domingo, 26 de junho de 2011

REVISTA ÉPOCA: MARINA DEIXARÀ O PV


Marina Silva deixará o PV nesta semana

Sem conseguir promover mudanças no comando do Partido Verde, a candidata que conquistou 19,5 milhões de votos deixará o partido nesta semana.

A reportagem é de Mariana Sanches e publicada pela Época, 25-06-2011.

Marina Silva, a mulher de saúde frágil que aprendeu a ler aos 16 anos e quase virou freira, sonha em ser presidente do Brasil. Acriana do vilarejo de Breu Velho, pobre e filha de seringueiros, Marina entrou na política em 1985, aos 27 anos, por influência do ambientalista Chico Mendes, com quem fundou o PT no Estado. A militância em favor dos seringueiros a levou rapidamente à Câmara de Vereadores de Rio Branco e, em seguida, à Assembleia do Acre. Em 1994, aos 36 anos, tornou-se a senadora mais jovem da história do país. Sempre com a causa verde na ponta de sua afiada retórica, em 2003 Marina virou ministra do Meio Ambiente do governo Lula – e começou a cobiçar a Presidência da República. No PT, porém, suas chances de disputar o cargo seriam nulas.

Em nome da utopia, Marina fez uma escolha pragmática. Convidada a ser candidata à Presidência, aceitou filiar-se ao Partido Verde, o PV, uma pequena legenda identificada não apenas com a agenda ambientalista – mas também com propostas liberais, como a legalização da maconha e do aborto. Marina, que se convertera à religião evangélica em 1997, ignorou as latentes tensões entre suas convicções religiosas e as posições liberais da plataforma verde. Apesar do bom desempenho na campanha presidencial do ano passado, não deu certo. Dois anos e 19,5 milhões de votos depois, Marina decidiu: deixará o PV. O anúncio ocorrerá nesta semana.

A união entre Marina e o PV começou com promessas e terminou em desilusões. Desilusões produzidas, sobretudo, ao sabor das inevitáveis divergências de uma campanha eleitoral. Marina e o PV, especialmente por meio de seu presidente, José Luiz Penna, discordaram em quase tudo nas eleições. Aos poucos, sua campanha separou-se da estrutura do partido. Os problemas começaram na arrecadação de dinheiro. O vice da chapa, o empresário e fundador da Natura, Guilherme Leal, centralizou os trabalhos de coleta de recursos. Os tradicionais arrecadadores do PV se incomodaram com a resistência de Leal aos métodos tradicionais – e heterodoxos – de financiamento de campanhas no Brasil, do qual o partido nunca foi exceção. Um dos dirigentes do PV conta como anedota o dia em que Marina mandou devolver uma mala de dinheiro “não contabilizado”, em linguajar delubiano, ao empresário paulista que o havia enviado.

O segundo ponto de atrito entre Marina e o PV deu-se em razão da entrada de líderes evangélicos na organização política da campanha. Pastores da Assembleia de Deus, igreja de Marina, influenciavam decisivamente na elaboração da agenda da candidata. A força deles no comando da campanha não casava com o perfil histórico do PV. Se em sua plataforma e em seu discurso o PV era favorável à legalização da maconha, do aborto e do casamento gay, era uma clara incoerência que sua candidata à Presidência se colocasse contra essas posições. O PV temia perder o eleitorado urbano, moderno, descolado. As lideranças evangélicas argumentavam que isso não seria um problema e prometiam trazer 40 milhões de votos para a candidata, caso a campanha se voltasse aos eleitores evangélicos.

Era tão difícil conciliar a dualidade entre os evangélicos de Marina e os liberais do PV que, até o meio da campanha, Marina cumpria duas agendas: uma política, com as tradicionais visitas a prefeitos e comícios, e outra religiosa, que incluía reuniões em igrejas com pastores. Marina sofria pressão dos evangélicos para que não visitasse terreiros de umbanda e candomblé. Na pré-campanha, ela aquiesceu. Em seguida, porém, a candidata foi convencida a gastar menos tempo com os eventos religiosos – e mais em busca de votos.

