terça-feira, 9 de dezembro de 2008

FOLHA DE SÃO PAULO EM CAMPANHA

A pesquisa do Datafolha recentemente divulgada na qual, malgrado o terrorismo disseminado pela oposição e pelas principais mídias do país em relação à crise internacional e aos seus efeitos no Brasil, revela uma população otimista em relação ao próximo ano e amplia em sete pontos percentuais a aceitação do governo Lula, ao contrário da expectativa que aqueles setores nutriam em relação ao seu resultado.

Mesmo que o otimismo seja exagerado, já que a crise é um fenômeno concreto que abalou profundamente as economias dos países centrais do planeta, a começar pelos Estados Unidos, onde ela foi desencadeada, e deverá atingir países considerados emergentes, como o Brasil, o ambiente geral registrado na pesquisa do Datafolha, pode ser tão decisivo para sua superação quanto às medidas que o governo brasileiro vem adotando para enfrentá-la A gente está cansado de conhecer exemplos onde o fator econômico é impulsionado pelo psicológico dos agentes econômicos e vice versa.

Mas a etapa da pesquisa divulgada pelo jornal Folha de São Paulo, na última segunda-feira, que trata da eleição presidencial em 2010, ao contrário do enfoque niilista que esse jornal tem dedicado à crise, destacada no seu título e abertura de primeira página, descortina um profundo otimismo no futuro, não do país como podem concluir alguns incautos, mas da candidatura do governador de São Paulo José Serra à Presidência da República, a menos de dois anos da eleição, como a própria Folha destaca.

A expressão utilizada pelo jornal paulista para definir o espaço temporal e político entre a realização desta pesquisa e o processo eleitoral, dá uma idéia de proximidade entre uma e outra, que a realidade política e que a leitura de outros dados da própria pesquisa desmentem– é uma pena que muito leitores se limitem a ler as manchetes e as chamadas de primeira página.

A partir da leitura do restante da matéria, nota-se que os índices da pesquisa registram percentuais semelhantes aos que o governador de São Paulo obteve no segundo turno da disputa em 2002, quando foi derrotado por Lula, e o mesmo ocorre com os índices com os quais Ciro Gomes terminou a sua participação nas eleições daquele ano e que a ex-senadora Heloisa Helena terminou nas eleições presidenciais seguintes. O fato novo é a inclusão de governador de Minas Gerais, Aécio Neves, que tem manifestado o desejo de ser candidato e da ministra Dilma Roussef, que jamais se manifestou nesse sentido, cujo nome circula em ambientes restritos e distantes do distinto público.

O fato intrigante revelado pela pesquisa do Datafolha é que na escolha espontânea, que pode consolidar intenção e/ou capacidade de transferência de votos, Lula aparece com 25%, mesmo não podendo ser candidato, e a distância em que separa Serra (6%), Aécio Neves (4%), governadores de estados que reúnem os dois maiores contingentes eleitorais do país, da desconhecida Dilma Roussef (2%) são, respectivamente, singelos 4% e 2% de intenções de votos. Num cenário em que a suposta candidata do PT assiste ao crescimento dos seus índices quando aumenta o nível de escolaridade do pesquisado, isto é, num segmento social no qual tanto o Lula quanto a avaliação do seu governo encontra as maiores dificuldades. Se ela continuar assim e, com a ajuda do presidente Lula, cair no gosto do povão ... sei não?

Mas essas são meras e distantes conjecturas, para um momento em que o brasileiro está mais voltado para as festas do final de ano, e, em alguns estados, já vislumbra o carnaval, do que para a sucessão presidencial. Logo, a indagação a ser feita é a seguinte: para quê serve uma pesquisa sobre intenções de voto, para a sucessão presidencial de um governo que está na metade do seu segundo mandato, e que a um só tempo está envolvido com a execução de um conjunto de ações e investimentos, próprios de qualquer gestão governamental voltada para o crescimento econômico e de medidas para enfrentar a mais grave crise internacional, desde a "quebra" da Bolsa de Nova York, em 1929, que pode determinar inclusive o desfecho da sucessão presidencial?

Para incidir na disputa interna do PSDB, entre Serra e o governador de Minas, Aécio Neves, em favor do primeiro, é claro, na movimentação que farão os demais partidos e lideranças que povoam o cenário político brasileiro ou na escolha que fará o PT? Todas ou nenhuma das respostas anteriores? A Folha de São Paulo já está em campanha!

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