadas e novas áreas são criadas. Os monumentos arquitetônicos edificados nesses espaços provam a força da intervenção do poder público: são construídos o Teatro Municipal, a Biblioteca Nacional e os novos prédios da Avenida Central, dentre inúmeros outros projetos. A reforma Pereira Passos determina, mais uma vez, uma expansão urbana do Centro. Mas a região serve também como divisor para acentuar a estratificação social, ao separar a Cidade em duas partes distintas: a Zona Sul para a classe rica e a burguesia abastada e a Zona Norte para a classe operária e a população de rendas mais baixas.


As linhas de bondes são as responsáveis pela ocupação do Centro até as praias da Zona Sul. Os subúrbios, tendo como fator de expansão as ferrovias, são ocupados pelos habitantes dos cortiços demolidos no Centro. A população pobre passa a ocupar os morros próximos aos locais de trabalho, dando início ao desenvolvimento caótico e desordenado das favelas. Em 1906, a população da Cidade eleva-se a 811.443 habitantes.


Nas décadas seguintes, o Centro continua a ser a região responsável pelo progresso da Cidade. Com o prefeito Carlos Sampaio, que assume a 7 de junho de 1920, é levado a cabo o desmonte do Morro do Castelo, berço da história da Cidade, criando uma grande área para novas edificações, obra bastante contestada. Em 1920, o Rio já tinha 1.157.873 moradores. Nessa década surge o Plano Agache, projetando nova configuração para o Centro e destinando para a Cidade espaços compartimentados e com usos específicos. Após a Revolução de 1930, o novo governo revoga todas as intervenções urbanas propostas pela Velha República e o Plano Agache, com seu caráter monumental exigindo investimentos públicos de vulto, é abandonado. Como único exemplo das idéias reformadoras do arquiteto Agache resta a Praça Paris, construída na gestão de Prado Júnior (1926-1930).


A Nova República é responsável por intervenções profundas na década de 1940, durante a II Guerra Mundial, como a abertura das avenidas Brasil e Presidente Vargas. Esta última, inaugurada em 7 de setembro de 1944, foi a terceira grande intervenção efetuada no Centro, depois da construção da avenida Central e do desmonte do Morro do Castelo. Para a construção da avenida Presidente Vargas, quarteirões inteiros foram arrasados, monumentos arquitetônicos e praças históricas - como a Praça XI, onde nasceu o samba carioca - desapareceram do cenário urbano e bairros antigos, como Cidade Nova e Estácio, foram sacrificados, surgindo com roupagem nova.


Mas a avenida Presidente Vargas ainda não cumpriu o papel para o qual foi criada, não ocorrendo as ocupações previstas e vem sendo lentamente edificada. Na década de 1950, com o surto industrial surgido no pós-guerra, a região começa a sofrer um processo de esvaziamento. Na década seguinte, com a mudança da capital federal para Brasília e a transformação da Cidade em Estado da Guanabara, o desenvolvimentismo e a febre viária desfiguram o Centro, mais uma vez, onde são construídos viadutos e pistas expressas elevadas, voltadas para o atendimento do transporte por automóvel. Data dessa época, também, o Aterro do Flamengo, feito pelo governador Carlos Lacerda, possibilitando a união, por vias expressas, do Centro à Zona Sul. A região perde parte de sua expressão econômica e tem várias de suas áreas progressivamente degradadas, perdendo a função de laboratório da expansão e evolução urbana da Cidade. A construção do metrô contribui muito para esse processo, com a demolição de edificações históricas.


No Centro se localizam os principais monumentos arquitetônicos e artísticos da Cidade, além de algumas das edificações e marcos históricos mais importantes da história da sua evolução urbana. A região ainda é o segundo centro financeiro do País e abriga um número muito grande de prédios comerciais, museus, restaurantes tradicionais, centros de pesquisa e universidades. Apesar do esvaziamento populacional dos últimos anos, o Centro continua a ser a principal referência da Cidade do Rio de Janeiro. Exatamente por preservar essa condição de núcleo estratégico para o qual tudo converge, a região traz, subjacente, as sementes da própria revitalização.

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