Ao longo da campanha, Marina não abdicou dos jejuns religiosos que costuma fazer pelo menos uma vez por mês. Alguns próceres do PV consideram os jejuns uma irresponsabilidade de Marina, em função de sua instável saúde – ainda jovem, ela foi contaminada por metais pesados e acometida por graves doenças, como malária e hepatite. Em entrevista a ÉPOCA, há um mês, ela se irritou diante de uma pergunta sobre esse tipo de crítica. “A minha vida espiritual é assim desde que me entendo por gente. Se um critério para ser do PV é abandonar minha vida espiritual, então já sei pelo que vou optar. Vivo a minha fé e visitar igrejas faz parte da minha fé. Sou missionária da Assembleia de Deus”, disse Marina.

O terceiro motivo para o desgaste entre Marina e o PV foi político. Apesar de ter rompido com o PT, Marina mantém uma relação ambígua com o ex-presidente Lula. Suas recusas em criticar Lula publicamente durante a campanha provocaram estremecimentos entre a candidata e Guilherme Leal. Leal é simpático ao PSDB e doou dinheiro para a campanha do tucano Geraldo Alckmin à Presidência, em 2006. Por outro lado, Marina contrariou aliados ex-petistas quando decidiu não usar uma campanha em vídeo preparado por seu marqueteiro cujo slogan era “Marina, a verdadeira sucessora de Lula”. “A campanha era maravilhosa, impactante, contava a trajetória de vida dos dois, a proximidade deles”, diz um aliado. Marina mantém sua decisão: “Acho pretensioso, poderia parecer pretensioso (o vídeo). Eu tenho muita consciência do meu tamanho”.

O resultado da eleição confirmou que Marina é, ao menos em votos, a maior terceira via que o país já teve desde a redemocratização. Confirmou, também, que não havia lugar para Marina no PV – e no PV para Marina. “Não houve nenhuma sinalização do PV de que os compromissos com ela serão cumpridos, então não há condições de que ela permaneça filiada”, afirma João Paulo Capobianco, coordenador da campanha de Marina. Ele a acompanhará na desfiliação nesta semana, ao lado de outras lideranças do PV. A saída do partido não significa que Marina desistiu do sonho de ser presidente. Ela pretende criar um partido para se candidatar novamente, em 2014.

SEGUNDA:ALEIDA GUEVARA NO CASA GRANDE

Aleida Guevara e as reformas em Cuba

Nesta segunda (27/6), às 20h, Aleida Guevara, filha de Che Guevara, pediatra e ativista cubana (http://www.centroche.co.cu), estará no Teatro Oi Casa Grande.

Em mais uma visita ao Brasil, vai falar do atual momento político de Cuba, com as reformas sendo implementadas no país, sob a liderança de Raúl Castro.

Esse evento abre as comemorações dos 45 anos do histórico Teatro Casa Grande que terá, a cada mês, sempre às 20h, uma palestra sobre temas do Brasil e de nossa inserção no mundo.

A entrada é franca!

Não tem inscrição prévia: é só chegar antes da hora do início e aproveitar para visitar, no local, a pequena livraria da Editora Expressão Popular (www.expressaopopular.com.br).

Estacionamento, PAGO, no Shopping Leblon.

O Teatro Oi Casa Grande (http://oicasagrande.oi.com.br/) fica na Rua Afrânio de Melo Franco, 290, Leblon.

Organização: Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFFhttp://amigosenff.org.br/site/), Instituto Casa Grande (ICGhttp://institutocasagrande.wordpress.com/) e jornal de Cultura e Política Algo a Dizer (www.algoadizer.com.br), que está publicando as transcrições das palestras na íntegra.

Esta será a quarta palestra do ciclo que teve o professor Emir Sader em março, João Pedro Stédile, dirigente do MST, em abril, e o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães em maio.

