segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O que está em jogo na disputa do Rio

Na vida a gente gasta a maior parte do tempo fazendo escolhas, algumas prosaicas e outras complexas. O objetivo desse artigo é tratar do segundo caso, em virtude do debate que ora se trava sobre o voto no segundo turno para a eleição do próximo prefeito da cidade do Rio de Janeiro, no âmbito do petismo e dos eleitores que se consideram de esquerda.

A política é uma das mais racionais atiidades humanas, porque da ação que se produz a partir das decisões que se toma à luz dela, resulta em desdobramentos concretos e efetivos para o cotidiano das pessoas, embora não se deva descartar aspectos emocionais e intuitivos, a prevalência deles nem sempre á a melhor conselheira. Por isso, no plano de uma análise tendo como base a racionalidade política convém se evitar encarar as opções para voto no segundo turno das eleições do Rio do ponto de vista das características pessoais e morais de cada candidato, por que, caso isso prevaleça, não há porquê votar em Eduardo Paes.

Se necessário fosse fazer um inventário das características pessoais e morais para apoiar, montar um governo de perfil progressista e governar, na atual correlação de forças presente no país, o governo Lula nem se instalaria. Logo, é importante analisar as forças políticas e sociais que sustentam cada candidatura à Prefeitura do Rio, e destas quais são as que mais se aproximam do processo político em curso, iniciado com a eleição de Lula, em 2002, com a qual a maioria da população brasileira, segundo registram as pesquisas, está comprometida. Aí, em qualquer análise política racional, a balança passa a pesar a favor do candidato do PMDB, já para quem contesta e quer trabalhar pela ruptura do referido processo político, a indicação de voto é em Gabeira. É isso que está em jogo.

Até por que, nem Lula, do alto da sua popularidade consegue governar sem fazer mediações com as forças políticas que têm presença na cena política brasileira. Talvez se logo que eleito, de forma consagradora, o presidente da república ao invés da reforma previdenciária, tivesse investido na reforma política, como fizeram Chaves, na Venezuela, e Correa, no Equador, iria comprar uma boa briga, mas poderia evitar que para a sua sustentação dependesse de uma base parlamentar tão heterogênea política e ideologicamente.

Afinal de contas, qual é a diferença de trajetória e conduta política do candidato do PMDB à Prefeitura do Rio, Eduardo Paes, para o seu correligionário Geddel Vieira Filho, ministro da Integração Nacional do governo Lula e um dos principais fiadores do apoio do PMDB ao governo? O primeiro começou a política pelas mãos do prefeito César Maia e o segundo pelas do finado senador ACM, na Bahia. O que diferencia a trajetória do governador do Estado do Rio, Sérgio Cabral Filho, que despontou como liderança política no PSDB ao se eleger presidente da Assembléia Legislativa do Estado do Rio, no início do governo Marcello Alencar, depois migrou para o PMDB e integrou a ala do partido que deu apoio integral ao governo FHC, para o candidato Eduardo Paes, só de idade?

O PT apoiou Cabral, no segundo turno da eleição estadual, e participa da sua governança. Qual foi a motivação? Conferir sustentação ao governo Lula no Congresso Nacional. Não há simpatias e/ou antipatias pessoais nisso, e sim a satisfação de legítimos interesses políticos de parte a parte E o que liga ambos, Cabral e Paes, à base de apoio ao governo são tais interesses políticos, pois sabem que para retirar o Estado e a cidade do Rio de Janeiro do atoleiro em que se encontram é fundamental o empenho do governo federal, e, para este (o governo Lula), contribuir para recuperar um dos três principais estados da região mais rica e influente do país, e nele constituir uma forte base de apoio, é correto no sentido moral e estratégico no sentido político.

Não há Messias, acima dos partidos e supostamente indiferente aos interesses sociais, políticos e econômicos que atuam na cidade, capaz de enfrentar tal situação, como deixa transparecer a movimentação que faz e as declarações que dá o candidato do PV, Fernando Gabeira.

O meu receio nem é que a sua eleição vá transformar o Rio numa cidadela de oposição ao governo federal, nem o Kassab, prefeito de São Paulo e filiado ao DEM faz isso, como um político camaleônico e competente como o Gabeira vai fazer? Mas sim a sua gestão a frente da Prefeitura do Rio, já que como prefeito ele vai ter que fazer escolhas, e essas escolhas, até por uma questão de coerência política e programática, deverão expressar senão totalmente, pelo menos em boa parte, os interesses das forças sociais e econômicas que o apoiaram no primeiro e passaram a apoiá-lo no segundo turno, e de sua representação e sustentação na Câmara Municipal. E parte dessas governaram o país nas duas gestões do presidente Fernando Henrique, governam o Rio há 16 anos, e são de conhecimento público as escolhas políticas e programáticas que fizeram nos seus períodos de governança e o objetivo final da totalidade delas de por fim ao processo político e social iniciado pelo governo Lula. Isso é um fato.

Nota da Redação: " A trajetória políica do Gabeira, um sujeito bem informado e sintonizado com as tendências políticas mundiais, guarda semelhança com o papel políítico-programático que os verdes cumpriram no continente europeu a partir dos anos oitenta. Primeiro, uma alternativa à polarização entre os partidos conservadores e social-democratas, e depois disso um braço dos setores conservadores para desidratar política e eleitoralmente os partidos social-democratas e a esquerda socialista européia"

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns Flávio, o artigo está muito bom. Reproduzi o mesmo em outras listas. Sucesso !
PT Saudações
Armando Frid