quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

AINDA SOBRE O CONCURSO DO IPEA


Resposta a um comentário anônimo

Devido a repercussão do artigo postado na última sexta-feira, “Concurso do Ipea: Verdades não ditas”, publico a seguir e respondo ao final ao prezado leitor, um comentário atrabiliário e arrogante que nos foi enviado. Na oportunidade, aproveito para agradecer aos inúmeros comentários elogiosos recebidos. Vamos ver o que escreve o nosso leitor anônimo, que usou como método destacar passagens do artigo (aspeadas) e comentá-las (grafados em itálic, com as necessárias correções ortográficas)

"O concurso do IPEA teve 15 provas diferenciadas e 1.200 questões, no conjunto dessas provas. Ater-se a três ou quatro questões, com críticas infundadas quando não equivocadas é, no mínimo, surpreendente." No blog espectro econômico tem pelo menos 10 questões. Mas isso foi apenas o Top 10. Se você soubesse alguma coisa de economia saberia que cobrar o que se cobrou em econometria é no mínimo, uma piada de mal gosto. "Não é por outra razão que desinformados e mal intencionados defensores do desmonte do Estado brasileiro". Como você se autodefine, é um partidário do PT. Aí acaba toda e qualquer credibilidade do discurso."face questões de conteúdo marcadamente ideológico e não técnico." . Você realmente não concorda com isso? Talvez seja porque você não conheça a "técnica"."celebrar o fato de o Instituto, um órgão de Estado, após tanto tempo realizar concurso público para reforçar seus quadros, ampliando o alcance de suas atividades de pesquisa, análise e de prospecção da vida econômica do país." Do jeito como foi feito, era melhor não ter feito. Gastar R$ 11 mil com pessoas mal qualificadas não me parece uma atitude inteligente num país escasso de recursos como nosso."o mercado financeiro, com suas demandas por ganhos e vantagens sempre na contramão dos interesses verdadeiramente públicos.." É, sempre ele, o mercado financeiro. O diabo personificado. Esse comentário é de uma ingenuidade tamanha que é melhor nem comentar. Por fim, uma sugestão profissional: volta a ser jornalista porque de economia você não entende nada.”

Há algumas semanas, ao acompanhar o noticiário da mídia impressa e televisiva me surpreendi com as duras críticas voltadas para o concurso que o Ipea realiza. Deparei-me, inclusive, num programa de entrevista do canal Globo News, num debate entre economistas sobre a crise,, mediado por uma conhecida colunista da editoria de economia do Jornal O Globo, com um dos principais formuladores do Plano Real, que atualmente é banqueiro, se referindo de forma irônica sobre uma suposta exigência aos participantes de concurso de terem intimidade com o pensamento marxista,, em função do conteúdo das questões e, em seguida, a mediadora na mesma linha proferindo que tais questões (perguntas) eram “ idiotas”.

Como não vi nenhum posicionamento oficial da direção do instituto, recorri ao site do Ipea (http://www.ipea.gov.br/) , já que nas críticas feitas não havia nenhuma que incidisse sobre a não observância dos parâmetros legais para a sua realização,, o noticiário e nem as fontes entrevistadas divulgaram a existência de ação ajuizada contra o concurso, para apurar as razões que motivaram tal polêmica.

Descobri de pronto algo não destacado no noticiário, que a Cesp/UNB, salvo melhor juízo, uma instituição respeitada e reconhecida no exercício de funções do gênero, é a responsável pela preparação do concurso, que oferece 80 vagas para técnicos de ensino superior a partir, é óbvio, de contrato e das condições estabelecidas com a diretoria do Ipea.

Como a leitura de conteúdo de gabaritos e questionários extensos como aqueles é algo enfadonho e complexo para quem não é do ramo - eu sou jornalista e não economista -, recorri a algumas fontes que tenho contato no corpo técnico do Ipea, e a outras que já participaram da primeira fase do concurso e estão se preparando para a próxima.

As apurações que fiz resultaram no artigo postado neste Blog, na última sexta-feira, e as conclusões que delas extraí, é que a despeito de serem ou não questionáveis algumas questões, é possível que falhas ocorram num concurso com 15 provas e 1.200 questões, a polêmica não é econômica e nem teórica, mas política, que envolve corporativismo e disputa interna no interior do Ipea, de quem dirige ou não dirige o instituto, e em relação a forma que ele foi conduzido nos últimos anos e que passou a ser conduzido.

Lembro que logo que assumiu a atual diretoria do Ipea,, uma das polêmicas levantadas se refere à decisão por ela tomada de acabar com algumas práticas comuns no interior do instituto, onde alguns técnicos se revezavam entre a condição de servidores públicos e consultores autônomos, cujos serviços prestavam, através de sua empresas de consultoria, para instituições privadas e, (pasmem!) para órgãos públicos federais, utilizando a estrutura e as informações do instituto. É isto. Servidores públicos prestando consultoria remunerada para órgãos públicos, em detrimento das suas funções de Estado. É ou não é um absurdo?

Daí a exigência presente no atual concurso, que os contratados tenham dedicação exclusiva ao instituto, ressalvados o exercício do magistério e a ocupação de cadeiras nos conselhos de administração em empresas que possuam participação de capital público, desde que indicados como representantes do governo federal. Daí os altos salários oferecidos, para que os servidores não necessitem completar o orçamento familiar, em prejuízo de sua atividade fim que é servir ao Estado brasileiro.

Mas isso não se resume a uma questão pecuniária, salarial e nem ao conhecimento de econometria, mas a uma concepção do papel do Estado, que é, repito,política e doutrinária. É esse o debate, sobre a vigente supremacia da economia virtual sobre a real, que faz circular trilhões de dólares nos principais mercados do planeta sem lastro em bens e serviços produzidos, que está na raiz da crise atual, cujos resultados estão aí para quem quiser ver.

É por isso que tal polêmica tem recebido espaços generosos em parcela da mídia, afinada com tais pressupostos, cujos porta- vozes em suas colunas, matérias, programas e artigos têm posição política, embora não as assumam com eu, não é por que cobrar o que se cobrou em econometria é, no mínimo, uma piada de mal gosto.

Um comentário:

Anônimo disse...

Bla Bla Bla. Eu comento o concurso, você comenta sobre o instituto. O que me deixou indignado com seu post é:

1) concordo que é interessante e no mínimo correta sua atitude de assumir a posição política. Mas então comece dizendo: eu votei no Lula, Lula colocou Pokemon no Ipea, eu concordo com a "nova" linha de pensamento do Ipea. Mas saiba ser sincero e assuma: o que se pediu no concurso pode ser tudo, menos economia moderna.

2) "É esse o debate, sobre a vigente supremacia da economia virtual sobre a real, que faz circular trilhões de dólares nos principais mercados do planeta sem lastro em bens e serviços produzidos, que está na raiz da crise atual, cujos resultados estão aí para quem quiser ver.". Fale sobre o concurso. Querer justificar o conteúdo de um concurso por uma crise americana é demonstrar profundo desconhecimento de qualquer relação de causalidade.

Cansei do seu blog. E de você se achar economista.

T.