Os próximos debates, todos numa segunda-feira, já estão agendados (anotem!):

Dia 18 de julho, o reitor da UFRJ Aloísio Teixeira falará sobre “A Universidade do Brasil”;

Dia 22 de agosto, o analista político e escritor Wladimir Pomar falará sobre “Estratégias para a parceria com a China”;

Dia 12 de setembro, o ex-senador Saturnino Braga abordará o tema: “As utopias do século XXI”.

Um forte abraço e até lá

Kadu Machado

sábado, 25 de junho de 2011

SENADOR LINDBERGH COMENTA ENTREVISTA DO PRESIDENTE DO BC AO ESTADÃO

A entrevista concedida pelo presidente do Banco Central do Brasil no dia 17 de junho, ao jornal Estado de São Paulo, revela que as mais importantes instituições do Estado brasileiro estão coordenadas pelo Governo Central em torno de um projeto de desenvolvimento nacional.

1- O Brasil está na rota do desenvolvimento. Está crescendo com inflação sob controle, contas públicas organizadas, aumento da taxa de crescimento dos investimentos, redução do desemprego e criação de um mercado de consumo de massas. Mas, para haver a manutenção da rota do desenvolvimento, deve haver planejamento e coordenação, isto é, planejamento de políticas e coordenação de ações públicas.

2- A entrevista concedida pelo presidente do Banco Central do Brasil no dia 17/06 ao jornal Estado de São Paulo revela que as mais importantes instituições do Estado brasileiro estão coordenadas pelo Governo Central em torno de um projeto de desenvolvimento nacional.

3- Precisamente, a entrevista revela que o Banco Central está engajado na tarefa de manter a inflação sob controle sem que haja uma paralisia econômica. Disse o presidente Tombini:

”... o Banco Central reconhece que é possível trazer a inflação para a meta crescendo. Isso tem acontecido e acontecerá. Nós levaremos a inflação de volta para a meta de 4,5% em 2012, com a economia brasileira crescendo.”

Em outra passagem da sua esclarecedora entrevista, afirmou:

“A economia continua crescendo a uma taxa menor que a do ano passado, mas continua crescendo. E a inflação começa a dar sinais de convergência maior para o objetivo explicitado. O meu objetivo é trazer a inflação para a meta. É isso que norteia. O que eu digo é que há o reconhecimento de que é possível fazê-lo com a economia crescendo. Menos do que no ano passado, quando o PIB avançou mais de 7% e a demanda, mais de 10%. Isso gerou pressões (inflacionárias). Então, é preciso neste ano trazer o crescimento para um nível mais baixo...”

4- Se o Ministério da Fazenda toma ações em um sentido e o Banco Central age em sentido contrário isso não revela que o Banco Central é forte, mas sim que o Governo é fraco, que não consegue coordenar suas próprias instituições. Nos dias de hoje, o Banco Central age em sintonia com a Fazenda. Disse o presidente Tombini ao Estadão sobre as decisões tomadas pelo BC:

“Naturalmente, o ministro da Fazenda é ouvido...”

Disse mais:

“O BC é uma autarquia. Sou ministro de Estado. Além de presidente do Banco Central, faço parte do conjunto do ministério. Há um diálogo intenso nas questões, por exemplo, de regulação do Conselho Monetário Nacional. E há um diálogo sobre avaliação econômica.”

5- Foi importante para a sociedade saber, através da entrevista, que além de coordenação com a Fazenda, há também um comando central – e isto não retira a autonomia que todo órgão técnico do Estado deve ter. O Banco Central tem autonomia técnica; o BNDES e a Petrobras também têm. Mas, o presidente Tombini foi enfático e disse:

“A presidente dá o comando. E o comando dela tem sido muito claro para que as políticas do governo sejam adotadas e ajustadas visando a assegurar a estabilidade monetária e a inflação na meta. É isso que temos feito.”

