segunda-feira, 2 de março de 2009

CARNAVAL DO RIO: DIVERSÃO E REPERCUSSÃO

Os foliões tomam as ruas, apesar do poder público

Uma das marcas do carnaval do Rio, encerrado nesse final de semana não é a sujeira das ruas e o caos no trânsito, como destacou a mídia carioca, mas é a definitiva comprovação de que ele voltou a ser uma festa popular e espontânea, malgrado a ausência de planejamento e das rígidas regras impostas aos blocos de rua pela burocracia dos poderes municipal e estadual, inversamente proporcionais ao apoio que esse poderes concederam para a realização da festa de Momo.

O carnaval do choque de ordem urbana, que persegue e prende desavisados “mijões”, segundo a mídia os grandes vilões/protagonistas da festa, não é capaz de planejar a cidade para um evento de tamanha repercussão, cuja ordem , no que se refere a brigas e conflitos, foi garantida pelos próprios foliões que, em sua maioria, estavam atrás de divertimento e não de confusões: quem esteve na rua e dele participou pôde constatar.

O fenômeno da multiplicação de blocos na zona sul, cada vez mais identificados com a vida de cada bairro, de cada rua daquela região, além de uma forma criativa de driblar o inevitável gigantismo dos pioneiros, que na esteira do tradicional Cordão do Bola Preta, da Banda de Ipanema e do Clube do Samba, há cerca de 25 anos retiraram o carnaval do confinamento da Marquês de Sapucaí e o devolveram às ruas, é uma prova cabal de que o carnaval de rua é algo entranhado no espírito carioca: agonizou, não morreu e reaparece de forma vigorosa.

O poder público parece que demora a perceber isso, quando se constata que a ocupação carnavalesca da Rio Branco está aquém da tradição dessa avenida que corta o Centro da Cidade, o carnaval e os blocos dos bairros mais distantes do subúrbio da central e da Leopoldina, regiões da cidade menos dinâmicas do ponto de vista econômico do que a zona sul, por isso mais dependentes de intervenção pública, perdem o vigor de outrora.

O que parte da mídia carioca e alguns de seus articulistas - que parecem não gostar de cidadão comum que mija (onde pode) , carnaval e nem da cidade, já que falam tão mal dela num momento em que ela realiza a sua festa maior - é que definitivamente a cidade não foi preparada para o carnaval. Manteve-se a rotina numa efeméride, cuja característica é o rompimento da rotina: homem vira mulher, bicho; bancário, servente de pedreiro, jornalista, garçom, viram índios, árabes; heréticos viram padres; e pobres viram ricos, fadas, doutores ... Aí fica difícil!

Não há banheiros públicos, os chamados químicos são insuficientes e caros, a oferta de estacionamentos nas avenidas, ruas e na orla, roteiros de desfiles dos blocos previamente comunicados, são mantidas, em detrimento do estímulo ao cidadão que quer brincar carnaval ter a cidade a sua disposição, e, nesse período, privilegiar o transporte público (ônibus, trem, metrô, barcas), e deixar os seus automóveis em casa.

Com efeito, mesmo para o gestor que não gosta de carnaval e de manifestações populares é uma postura irresponsável ser indiferente aos ganhos que ele traz para a economia da cidade tanto do ponto de vista turístico, quanto em relação ao aumento de consumo de bens e serviços, que incidem sobre a sua arrecadação de tributos.

Mas para não dizerem que não se falou de flores neste blog, vale destacar o interesse manifesto pelo poder público municipal, divulgado pela mídia carioca, de se trocar de mãos a gestão do desfile das escolas de samba, realizado no “Sambódromo” , colocando-a dentro da legalidade e tornando-a transparente e republicana. Como é conhecida a capacidade de sedução dos “ senhores” do carnaval carioca, vamos ver se a versão vira fato.

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