6- Era uma distorção da prática e da teoria econômica pensar que só o Banco Central deveria ser responsável pelo controle da inflação. Dessa forma, o Banco Central ficava quase que de mãos atadas, tendo que utilizar a taxa de juros de forma bastante intensa para manter a estabilidade monetária. Contudo, se o Governo (e não somente o Banco Central) tem como objetivo manter a inflação sob controle, outros instrumentos vão ser utilizados e a taxa de juros será (sim) utilizada, mas será utilizada de forma menos intensa. Vejamos o que disse o presidente Tombini a respeito deste ponto:

“O BC não está sozinho. Temos uma estratégia de governo, de moderação do crédito e de ajustes fiscal e monetário. (...) O que o governo e o BC podem oferecer é uma política consistente, que leve sem ambiguidade a inflação para o centro da meta em 2012.”

7-Ademais, temos um Banco Central que não dá choques de juros na economia (mas, eleva os juros quando é necessário). Utiliza uma estratégia gradualista, moderada e responsável para conduzir a inflação para o centro da meta. O Banco central conduz a sua estratégia antiinflacionária de acordo com as condições econômicas e não de acordo com calendário gregoriano – buscando atingir o centro da meta em dezembro do ano corrente. Declarou ao Estadão o presidente do Banco Central:

“Nos três primeiros meses do ano, já tínhamos inflação de 2,44%. Para manter a meta de 4,5%, significaria uma inflação de 2% em nove meses, o que não é razoável. (...) Simplesmente não seria possível dizer que atingiríamos a meta de 4,5% em 2011. Então, comunicamos claramente que o centro da meta de 4,5% seria atingido em 2012.”

E mais a frente enfatizou:

“Estamos a 18 meses do fim de 2012, o plano de voo está traçado e será ajustado conforme o necessário para trazer a inflação ao centro da meta em 2012.”

8-Cabe ser enfatizado que o Banco Central, o mercado financeiro, o Ministério da Fazenda... enfim, há um consenso que a inflação está sob controle e que ao final do ano a inflação estará abaixo do limite superior de 6,5%. No regime metas de inflação brasileiro existem bandas (superior e inferior) que devem ser utilizadas exatamente nesses momentos. Bandas existem para absorver choques inflacionários – como este que ocorreu no início deste ano. Se o Banco Central não utilizasse as bandas, só perseguisse o centro da meta (de 4,5%), então teria que elevar bruscamente os juros e estagnar a economia em 2011, o que tiraria o País da rota de crescimento com desenvolvimento.

9- E um ponto ainda muito importante destacado na entrevista é a relação do Banco Central com o mercado financeiro. O Banco Central assume o papel de gestor de expectativas e de regulador atento do sistema financeiro, tal como deve ser o papel de qualquer ente público. Não se deixa conduzir por pressões privadas, mas busca orientar os movimentos dos agentes econômicos e financeiros para que todos contribuam com o desenvolvimento do País. Disse o presidente do Banco Central:

“O Banco Central não deixa o mercado ir. Nunca deixou, não está deixando e não deixará o mercado se autorregular”.

E quando perguntado:

“As projeções dos analistas estão mais próximas às do BC. Mudou o BC ou o mercado?”

Respondeu:

“O Banco Central tem um plano de voo definido para trazer a inflação de volta para meta. Em março, comunicamos que essa convergência para o centro da meta seria em 2012. É natural que, quando a inflação corrente está rodando em níveis mais altos, seja mais difícil convencer o mercado dessa estratégia. Mas, a partir do momento em que a inflação mensal começa a apontar níveis compatíveis com a meta de 4,5%, há mais oportunidades para a sociedade em geral, não só o mercado, entender a nossa estratégia e se convencer.”

O presidente do BC mostrou autonomia, firmeza, foco e comando na condução da política monetária e na reorientação das expectativas do mercado.

10- Afinal, qual é o Banco Central do Governo da Presidenta Dilma?

a) Não é um Banco Central que avalia que é aceitável manter a inflação sob controle com a economia estagnada – é um Banco Central que tem uma estratégia para manter a estabilidade monetária com crescimento econômico;

b) Não é um Banco Central que confunde autonomia técnica com isolamento dentro Governo – é um Banco Central que dialoga com outros ministérios e enfatiza o comando central da Presidenta;

c) Não é um Banco Central que dá choques de juros na economia - é um Banco Central moderado e que adota uma estratégica gradualista;

d) Não é um Banco Central que aceita passivamente pressões privadas – é um Banco Central que busca coordenar as expectativas para unir os agentes econômicos e financeiros em torno de um projeto de desenvolvimento com estabilidade monetária.

Senador Lindbergh Farias (PT-RJ)


sexta-feira, 24 de junho de 2011

DICA IMPERDÍVEL PARA SÁBADO



Morro de Alegria tem Zé da Velha, Silvério, Moacyr Luz e mais!



Por Eugênia Rodrigues
Neste sábado (25) haverá mais uma edição do Morro de Alegria, evento que acontece no Morro Santa Marta, em Botafogo. Haverá choro e samba.

O choro acontece no Bar do Seu Antônio, com alunos e professores moradores do local. Pela primeira vez eles recebem convidados especiais: a amada dupla Zé da Velha e Silvério Pontes. Horário: às 17 horas. O bar do Seu Antonio é o primeiro bar da subida. Grátis.

Já o samba rola na quadra. O Samba do Trabalhador, que entre outros tem Gabriel Cavalcante e Moacyr Luz, recebe como convidados Áurea Martins, Wanderley Monteiro e Roberta Espinosa. Este evento custa R$ 30, sendo R$ 10 para a comunidade.






Fonte: http://www.samba-choro.com.br/

O e-mail que recebi disse que haverá um samba de graça na Praça Cantão, mas não trazia maiores informações.

ENTREVISTA COM PRESIDENTE DO BNDES

Luciano Coutinho e os rumos da economia

Do Valor

Transição "difícil" vai demorar de 1,5 a 2 anos, diz Coutinho

Cristiano Romero | De Brasília
24/06/2011

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, prevê um período "difícil", com duração de um 1,5 a dois anos, para a economia brasileira, especialmente a indústria, que está pressionada por uma conjuntura internacional adversa. A Europa, acredita ele, flerta com o desastre e a economia americana, a maior do mundo, ainda patina em seu processo de recuperação.

Para se sair bem desse período de transição, o Brasil, defende Coutinho, precisa enfrentar os seguintes desafios: moderar o crescimento da economia; controlar as expectativas de inflação; não desarmar o ciclo de investimentos previsto; criar as condições para que o financiamento privado cresça; atrair capitais e ao mesmo tempo estimular o aumento da poupança doméstica; evitar "estragos profundos" na estrutura industrial, pressionada pelo próprio "sucesso" do país e pela conjuntura internacional.

"É um conjunto de desafios muito grandes", disse Coutinho nesta entrevista ao Valor. Na semana passada, ele participou do XV Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo, que tenta se firmar como principal foro de debate econômico das economias que integram os Brics. Lá, ouviu relatos bastante pessimistas sobre a crise nas economias periféricas da Europa.

Coutinho revelou que, durante o fórum, do qual participaram os presidentes da Rússia, Dmitri Medvedev, e da China, Hu Jintao, além do premiê espanhol, José Luis Zapatero, foi feita uma enquete sobre a probabilidade de "default" no continente. A maioria dos participantes (53%), entre empresários e executivos de grandes empresas, previu que, nos próximos dois anos, pode haver calote na dívida em até três países da região. O restante previu que isso ocorrerá em mais de três.

"Este é um sintoma do grande ceticismo que prevalece lá. A discussão é se a crise pega a Grécia, Irlanda e Portugal ou se pega esses três e a Espanha também, embora a Espanha esteja mais protegida", comentou o presidente do BNDES.

Coutinho informou que o governo brasileiro trabalha na elaboração de uma nova política industrial com um olhar nesse contexto, em que a indústria nacional perde competitividade em função de um menor crescimento dos países ricos, destino original das exportações brasileiras, e também da apreciação do real frente ao dólar. Um dos setores a serem beneficiados pela política é o de produção de bens de capital (máquinas e equipamentos). A ideia é ajudar os setores exportadores em geral.

O presidente do BNDES observou, no entanto, que o espaço fiscal para apoiar a indústria neste momento é reduzido. Disse também que não há espaço para medidas radicais de controle de capital, que possam depreciar a taxa de câmbio. "Na verdade, o raio de manobra não é grande e o governo tem que, dentro do espaço que possui, otimizar, fazer aquilo que possa ser o mais eficiente possível e mais consistente com nossos objetivos macroeconômicos", assinalou.

Depois da Rússia, Coutinho esteve no Japão, para debater, no JBIC (Japan Bank for International Cooperation), oportunidades de investimentos no Brasil.

Valor: Por que o governo prepara uma nova política industrial?

Luciano Coutinho: A política industrial anterior foi anunciada em maio de 2008, com um vento a favor, a economia mundial e as exportações crescendo, mas logo em seguida veio a crise internacional, que mudou completamente a agenda.

Valor: O que mudou?

Coutinho: A agenda passou a ser a de recuperação do investimento. Em 2009 e 2010, o objetivo foi expandir o crédito, suprindo a forte contração do crédito privado. Isso foi bem-sucedido. A conjuntura atual é totalmente inusitada.

Valor: Por quê?

Coutinho: O mundo desenvolvido está em recessão, o que fez com que os preços das nossas exportações sofressem com mercados deprimidos nos países desenvolvidos, e a recuperação mundial está acontecendo só nos países em desenvolvimento, especialmente na Ásia, com a China, mas também com a Índia e outras economias, e aqui na América Latina, com o Brasil, que teve crescimento bastante expressivo no ano passado [7,5%]. Esse é um contexto inusitado também porque as moedas-reserva - o dólar e o euro - estão competindo uma com a outra para ver quem se deprecia mais. O dólar, pela política de super liquidez. E o euro, com as dificuldades das economias da periferia europeia, também está sob pressão. Há uma única exceção.

Valor: Qual?

Coutinho: A Alemanha, que está numa situação confortável. É uma grande exportadora de bens de capital (máquinas e equipamentos). É a única das grandes economias desenvolvidas que está bem. Já é uma economia industrialmente competitiva, exporta bens de capital para a China e tem um câmbio favorável. Mas a situação da Europa como um todo é precária.

Valor: Por causa da Grécia?

Coutinho: Sim, a crise grega é muito preocupante. Há um ambiente na Europa de total ceticismo com relação à capacidade de a Grécia cumprir o programa de ajuste. Começa a se formar a opinião de que, para cumprir o programa do Fundo Monetário Internacional (FMI), a Grécia teria que reescalonar de forma bem mais profunda a dívida, e isso bateria nos bancos europeus, que detêm algo como € 200 bilhões em dívida grega, então, há resistência a fazer isso. Por outro lado, não há saída.

Valor: Não haveria uma alternativa?

Coutinho: Numa visão mais extrema, há quem acredite que a Grécia teria que sair do euro para poder depreciar a moeda e ter flexibilidade cambial. Lamento ter deixado de ser professor de Economia Internacional porque isso era algo que eu estava antevendo lá atrás...

Valor: O quê, exatamente?

Coutinho: Essas economias todas, na hora em que entraram no euro, o fizeram com taxa de câmbio muito apreciada. Isso transmitiu para as sociedades uma sensação ilusória de riqueza. Ao mesmo tempo, ao adotarem a moeda comum, desapareceu o componente de risco de câmbio que sempre está embutido nas taxas de juros locais. Com o euro, o risco de câmbio desapareceu e os juros, automaticamente, passaram a ser mais baixos. Aquelas economias, que, digamos assim, nunca tiveram um juro alemão, passaram a operar com um padrão de juros muito mais baixo. Combinou-se uma falsa sensação de riqueza com uma taxa de juros baixa.

Valor: Quais foram as consequências disso?

Coutinho: Isso levou a um ciclo muito pesado de endividamento familiar e das empresas, à formação de bolhas imobiliárias e a déficits externos elevadíssimos. Essa situação da Grécia, de Portugal, da Irlanda, um pouco da Espanha, é preocupante. A Europa está flertando com o desastre. E há resistência a fazer um ajuste mais profundo.

Valor: O problema central da economia mundial está, então, na Europa?

Coutinho: Nos Estados Unidos, a economia ainda patina. O [presidente Barack] Obama está debilitado, com baixa popularidade, e os republicanos estão se vingando, de forma injusta, porque eles é que fizeram as guerras e destruíram as contas fiscais. Agora, estão exigindo compromissos fiscais violentos. Além disso, estão brincando com o desastre ao chantagear o governo, dizendo que não aprovarão a elevação do teto da dívida. O governo Obama tem que corrigir isso até o dia 1º de agosto para não dar um calote na dívida. Nesse contexto, há um contraste com a China e com o resto das economias em desenvolvimento, que produziram e realizaram a recuperação mundial. O problema é que essa recuperação foi muito desequilibrada.

Valor: Por quê?

Coutinho: Porque os países em desenvolvimento puxaram o crescimento mundial num contexto de excesso de liquidez. A combinação das duas coisas provocou o aumento dos preços das commodities e, agora, os países em desenvolvimento têm que desacelerar para controlar a inflação. Mas essa desaceleração não pode ser forte demais porque, senão, o mundo vai para uma recessão. É o que o Brasil está tentando fazer, ou seja, moderar o ritmo de crescimento, mas sem pisar no freio porque seria ruim para o mundo inteiro.

Valor: Essa moderação pode durar quanto tempo?

Coutinho: Vamos passar por um período difícil nos próximos 1,5 a dois anos, até esse quadro mudar. Até termos uma crescimento mais equilibrado na economia mundial, nossa indústria estará sob pressão muito forte. Exportação prejudicada pelo fraco crescimento dos mercados de destino originais do Brasil, embora o país esteja agora tentando diversificar as exportações cada vez mais para economias em desenvolvimento; e, de outro lado, o próprio sucesso do Brasil apreciou a taxa de câmbio e a gente não tem muita margem para mexer nisso. É um período difícil. A política industrial tem que se voltar para fazer a travessia desse contexto.

Valor: O que o governo pretende com a nova política?

Coutinho: O que estamos fazendo é buscar reforçar a competitividade da indústria através de uma série de medidas.

Valor: Que medidas?

Coutinho: Infelizmente, não posso adiantar porque estamos ainda numa agenda de discussão.

Valor: O FMI concluiu que, além do efeito da política monetária expansionista dos países ricos, o Brasil sofre com o fato de ter uma conta de capital mais aberta que a dos países asiáticos. Isso ajuda a apreciar ainda mais o real. Não há como enfrentar esse problema?

Coutinho: Não há espaço para medidas radicais, para instalar um controle de capital violento, que deprecie o câmbio. Também não dá para fazer medidas de natureza fiscal muito fortes. Na verdade, o raio de manobra não é grande e o governo tem que, dentro do espaço que possui, numa discussão que está em curso, otimizar, fazer aquilo que possa ser o mais eficiente possível e mais consistente com nossos objetivos macroeconômicos. É uma discussão complexa. Devemos focar nos setores onde está havendo mais pressão.

Valor: Quais são?

Coutinho: O de bens de capital é um deles, mas não é o único. Os setores de "tradables" (produtos comercializáveis com o exterior) em geral.

Valor: São medidas de efeito imediato ou para melhorar a competitividade de longo prazo da indústria?

Coutinho: O problema [da competitividade] está colocado, já está acontecendo, então, as medidas têm que ser endereçadas para a conjuntura. Há, obviamente, medidas de médio prazo. Por exemplo, todo o reforço na questão da inovação tecnológica, que está sendo feito. Estamos conseguindo mudar um pouco o padrão de comportamento das estratégias econômicas do setor privado. Mas isso, de fato, é para o médio e o longo prazo.

Valor: O BNDES calcula que o investimento programado nos setores industrial, de infraestrutura e de construção civil deve totalizar R$ 1,6 trilhão entre 2011 e 2014. O cenário internacional adverso não ameaça o levantamento desses recursos?

Coutinho: Apesar da crise, a abundância de capitais continua. Nosso problema é exatamente não cair na tentação de depender exclusivamente de ingressos de capitais para apoiar o nosso esforço de investimento. Senão, vamos repetir o problema dos anos 70 e de outros momentos, em que todo o incremento da taxa de investimento foi financiado por poupança externa. Nós também precisamos fazer um esforço de poupança doméstica. Este é um ponto que eu tenho batido o tempo todo.

Valor: De que forma?

Coutinho: As medidas que adotamos há seis meses, para estimular o financiamento privado, se não estiverem funcionando, terão que ser reforçadas, principalmente no sentido de aumentar o estímulo à poupança privada. Aquela agenda é essencial. O Brasil tem um potencial de poupança financeira doméstica que está todo ancorado num estoque de dívida pública altamente líquida. Esse estoque de poupança pode migrar para papéis privados. Acredito que ainda temos chance de avançar nisso.

Valor: Como?

Coutinho: À medida que o trabalho do Banco Central começa a ser reconhecido - a discussão agora é quando a inflação converge para a meta de 4,5% -, na hora em que houver a percepção de que o governo não vai dar moleza, que vai fazer o que for necessário para derrubar a inflação. O segredo é não desmontar o ciclo de investimentos e não jogar para escanteio a possibilidade de esse desenvolvimento financeiro acontecer. Obviamente, para esse desenvolvimento acontecer com velocidade, a perspectiva de retomada de queda da taxa Selic tem que vir junto. Isso é algo, talvez, para mais adiante.

Valor: Quando?

Coutinho: Ainda temos que dar um pouco mais de tempo para que a expectativa de inflação cadente se consolide. Na hora em que o mercado antecipar lá na frente que a inflação pode cair de novo e que o BC poderá começar a pensar em diminuir os juros, esse movimento [de estímulo à poupança privada] pode ocorrer.

Valor: O mercado estima que o Produto Interno Bruto (PIB) crescerá abaixo de 4% este ano. Por outro lado, a expectativa de inflação para 2012 está piorando, o que pode obrigar o BC a estender o ciclo de aperto monetário. Isso pode derrubar novamente o crescimento abaixo de 4%. O senhor não teme que isso desmonte o ciclo de investimentos previsto?

Coutinho: Hoje, o empresariado pensa quatro, cinco anos à frente. Há uma certa compreensão de que, se a economia crescer um pouco menos em 2011 e um pouco mais no próximo ano, e que mesmo não tendo um crescimento espetacular em 2012, haja uma expectativa de que no segundo semestre de 2012 já vai dar para começar a fazer uma afrouxamento, com a economia mundial melhorando em 2013 e 2014, você tem aí uma expectativa de que o Brasil consegue sustentar um ritmo médio de crescimento nos próximos anos.

Valor: Crescimento de quanto?

Coutinho: Na média dos quatro anos, alguma coisa variando de 4% a 5,5%, pode ser um pouco mais ou um pouco menos, será suficiente para a sustentação do plano de investimentos. É claro que se, de repente, surgir uma perspectiva um pouco mais otimista, o crescimento médio pode ser mais alto. O relevante é que não está no radar uma expectativa de recessão no Brasil. O que há é uma expectativa de moderação do crescimento por um prazo ainda a discutir. Isso ajuda porque o investimento industrial tem um prazo médio de maturação de no mínimo 18 meses. Então, o empresário está olhando o mercado de 2013.